segunda-feira, 9 de maio de 2011

Novos barcos no Açude Orós


Iguatu. Moradores da comunidade de Barrocas, na bacia do Açude Orós, esperavam com aplausos, gritos e queima de fogos as novas embarcações que vão facilitar o trabalho dos pescadores: reduz o tempo de percurso e oferece maior segurança. A maioria dos pescadores da localidade ribeirinha de Barrocas pesca usando canoas. A embarcação pequena e rudimentar també é utilizada para o transporte de passageiros entre ilhas e outras comunidades. É preciso força e coragem para remar contra a onda e o vento na imensa bacia do reservatório Orós, o segundo maior do Ceará.

Para um grupo de 20 profissionais da Associação de Pescadores de Barrocas, o tempo do remo ficou para trás. "A conquista desses barcos a motor era um sonho, que agora se transformou em realidade. A nossa vida vai melhorar", disse o presidente da entidade, Evanilson Saraiva. Os barcos, popularmente conhecido por "rabetas", são uma das ações previstas no programa de Apoio à Cadeia Produtiva da Pesca Artesanal, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), Secretaria das Cidades e pelo Fundo de Combate à Pobreza (Fecop), do Governo do Estado.

De acordo com o projetista Leandro Lopes, o projeto prevê a aplicação de R$ 150 mil na compra de 20 barcos, construção de um galpão para beneficiamento do pescado e aquisição de uma mini fábrica de gelo, com capacidade para produzir mil quilos por dia. "As obras da unidade de beneficiamento já estão em fase de conclusão", frisou Lopes. O recurso do programa é aplicado a fundo perdido. Objetivo o desenvolvimento de comunidades carentes.

A aposentada Martina Ferreira mora em Barrocas há quase cinco décadas. "Cheguei logo depois da construção do Açude Orós", conta. O marido, pescador, veio do vizinho Estado da Paraíba em busca de melhoria das condições de vida. "Foram anos de muitas dificuldades, mas hoje aqui tudo está melhor, com energia, água nas casas e escola", compara.

Martina Ferreira estava na beira do Açude aguardando, ao lado de dezenas de moradores, a chegada dos barcos. Os pescadores vieram em procissão e foram recebidos com festa. "Tenho dois filhos pescadores e quando eles saem nas canoas fico com medo", disse. "Eles não podiam pescar longe porque cansam e aqui por perto nem sempre dá muito peixe".

Os barcos a motor vão facilitar o trabalho. "Aqui está todo mundo satisfeito", disse o pescador, Jodaci Ferreira da Costa, que há 40 anos vive da pesca artesanal nas águas do Orós. "Agora vai ser mais fácil, mais rápido e mais seguro", prevê o pescador Paulo da Silva, que há 32 anos trabalha no açude. "Vamos poder ir mais para longe atrás do peixe".

Primeira viagem

Os barcos foram feitos na outra margem do açude, na cidade de Orós, e cada um custou R$ 2.200,00. Desde a elaboração do projeto até o recebimento dos barcos, foram quatro anos de espera. A primeira viagem das embarcações em direção à localidade de Barrocas foi feita num clima de expectativa e alegria. O percurso durou quase duas horas.

Após a chegada, mulheres e filhos lotaram os barcos e, em meio a gritos e queima de fogos, deram um pequeno passeio no entorno da localidade. As famílias estavam em festa e o clima de satisfação era total. "A gente sonhava por esses barcos a motor porque vai permitir que os pescadores trabalhem com melhores condições", disse a dona de casa, Francisca Souza, casada com um pescador.

A festa realizada na comunidade de Barrocas lembrava a celebração de um novenário em louvor ao santo padroeiro. Todos estavam bem arrumados, vestidos com boas roupas e aguardando a chegada dos barcos. Esposas e filhos ansiosos pela vinda dos pais/maridos pescadores. "Aqui o clima é de alegria e muita satisfação", disse a aposentada Martina Ferreira. "É um benefício para todos". O pescador Luís Silva disse que já estava imaginando a saída na madrugada seguinte para pescar no barco novo. "Vai ser muito bom. Não vejo a hora chegar", completou.

Uma comitiva de vereadores também aguardava a vinda dos pescadores. "Esse projeto é importante para o crescimento da atividade de pesca", observou o presidente da Câmara Municipal de Iguatu, Ednaldo Lavor. "Os barcos a motor e outras ações vão ampliar a produção e a renda das famílias".


Satisfação

"A conquista desses barcos representa um sonho para todos nós da comunidade "

Evanilson Saraiva
Pres. da Associação dos Pescadores de Barrocas

"Estamos satisfeitos com as embarcações e o trabalho vai ser melhor, rápido e seguro"

José Oliveira
Pescador


MAIS INFORMAÇÕES

Associação de Pescadores de Barrocas - Bacia do Açude Orós
Iguatu - Região Centro-Sul
Fone: (88) 9914.2651


PEIXE EM CATIVEIRO

Comunidade aguarda outorga de água

Iguatu. Nem tudo é sonho entre os pescadores artesanais da localidade de Barrocas. Enquanto ocorre a expansão acelerada de criatórios de tilápia em gaiolas no entorno do Açude Orós, a comunidade aguarda há quase cinco anos a outorga da Agência Nacional de Águas (ANA) para a implantação de um projeto de piscicultura, de criação intensiva em tanques-redes.

O programa de desenvolvimento da Associação de Pescadores de Barrocas prevê um conjunto de ações: aquisição de barcos, construção de uma unidade de beneficiamento e instalação de uma fábrica de gelo, além da criação de tilápias em cativeiro. "Esse projeto é importante porque vai trazer o desenvolvimento da comunidade, ampliar a renda dos pescadores", observa Evanilson Saraiva, presidente da entidade.

A pesca artesanal é feita com a colocação de galões de malhas no Açude Orós para a pesca de tilápia. Instala-se a rede pela madrugada e a recolhe no fim de tarde. A quantidade de pescado é bem inferior |à possibilidade da produção de um projeto intensivo em gaiolas.

Os exemplos de sucesso dos projetos de piscicultura na bacia do Açude Orós se repetem em dezenas de comunidades ribeirinhas que também chegam agora ao Município de Quixelô. "Estamos sofrendo com a burocracia que emperra as nossas ações", lamentou Saraiva.

Os bancos oficiais na cidade de Iguatu não aprovam financiamento de projetos que operam com licença provisória, dificultando e atrasando a instalação de criatórios. O atraso na concessão da outorga de água já foi debatido em vários encontros.

A demora na liberação do documento enfrenta críticas do secretário de Agricultura do Município, Valdeci Ferreira. "Em média, as associações esperam cinco anos", disse. "Isso é um absurdo". Para a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Diniz, falta uma política pública de apoio ao setor que apresenta elevado potencial de crescimento. Em Barrocas, apesar da demora, os pescadores vivem a expectativa de implantação do projeto produtivo de piscicultura. Nesta semana, uma comitiva local, com representantes da Associação de Pescadores de Barrocas, Câmara Municipal, Prefeitura, Secretaria de Agricultura, Conselho Municipal de Desenvolvimento visita a gerência do Banco do Brasil da cidade de Orós para solicitar apoio para a liberação de recursos do Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), para a implantação do projeto de criação de tilápias em tanques-redes no reservatório.

A comunidade de Barrocas fica localizada na bacia do Açude Orós e a agência do Banco do Brasil daquele município vem nos últimos anos financiando projetos de piscicultura em Orós e em Quixeô. "Vamos solicitar o mesmo tratamento", disse Saraiva. "Não podemos mais esperar muito tempo porque alguns pescadores já não acreditam mais no projeto".

A comunidade de Barrocas era conhecida por Acampamento de Pedro Dedé (antigo proprietário), onde havia uma aglomeração de pescadores vindos da Paraíba em busca de oportunidade de trabalho no Açude Orós, que era o maior do Ceará e um dos maiores do Nordeste.

Mudanças

Os pescadores, alguns acompanhados de famílias, viviam precariamente em barracos, daí­ o nome acampamento. Com o passar do tempo, conseguiram autorização do antigo proprietário do lugar, Pedro Dedé, para construir casas de taipas. Durante vários anos, enfrentavam dificuldades, falta de infraestrutura, estrada, energia e água potável. O pescado, que era salgado, não era valorizado pelos compradores. A renda era pequena. Os pescadores dependiam dos atravessadores.

Quatro décadas após a chegada na bacia do Açude Orós, muitas coisas mudaram. Agora há escola, rede de energia, água tratada nas casas e a estrada oferece melhores condições de tráfego. O mercado está bem mais diversificado e com a chegada dos barcos a motor, os pescadores terão condições de aumentar a produção e a renda mensal. Pelo menos, é essa a expectativa.


Diário do Nordeste.
Repórter e Fotos Honório Barbosa

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