domingo, 8 de julho de 2012

Novo medicamento para Alzheimer com resultados nunca vistos


NE - Para quem não viu essa matéria, de uma das doenças que mais afeta apopulação idosa, trago-a novamente. Atrofia cerebral em doentes com Alzheimer.

Um estudo, publicado online esta semana no «The Journal of Neuroinflammation», pode significar um avanço muito importante no tratamento de uma doença que afecta cada vez mais pessoas. O estudo foca-se nos resultados obtidos num paciente de Alzheimer, com 81 anos, que mostrou progressos significativos e quasi imediatos após lhe ter sido administrado um tratamento revolucionário.
O factor de necrose tumoral alfa, TNF-α, é uma citocina cujo principal papel é a regulação das células imunes mas que está envolvida na apoptose (morte «programada») da célula e em inflamações, nomeadamente doenças inflamatórias articulares (DIA), como artrite reumatóide, artrite psoriática ou espondilite anquilosante. O TNF é um componente crítico do sistema imune cerebral que regula a transmissão de impulsos neuronais. Os autores do estudo consideraram que os elevados níveis de TNF-α presentes no líquido encefalorraquidiano (líquido cerebro-espinal) de doentes com Alzheimer interferiria com esta regulação e trataram o doente com um antagonista (que suprime a acção) do TNF.
No estudo, realizado por Edward Tobinick, director do Institute for Neurological Research e professor na UCLA, e Hyman Gross, do Departamento de Neurologia da Universidade da Califórnia do Sul em Los Angeles, o antagonista do TNF utilizado foi um medicamento já aprovado no tratamento de doenças imunes, o ETANERCEPT, comercializado com o nome ENBREL, uma proteína de fusão recombinante constituída pelo receptor P75 do TNF-α, ligado a uma parte de uma proteína humana (a fracção FC da gG1). Os cientistas mediram o desempenho do paciente em testes cognitivos antes e depois de uma injecção de etanercept. Os resultados foram dramáticos: antes do tratamento o doente não se conseguia sequer lembrar do nome do médico que o estava a tratar, do ano em que estava ou do estado onde morava. 
Cerca de dez minutos após a injecção de ETANERCEPT, o doente não só estava mais calmo e mais atento como se lembrava que morava na Califórnia, sabia o dia da semana e do mês e demonstrou melhorias significativas em testes cognitivos. Numa entrevista logo após o exame, a esposa do paciente afirmou que os resultados pareciam «uma história de ficção científica» acrescentando que o marido «não era a mesma pessoa. Eu percebi que ele estava mais esclarecido, mais organizado. Quase caímos da cadeira quando vimos o que aconteceu». O filho do paciente comentou que a reacção do pai logo após a injecção foi «a coisa mais memorável que já vi».

O artigo foi acompanhado por um extenso comentário dos editores do jornal, Sue Grif­fi­n e Robert Mrak, pioneiros na área de neuro-inflamação. Griffin anuncia no comentário que a sua universidade, University of Arkansas for Medical Sciences (UAMS) em Little Rock, conduziu testes com o novo tratamento em pacientes com vários graus de Alzheimer e em todos houve «uma melhoria continuada e marcada» com «resultados dramáticos e nunca vistos». No entanto, como notam alguns especialistas britânicos inquiridos sobre o tratamento, é necessário mais investigação para se confirmar a generalidade do sucesso da terapia. Rebecca Wood, da Alzheimer Research Trust, afirmou à BBC que «a pesquisa é promissora e inovadora, mas está na fase inicial. É preciso desenvolver mais trabalhos na área para concluir que o etanercept pode funcionar no tratamento de Alzheimer. Precisamos de investigar se o medicamento é seguro e eficaz num número maior de pacientes, além de monitorizar os seus efeitos a longo prazo». Wood alerta ainda para o facto de ser preciso verificar se o efeito do medicamento pode de facto diminuir os sintomas da doença.

«Os cientistas precisam de verificar se os benefícios não foram consequências apenas de um efeito placebo, estabelecer se são temporários e se a doença de facto é DESACELERADA pelo medicamento». Neil Hunt, da Alzheimer Society, concorda com a necessidade de realizar mais estudos. «É crucial que mais pesquisas sejam desenvolvidas antes de se chegar a qualquer conclusão sobre o TNF-α e o desenvolvimento da doença de Alzheimer».
A mesma reacção foi manifestada pela empresa que produz o etanercept, a Amgen, (empresa de que Tobinick possui acções, como declarou no artigo). A Amgen comunicou que «de momento não existem dados científicos suficientes que suportem a utilização de um inibidor de TNF como forma de tratar a doença de Alzheimer. A Amgen continuará a rever os dados disponíveis acerca de uso de Enbrel® (etanercept) e outros anti-inflamatórios para o tratamento da doença de Alzheimer». A utilização de antagonistas de TNF no tratamento de váris doenças, como as doenças inflamatórias articulares e potencialmente Alzheimer, foi recentemente eleita como uma das 10 mais notícias de saúde em 2007 pela Harvard Health Letter. De igual forma, a Neurotechnology Industry Organization colocou no top10 das tendências em neurociências no ano de 2007 os novos alvos de tratamento revelados por neuroimunologia, em que se inclui o excesso de TNF. Também a Dana Alliance for Brain Initiatives, uma organização não lucrativa que integra 200 neurocientistas destacados, incluindo 10 prémios Nobel, escolheu este estudo para discussão no seu relatório de progresso na investigaçao do cerébro. 
Apesar de estes resultados serem de facto muito entusiasmantes, como notam os autores no artigo, nem todos os sintomas da doença são reversíveis, especialmente em estádios avançados em que há lesões extensas a nível cerebral.
Posted by Palmira F. da Silva at 13:02 
Labels: ciência, Medicina ( 2011 )

 Via Blog do Paim

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