A cada ano, no período da Quaresma, o consumo de peixes, crustáceos e mariscos aumenta consideravelmente. A influência religiosa na alimentação determina essa demanda sazonal, dando margem à onda de aumento exagerado nos preços.
O plano de abastecimento de pescado tem sofrido alterações que agravaram a situação dominante. O Ceará chegou a constituir uma empresa de economia mista com atribuições de induzir a produção e de estimular o consumo do pescado, de modo especial, entre as camadas populares.
Esses dois objetivos não se materializaram por falta de interesse da parte do poder público na continuidade da atividade, resultando na extinção da Cepesca. Nas últimas décadas, a iniciativa não foi retomada, apesar das condições potenciais para diversificar a produção e de expandir a comercialização.
A seca devastadora de 1932 levou o Ministério de Viação e Obras Públicas, ocupado por José Américo de Almeida, a lançar as bases de um programa de criatório de peixes nos açudes públicos do semiárido nordestino, para suprir a carência generalizada de proteína de origem animal. O pescado teria essa finalidade de acabar com a fome crônica.
O Serviço de Pesca e Piscicultura do Dnocs concentrou no Nordeste os maiores especialistas em pesca, iniciando a tarefa estratégica de fornecer alimentação adequada aos contingentes afetados pelas estiagens. Paralelamente, os pesquisadores tiveram o cuidado de povoar alguns açudes públicos com espécies importadas de outras regiões.
A experiência, de tão notável, se transformou na maior escola de pesca e piscicultura da América Latina, qualificando recursos humanos imprescindíveis aos projetos de povoamento dos rios e dos lagos artificiais dos reservatórios das hidrelétricas, criatórios naturais de peixe.
A ideia, bem aceita e tecnicamente viável, se expandiu em escala desejada. Só não conseguiu, contudo, modificar a rotina alimentar do sertanejo depauperado, por haver se tornado produto de consumo das camadas urbanas interioranas situadas no entorno dos açudes. As mesas dos sertanejos carentes ficaram aquém do desejado.
Faltou ao Dnocs a estrutura de bases empresariais para garantir a produção, a distribuição e o consumo do pescado. Os Estados, por sua vez, fizeram experiências acanhadas, sem alcançar a dimensão exata de um mercado amplo, com o consumo garantido, desde que condicionado para tanto.
O Ceará, encravado em maior escala, na faixa de aridez do sertão, tem tudo para se transformar num polo pesqueiro por excelência. Para tanto, dispõe de água armazenada, tecnologia oriunda das instituições acadêmicas, recursos humanos qualificados e de um mercado consumidor potencial.
A partir de estímulos oferecidos pelo governo federal, a iniciativa privada foi capaz de consolidar a produção da tilápia em 60 açudes públicos, conseguindo 20 mil toneladas em 2011 e a possibilidade de 30 mil toneladas em 2012. A tilápia é comercializada em 57 municípios, a partir de três centros distribuidores: Nova Jaguaribara, Orós e Pentecostes.
Embora tenha registrado índices elevados de consumo, o preço da tilápia se transforma em fator de distanciamento das camadas desnutridas. Enquanto um quilo do pescado, em período normal, pode ser encontrado a R$ 8,50, na Semana Santa sua cotação pode chegar a R$ 10,00. O quilo do filé de tilápia, por sua vez, tornou-se proibitivo: R$ 30,00. Um alimento caro para um jejum forçado.
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