A chuva deste início de ano traz esperança ao povo nordestino que sofre com a estiagem, mas também preocupação, sobretudo para os órgãos de saúde, pois aumenta a possibilidade de proliferação do Aedes aegypti - mosquito transmissor da dengue. A espécie se reproduz preferencialmente em ambientes com água parada, seja ela limpa ou suja, embora também possa se adaptar a outros ambientes.
De 2003 a 2013, o Ceará registrou 296.867 casos da doença, o que representa uma média de 29.687 pessoas infectadas por ano e 81 por dia. Os anos de 2008, 2011 e 2012 foram os com maior número de casos: 44.244, 56.714 e 51.701, respectivamente. Embora haja registro de dengue durante todo o ano, os meses de fevereiro a maio, que envolvem a quadra chuvosa, concentram o maior número de casos. No ano passado, 24.765 foram confirmados em 163 dos 184 municípios cearenses (88%). Desse total, 8.748 concentraram-se na Capital (35%).
Já os óbitos dos últimos dez anos somam 413, sendo 64% (264) de dengue por complicação e 36% (149) de dengue hemorrágica. De 2012 para 2013, houve redução de 52% do número de casos, que passaram de 51.701, em 2012, para 24.765 no ano passado. Apesar disso, houve crescimento de 36% no número de mortes. Os óbitos saltaram de 44 (2012) para 60 (2013). Em 2013 predominou, com 78%, os óbitos de dengue por complicação. No ano passado, os vírus circulantes foram do tipo 1 e 4. Os dados são da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Cuidados
Para evitar a proliferação do Aedes aegypti é preciso estar atento a alguns cuidados: não deixar água parada em pneus fora de uso e na calha, as vasilhas que ficam abaixo dos vasos de plantas não podem ter água (o ideal é usar areia), garrafas e recipientes semelhantes devem ser armazenados em locais cobertos, de cabeça para baixo, não descartar lixo em terrenos baldios e manter a lata de lixo bem fechada.
Cuidados que não vêm sendo tomados próximo à casa da técnica de enfermagem Meire Silvestre, 38, moradora do bairro Jóquei Clube. Ela reclama que há meses tem de conviver com o matagal e o lixo, muitas vezes deixado pelos próprios moradores, em um terreno baldio que dá para o quintal de sua casa. A sua preocupação é porque o espaço serve de foco do mosquito da dengue. A auxiliar de enfermagem tem uma irmã que já teve dengue três vezes. Inconformada com a situação, acionou, diversas vezes, a Secretaria Executiva Regional (SER) III, que não teria tomado providência. "Eles dizem que vão mandar um fiscal, mas ele nunca apareceu por aqui", denuncia.
Em nota, a SER III afirma que enviará um fiscal ao local hoje para verificar o tipo de terreno, se é privado ou não. Caso seja privado, explica que a Regional irá notificar o proprietário para que seja feita uma limpeza o quantos antes, pois, neste caso, o órgão não tem como realizar o serviço sem autorização do dono. Acrescenta, ainda, que agentes de endemias realizam, diariamente, um trabalho passando em cada casa alertando sobre os riscos e cuidados com a dengue.
Prevenção
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que, durante todo o ano passado, foi executado o Plano de Contingência e Controle de Endemias de Dengue, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. O plano inclui a vigilância e controle do Aedes aegypti, comunicação e mobilização com a sociedade, vigilância epidemiológica e serviços públicos de assistência ao paciente. Informa, ainda, que as mesmas diretrizes foram pautadas em 2014, já em execução.
No que diz respeito à chuva, algumas ações foram pensadas: nebulização especial durante a madrugada e, principalmente, nos locais de grande fluxo de pessoas, bloqueio dos casos da dengue com borrifação especial no quarteirão da ocorrência, visitas domiciliares aos imóveis com atenção especial aos locais com infestação e ações educativas.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para obter dados do plano de ações de combate à dengue no Estado, mas as ligações não foram atendidas, e os e-mails não foram respondidos.
Descoberta de variante do vírus preocupa
Neste ano, a preocupação é com o surgimento de um novo fator: a descoberta de mais uma variante do vírus da dengue, a partir de análises feitas em amostras de sangue colhidas durante uma epidemia da doença em 2007, na Malásia. O tipo 5 da doença pode tornar ainda mais difícil o desenvolvimento de uma vacina contra a dengue.
Victor Emanuel Pessoa Martins, professor da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), comenta que, por mais distante geograficamente que a Malásia esteja do Brasil, o tráfego de pessoas entre os países (principalmente via aérea) reduziu quaisquer distâncias que separem os países. "Neste caso, a população estaria suscetível à nova variante do vírus da dengue", afirma. O especialista complementa que se pode esperar, inclusive, o aumento do número das formas graves da doença.
Risco
"Qualquer nova variante de vírus que circule em uma área previamente isenta de sua presença oferecerá riscos para a população exposta, tendo em vista que o sistema imunológico dos indivíduos desta população ainda não possui o repertório de defesa (anticorpos) preparado para combatê-la", frisa.
O especialista esclarece que o surgimento da variante do vírus é resultado dos processos de evolução observados ao longo do tempo, e que podem ser favorecidos pela circulação simultânea de mais de uma variante desses vírus em uma mesma área. Já com relação aos vetores, estes eventualmente podem sofrer alterações na sua capacidade de transmitir os novos vírus.
Fonte: Diário do Nordeste
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