Um bebê do sexo masculino nasceu com quatro pernas, no dia 25 de março de 2010, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Do abdômen da criança se projetava uma pélvis atrofiada com membros inferiores completos. O menino foi submetido à cirurgia, no dia 30 de março, cinco dias após o nascimento, no próprio hospital, coordenada pelo chefe da cirurgia pediátrica do HGF, João Fortes, para corrigir o problema. Foram extraídos, no ato cirúrgico, os membros adicionais. O bebê segue na UTI neo-natal onde já está sendo amamentado.
A mãe de 25 anos, que prefere não ser identificada, já recebeu alta, mas permanece no hospital para dar assistência à criança. Ela ficou desolada quando viu seu filho pela primeira vez, pensando que ele teria que viver com aquela anomalia por toda a vida. A notícia só foi dada no dia seguinte ao nascimento, quando ela e o marido foram chamados para ver o menino.
No entanto, agora, a mãe se diz aliviada: "só Deus mesmo para salvar meu filho de uma cirurgia dessas aos cinco dias de nascido. Volto pra casa feliz e quero que ele tenha vida normal como qualquer outra criança".
Os médicos avaliaram que o melhor a ser feito era operar. O bebê, além da pélvis e pernas a mais, também apresentava uma má formação no intestino, que também foi corrigida na cirurgia de remoção dos membros.
A mãe, que já tem outro filho pequeno, afirmou que nunca usou nenhum tipo de droga, nem bebidas alcoólicas.
Raro
Esse é um caso raro de gêmeo parasita ou "fetus in fetu". O fenômeno se deve a um erro genético na fecundação do óvulo, que, ao se dividir em duas células, não teve a segmentação adequada, o que fez com que um embrião se colasse ao outro.
Em pesquisas feitas até agora, estima-se que existam, no mundo, apenas cerca de 100 casos semelhantes a este. Um deles aconteceu na Índia com a menina Lakshmi Fatima, em 2007, que nasceu com quatro braços e quatro pernas.
O fenômeno é considerado, hoje, uma das dez anomalias mais raras. Trata-se de um exacerbo do caso dos gêmeos siameses (xipófagos). Dois gêmeos não chegam a se separar completamente e ficam unidos por alguma parte do corpo.
Um deles cresce enquanto o outro atrofia e fica dependendo completamente do outro. A causa da não separação ainda é desconhecida.
Segundo informações da Assessoria de Comunicação do HGF, uma coletiva para a imprensa será agendada nos próximos dias, quando deverão ser divulgadas mais informações sobre o fato.
Erro da natureza
A médica geneticista Erlane Marques Ribeiro classifica o caso como "erro da natureza", ainda sem explicação. "O feto é gene do outro e, algumas vezes, aloja-se no interior", disse. Ela explica que o fenômeno se dá com crianças que deveriam ser gêmeas, mas por um erro genético uma delas não se desenvolve e as duas não se separam.
Erlane ressalta ainda que não se deve culpar a mãe ou pai da criança pela anomalia. "O caso não acontece porque a mãe usou alguma coisa durante a gravidez. Isso é um erro de geração", enfatizou. Segundo a médica, não é obrigatório que a irregularidade aconteça em outras gravidezes.
Ela garante que o gêmeo que se desenvolve sobrevive normalmente. "A cirurgia não afeta o funcionamento do seu organismo, afirmou.
A médica geneticista informou que mais três casos já foram registrados no Ceará, no Hospital Albert Sabin. Erlane alerta para a realização de pré-natal de qualidade por todas as mulheres, não para remediar, mas a fim de preparar a equipe médica para fazer a cirurgia. "Não temos como evitar esses casos, mas podemos tirar a surpresa. Além de evitar que o parto seja normal", salientou.
Registros
100 casos do fenômeno gêmeo parasita ou fetus in fetu foram documentados em todo o Mundo até agora. No Ceará, foram três casos registrados no Hospital Infantil Albert Sabin
LINA MOSCOSO
REPÓRTER
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