Realizadas no Cariri cirurgias inéditas de implante de
estimulador do nervo vago (VNS), para pacientes com crises epilepsia de difícil
controle. As cirurgias aconteceram no último dia 3 e 24 de abril, com pacientes
da própria região que decidiram se submeter ao tratamento inovador, por serem
as primeiras do gênero no Nordeste e as únicas no Interior do Estado do Ceará.
O implante do aparelho foi realizado no Hospital São Vicente
de Paulo, em Barbalha, pelo médico neurologista Cícero Job Maciel. A luta agora
é para que a cirurgia, considerada de alto custo, seja custeada pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), conforme o médico.
Ele pretende implementar no Cariri um centro de referência
no tratamento da epilepsia nos próximos anos. Mesmo não sendo um procedimento
novo no Brasil, que há cerca de dez anos já realiza as cirurgias, o VNS é
implantado desde 1997 nos Estados Unidos, de onde o Brasil importa esses
pequenos aparelhos que mais parecem com um chip minúsculo, feito com material
siliconado, e que passa até despercebido pelo paciente.
Bons resultados
Os efeitos positivos do tratamento chegam a até 70% de
reduções das crises, conforme análise com alguns grupos avaliados. Segundo o
médico, a primeira paciente a realizar o procedimento é uma auxiliar de
enfermagem da cidade de Juazeiro do Norte, de 25 anos, que sofria crises
sucessivas. "No momento em que fazia os exames finais para realizar o
implante, ela chegou a passar por duas no consultório", diz Cícero Job.
Ele comemora o resultado do acompanhamento com a paciente,
que em oito dias não teve crises. "É um ganho importante, sobretudo para a
qualidade de vida das pessoas", ressalta.
Sintomas
A epilepsia, conforme o médico, causa uma alteração no ritmo
de funcionamento do cérebro, por algum tipo de estímulo externo, como uma
cisticercose, ou um outro parasita, uma noite mal dormida por excesso de café,
stress, mas o grande peso é herança familiar, a hereditariedade. A estimativa
de pessoas no mundo com o problema chega a ser de 1% a 2%, isso em países mais
avançados.
No Brasil, de acordo com Cícero Job, é mais preocupante,
atingindo até 4% da população. Pelo menos 20% dessas pessoas tem epilepsia de
difícil controle. Mas, apenas uma parte poderá receber o aparelho. Um dos
aspectos positivos relacionados ao implante é a cirurgia relativamente simples
e menos invasiva.
O VNS, conforme Cícero Job, tem um trajeto na região do
pescoço onde é implantado dois eletrodos, que estimulam o nervo vago. O
tratamento veio depois de uma descoberta de que, com o estímulo, ocorre a
liberação de várias substâncias, dentre elas a serotonina e a noradrenalina. Em
consequência disso, há a redução das crises.
Custo
O investimento para esse tipo de cirurgia é de R$ 50 mil a
R$ 100 mil. Essa realidade poderá estar distante para grande parte das pessoas
que sofrem com as crises, mas a própria direção do Hospital São Vicente já
disponibilizou leitos de UTI e estrutura necessária para a efetivação desse
serviço, incluindo no tratamento de crianças. "Infelizmente, se esbarra na
questão política, que ainda não ter força suficiente para trazer a cirurgia.
Muitas pessoas seriam beneficiadas", lamenta.
Para Cícero Job, pode até não haver tanto a redução na
quantidade das crises, mas a intensidade delas tem uma queda significativa.
"Relativamente, na medida em que a gente vai aumentando o estímulo,
diminuem as crises", constata.
Mesmo com os altos custos, ele afirma que em menos de dois
anos esse tratamento poderá compensar em relação à quantidade de medicamentos
que o paciente toma. A auxiliar de enfermagem estava sendo medicada com quatro
tipos de remédios.
O segundo paciente a se submeter ao tratamento, de 26 anos,
está em avaliação. Mesmo após uma cirurgia para a retirada de um tumor, as
crises não cessaram e veio a alternativa do implante. A juazeirense desde a
infância convivia com as crises, de difícil controle. Mesmo com os
medicamentos, não estava conseguindo ter uma melhora do quadro. Uma pequena
quantidade de estímulos do aparelho estava sendo liberada pelo médico, desde o
último dia 3, data da cirurgia, e com bons resultados. Agora, a cada quinzena
esse trabalho será feito de forma mais intensa.
Outras intervenções
Mas há outras cirurgias voltadas para a epilepsia. Pelos
menos umas oito a nove para o tratamento. A mais utilizada no Brasil é a
retirada do lobo temporal, que não precisa inserção de aparelho. "A gente
encontra o foco da crise nesse local, e retira o hipocampo", explica.
Essa é a cirurgia mais comum para os casos de epilepsia, e
de baixo custo, mas é a mais agressiva e o paciente está exposto a riscos
maiores, podendo ter problemas de fala, por exemplo. "Mas, quando é bem
indicada, os resultados são muito bons e o paciente pode ter cura", diz.
Para o paciente realizar uma cirurgia de implante do VNS,
deve suportar uma anestesia geral, ter crises de difícil controle e vários
focos de origem das crises no cérebro. Segundo Job, o estimulador nesse caso
passa a ser bem indicado.
Mais informações
Cícero Job (neurologista)
Clínica Med Sono
Rua Santa Rosa, 609
Centro - Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 3512.3468
Elizângela Santos
Fonte: Diário do Nordeste
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