Juazeiro do Norte. Com 20 dias de
estação chuvosa em todas as regiões do Estado, o volume das precipitações ainda
é insuficiente para que os reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh) apresentem mudanças em relação ao
volume de água já armazenado.
Os últimos levantamentos
realizados pela Companhia demonstram que nas 12 bacias hidrográficas do Ceará o
volume de armazenamento permanece em 29,8% da capacidade total de reserva, o
equivalente a cerca de 5,5 bilhões de metros cúbicos de água, mesmo índice
registrado no período que antecedeu o início das precipitações. Duas bacias
registram situações de maior gravidade, a Bacia Hidrográfica do Curu e Bacia
Hidrográfica dos Sertões de Crateús, que por hora acumulam apenas 7% e 3% de
sua capacidade total, respectivamente.
Embora as precipitações ocorridas
até o momento não tenham sido suficientes para recarregar os reservatórios
monitorados pela Companhia, a avaliação é de que as chuvas já registradas têm
ocasionado situações que beneficiam a população cearense como a redução da
evaporação das águas de reservatórios e mananciais, além da recarga de
cisternas e de poços profundos, por exemplo.
Vórtice
Segundo a Fundação Cearense de
Meteorologia (Funceme), as chuvas registradas no mês são provocadas por um
sistema meteorológico conhecido como Vórtice Ciclônico de Altos Níveis. Esse
tipo de sistema normalmente atua na pré-estação chuvosa (dezembro e janeiro),
mas persiste neste mês, causando boas chuvas no sul do Estado. No entanto, as
chuvas provocadas por este Vórtice Ciclônico estão perdendo intensidade até o
fim dessa semana.
Em janeiro, a Funceme apresentou
prognóstico da quadra chuvosa deste ano, apontando maior probabilidade para que
o acumulado de chuvas no Ceará, em fevereiro, março e abril, ficar abaixo da
média histórica. A Fundação explica, porém, que um ano com chuvas abaixo da
média não significa ser um ano sem precipitações. Diz ainda que embora tenha
havido chuvas com maior frequência na região do Cariri, nas outras sete
macrorregiões do Ceará há déficit de precipitações.
Além disso, conforme avalia, para
que os reservatórios pudessem ter captado maior volume de água as precipitações
deveriam ter sido mais intensas e constantes, além de espalhadas nas demais
regiões, garantindo, desta forma, maior segurança hídrica ao Ceará. Atualmente,
o Estado ainda apresenta níveis críticos na maioria dos reservatórios
monitorados pela Cogerh, efeito negativo de dois anos de estiagem severa.
Hoje pela manhã técnicos da Funceme
participam de uma reunião climática em Natal, onde serão apresentadas as
condições termodinâmicas dos oceanos e da atmosfera. O órgão irá considerar os
modelos atmosféricos apresentados nessa reunião para emitir um segundo
prognóstico em relação à quadra invernosa deste ano.
Este novo prognóstico mostrará as
probabilidades de como ficará o acumulado de chuvas nos meses de março, abril e
maio. O novo documento deverá ser divulgado amanhã, ou, no mais tardar, na
segunda-feira.
Na madrugada de ontem voltou a
chover forte na região do Cariri . Em Ipaumirim, casas ficaram alagadas por
algumas horas, devido à intensidade da chuva que fez com que muitos esgotos
retornassem para dentro das residências. As chuvas também foram responsáveis
pela queda de um muro de arrimo de uma construção em andamento nas imediações
da ladeira que dá acesso ao bairro Alto dos Bandeirantes, próximo ao Centro da
cidade. Não houve registro de morte ou de feridos.
Estradas vicinais
Na zona rural do município as
precipitações fizeram crescer o volume de água nos reservatórios que se
encontravam com carga hídrica insuficiente para atender a demanda. O açude
Grande, no Serrote, tomou boa carga de água conforme informou o secretário de
Infraestrutura do município, Jairton Jorge Pereira, que visitou na manhã de
ontem algumas comunidades da zona rural de Ipaumirim.
Segundo ele, as estradas
vicinais, que haviam sido recuperadas recentemente, apresentam dificuldades de
tráfego de veículos. As regiões de Bananeira, Serrote e Sítio Zé Vieira são as
mais afetadas. No entanto, mesmo com a dificuldade de locomoção, o transporte
escolar foi mantido em todas as localidades como forma de garantir a presença
do alunado nas unidades de ensino. Na localidade de Bananeira, um pequeno açude
construído para garantir a manutenção de água para os animais chegou a
transbordar. Há riscos da parede do reservatório não suportar o volume de águas
se voltar a chover no município.
As chuvas também causaram
alagamentos em ruas da cidade de Crato, onde foram registrados 107mm de
precipitações. Nos arredores da agência dos Correios o entupimento das bocas de
lobo voltaram a ocasionar acúmulo das águas pluviais. O canal do Granjeiro
também apresentou grande volume de água. A Av. José Alves de Figueiredo ficou
com lama pela manhã.
Canindé instala "Comitê de
Crise"
Canindé Diante da possibilidade
de um inverno irregular no Ceará e que não aconteçam chuvas suficientes para
recargas dos açudes neste município, foi criado ontem o Comitê de Crise que
contará com a participação do prefeito Celso Crisóstomo, presidente do Serviço
Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Nelson Bandeira, e demais autoridades
municipais.
Para que as decisões possam ser
tomadas de imediato, o prefeito assinou documento , decretando estado de
calamidade pública no município com vigência de 90 dias. Em reunião realizada
no gabinete do prefeito na manhã de segunda-feira, um plano de ações foi
definido para o trabalho, que será feito de forma conjunta. As primeiras
medidas adotadas pelo Comitê entraram em ação ontem.
Sete poços profundos e três
cacimbões começaram a ser interligados na rede de distribuição de água da
cidade, para atender 16 mil ligações, num total de 47.380 habitantes.
"Todas essas reservas hídricas, irão garantir 64 mil litros de água por
hora. Essas medidas visam fortalecer a demanda hídrica da cidade'', disse Celso
Crisóstomo.
Segundo o chefe do Executivo,
outra medida é o rigor na fiscalização das construções. "Não será
permitido construir com água do Saae. Os lava jatos que não tiverem
abastecimentos próprios serão desativados'', avisa o prefeito.
Celso explicou que o decreto de
calamidade pública é para agilizar a compra de bombas para instalação dos poços
com preços do Departamento Nacional Contra as Secas, Cagece e Sohidra, isso sem
o processo da licitação.
"Na administração pública
enfrentamos a burocracia, por isso tomamos medidas rápidas para encontramos
água de qualidade para atender a nossa população'', frisa o chefe do Executivo.
"Decretamos estado de
calamidade pública no município, não para criar terror, mas por estarmos
enfrentando uma seca prolongada, onde verificamos critérios agravantes''.
O prefeito lembrou ainda que os
dois açudes estão em cota mínima. O Escuridão tem 250 mil metros cúbicos, e o
São Matheus, 270 mil metros cúbicos. Mesmo assim, este último será reativado.
Para isso, um flutuante vai ser instalado para bombear água até a estação de
tratamento do Saae. "Os dois juntos garantem água até o dia 10 ou 15 de
março, mas com a interligação dos poços iremos garantir o abastecimento da
cidade. A vida quer dar a gente coragem e temos que ter para resolvermos os
problemas'', salienta Celso.
Em relação ao abastecimento dos
carros-pipas, a água chegará às famílias da zona rural, vinda dos açude do
Rato, em Itapebussu, e Edson Queiroz, em Santa-Quitéria, além de um poço
perfurado na Fazenda Juá.
O prefeito de Canindé criticou os
meios de comunicação da cidade pelo "terrorismo" causado nas
informações em relação à situação de água na cidade. "O grau de abalo da
população, da-se mais pela ação dos meios de comunicação de Canindé. Não vai
faltar água".
O gestor municipal anunciou
também uma medida a longo prazo para resolver a questão do abastecimento da
cidade. "Nós vamos ganhar um adutora permanente de General Sampaio até
Canindé num percurso de 34km". A obra vai custar R$ 20,2 milhões, e deverá
ser feita em prazo de 120 dias, conforme projeto inicial.
Roberto Crispim (Colaborador)
Diário do Nordeste
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