De repente, surge o dia de dar respostas a perguntas tão
temidas pela maioria dos pais. “Como eu nasci? Por que o meu é diferente do
dele? O que é transar?”. De repente, percebe-se que estar diante daqueles
olhinhos curiosos, mesmo sem respostas na ponta da língua, é o menor dos medos,
frente aos riscos a que os filhos ficam expostos quando passam a entender as
delícias de estar conectado com o resto do mundo, a qualquer momento. Falar de
sexo com crianças e adolescentes, em tempos de Internet e redes sociais, ganha
uma dose extra de preocupação por parte dos pais.
Na casa do casal Júlia Tereza Linhares, 47, e Vicente
Vasconcelos, 45, fala-se de sexo “numa boa, sem neuras”. A dona de casa diz que
os filhos, Débora, de 16 anos, Daniel, de 19, e Diego, de 24, foram crescendo
“sem essa de perguntas proibidas”. “Sempre expliquei tudo que eles perguntavam.
Quando eram pequenininhos, dizia com mais jeito, poupando eles dos detalhes.
Depois que cresceram, fomos explicando pelos próprios exemplos do dia a dia”,
relata Júlia, entre gargalhadas e esforço para conter o jeito extrovertido.
“Às vezes, ela começa a falar e eu fico com vergonha, peço
para ela parar. Mas acho legal que ela seja assim, apesar de algumas coisas
ainda preferir conversar com minhas amigas”, confessa a filha Débora.
Segundo especialistas, os princípios que norteiam a
abordagem do assunto se mantêm, ao longo dos anos, com ou sem Internet. “Antes
de mais nada, é preciso estar seguro, agir de forma natural, com
tranquilidade”, declara a psicóloga Karynne Melo. “Uma dose de descontração cai
bem, é verdade, mas é essencial que exista respeito, desde os questionamentos
iniciais (e desconcertantes para a maioria dos pais), ainda nos primeiros anos
de vida”, completa a psicopedagoga Raquel Tavares. “Não devemos negar
informações e as respostas devem ser simples”, reforça a ginecologista Zenilda
Bruno.
Júlia admite que a Internet aumenta a quantidade de
orientações aos filhos porque cresce também os riscos e os medos dela e do
marido. Mesmo assim, ela assegura que, na casa deles, não existe proibição em
torno do uso do computador nem da participação “dos meninos” em redes sociais,
já que a liberdade deles é vigiada por ela e pelo marido. “Eles sabem os
cuidados que devem tomar, a gente fala sobre isso o tempo todo para eles”,
declara Júlia.
A titular da Delegacia de Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes (Dceca), Ivana Timbó, orienta os pais a prestarem atenção aos
amigos, aos lugares por onde os filhos andam e ao uso controlado do computador.
“Eu sei que é difícil disciplinar o computador, mas é indispensável que isso
ocorra. Os aliciadores se aproveitam de brechas no acompanhamento dos filhos
pelos pais para cometer os crimes”. Segundo ela, os pais têm estado mais
atentos aos perigos e procuram a delegacia com mais frequência. “Procuram,
principalmente, para informar-se”, diz.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A maioria dos pais tem dificuldades de falar sobre sexo. A
exposição que a Internet proporciona aos filhos traz mais um problema. É
preciso estar por perto para preservar a intimidade e a integridade dos filhos.
SERVIÇO
Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do
Adolescente (Dceca)
Telefone: (085) 3101 2044
Saiba mais
A psicóloga Karynne Melo diz que, hoje, os jovens são
sujeitos da tecnologia e que a virtualidade é um espaço do risco e da
exposição. Assim, conforme ela explica, os pais devem acabar com a ilusão de
que os filhos ficarão isentos dessa realidade. “Eles sabem de todas as
possibilidades melhor até que os próprios pais. Sabem utilizar todas as
ferramentas, sabem usar webcam como ninguém. Se são proibidos em casa, usam no
colégio, na casa do amigo. O essencial nesse processo é a prevenção, os pais
precisam estar atentos e por perto o tempo todo”, adverte Karynne.
A sexóloga Zenilce Bruno diz que a educação pelo exemplo é a
melhor de todas. Ela esclarece que mostrar problemas pelo próprio dia a dia é
muito positivo. “A mídia com os acontecimentos da atualidade pode nos ajudar a
iniciar uma discussão e a desenvolver idéias sobre questões relevantes à
realidade da familia e da sociedade vigente”.
Zenilce acrescenta que, se as familias não conseguem ter
esse tipo de conversa, é necessário delegar a profissionais ou outras pessoas
esse papel, como uma tia ou amiga da família.
O povo online
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