Iguatu Chuvas localizadas e veranico ocorrido na segunda
quinzena de fevereiro e nos três primeiros dias de março afetaram no sertão do
Ceará o cultivo das tradicionais culturas de sequeiro (milho, feijão, mandioca
e arroz). A situação é considerada preocupante e as regiões Sertão Central,
Vale do Jaguaribe e Inhamuns são as mais castigadas com baixo índice de
pluviometria e de reduzido plantio em torno de 10% das áreas agricultáveis.
Partes das regiões do Cariri e do Centro-Sul são as mais
favoráveis no Estado. Nas demais, o plantio de culturas de sequeiro (aquele que
depende exclusivamente das chuvas) é localizado e na média inferior a 15%.
"A situação é preocupante", disse o diretor técnico da Ematerce,
Walmir Severo. "O plantio tem sido localizado e em alguns municípios os
agricultores ainda preparam o solo", apontou.
Em Barro, a maior precipitação ocorreu no distrito de
Brejinho, onde pequenos reservatórios aumentaram o volume hídrico.
No próximo dia 15, a Ematerce vai fechar o relatório parcial
com informações de todo o Estado sobre a produção agrícola. "A nossa maior
preocupação é com a recarga de água nos reservatórios", disse Walmir
Severo. "Todos estão rezando para que ocorra pancada de água que
possibilite elevar o nível dos açudes".
As áreas mais críticas são o Sertão Central, Vale do
Jaguaribe, Inhamuns e Sertões de Crateús. Em Quixeramobim, por exemplo, o
plantio ainda não chegou a 5%, de acordo com levantamento do escritório local
da Ematerce. "As chuvas são irregulares e reduzidas", disse José
Tarcísio do Rego, gerente local do escritório da Ematerce. De janeiro até
ontem, havia chovido apenas 115mm em todo o município.
Outros municípios do Sertão Central - Milhã, Solonópole,
Piquet Carneiro, Senador Pompeu - e a área conhecida por Sertões de Canindé
estão muito afetadas pela irregularidade das chuvas. "Agora que os
agricultores estão iniciando o plantio em algumas áreas", disse Sebastião
Tavares Leite, gerente local da Ematerce.
Em Jaguaribara e Jaguaretama o quadro é desolador.
"Praticamente não houve plantio", observou o gerente local da
Ematerce, Sebastião Guedes Nunes. "Em Jaguaribe, o cultivo é inferior a
10%". Os agricultores ainda esperam pelas chuvas. No período de 20 de
fevereiro a 5 de março não houve registro de pluviometria na região. No
município de Tauá, nos Inhamuns, estima-se uma área de cultivo em torno de 40%.
"O plantio está sendo retomado, depois da estiagem das duas últimas
semanas de fevereiro. As chuvas têm sido poucas e localizadas", disse José
Veríssimo de Souza Filho, gerente do escritório da Ematerce.
Na região de Crateús, o quadro tornou-se favorável nos
últimos quatro dias, depois que fortes chuvas banharam as áreas agricultáveis.
A área mais beneficiada é o conhecido pé de serra, onde 90% do plantio já foram
concluídos. No sertão, a situação é adversa. A escassez de água preocupa os
criadores, principal atividade econômica.
Mesmo nas regiões mais favoráveis para o cultivo agrícola,
Centro-Sul e Cariri, o veranico (período de estiagem) ocorrido entre 16 de
fevereiro e 3 de março contribuiu para atrasar o cultivo dos grãos. "Os
produtores voltaram ao campo e estão plantando", disse o gerente regional
da Ematerce, em Iguatu, Joaquim Virgolino Oliveira Neto. "A maioria estava
desestimulada".
Na região Centro-Sul, estima-se que 40% das áreas
agricultáveis já foram cultivadas. "Até o fim desta semana teremos um
quadro mais próximo da realidade, pois os técnicos estão em campo fazendo o
levantamento das áreas de cultivo", disse o gerente local da Ematerce,
Erivaldo Barbosa. "Neste ano, em relação ao ano passado, as chuvas têm
sido mais favoráveis".
Municípios localizados no Sul do Ceará já têm o plantio
concluído. "Na maior parte do Cariri está chovendo bem e não tivemos
veranico", disse o gerente local da Ematerce, em Milagres, José Maria
Rangel de Macedo. "No nosso município, o plantio de milho, feijão e
mandioca já foram concluídos". Nos últimos dias, o quadro de pluviometria
deixou os agricultores animados em Missão Velha e Brejo Santo.
No município de Várzea Alegre, na região Centro-Sul, a área
disponível para o plantio também já foi concluída. "O cultivo já foi feito
em 100% porque as chuvas foram favoráveis e o solo está com umidade
elevada", disse o gerente local da Ematerce, Pedro Alves Bezerra.
"Temos de ponderar que as áreas disponíveis hoje para a agricultura é bem
inferior em comparação com uma década".
Os pequenos produtores reclamam das dificuldades e da
incerteza do inverno. "Os agricultores estão com o pé atrás, temendo uma
nova seca", disse Virgolino Neto. Os grandes produtores queixam-se da
falta de mão de obra no campo. Os últimos relatórios de produção de safra do
IBGE abordam as dificuldades de contratação de trabalhadores no campo para o
serviço no setor agropecuário.
Chuvas de 125mm no Cariri
ver forte no Interior do Ceará desde o fim de semana e ontem.
Em alguns municípios os registros de pluviometria superaram os 100 milímetros.
A maior precipitação de ontem foi registrada no distrito de Brejinho, zona
rural do município de Barro, onde choveu 125,2 mm.
A intensidade das chuvas elevaram o nível de água acumulado
em pequenos reservatórios e, em alguns casos, pequenos barreiros chegaram a
sangrar. O açude de Brejinho, que possui maior capacidade de acúmulo, também
recebeu boa recarga de água, porém, as chuvas ainda não foram suficientes para
que o açude transbordasse.
Ontem, dezenas de estudantes que residem na comunidade, mas
que estudam na região de Santo Antônio, deixaram de ir à escola porque o ônibus
que realiza o transporte não conseguiu atravessar um bueiro, localizado nas
proximidades do Areias. Segundo os moradores, durante os períodos de chuvas
mais intensas, há risco de tráfego no local para veículos de maior porte.
"É perigoso. Para carro pequeno não há problemas. No
entanto, ônibus não tem acesso porque a estrada acaba sendo muito
estreita", disse a professora Cícera Sizinha da Cruz, que reside na
localidade.
Em Juazeiro do Norte, as chuvas começaram por volta das 2
horas da madrugada de ontem acompanhada por fortes rajadas de ventos e muitos
trovões. Com a intensidade das chuvas, ruas e avenidas voltaram a ficar
alagadas. Em bairros mais afastados do Centro da cidade, como o Novo Juazeiro e
Betolândia, por exemplo, moradores amanheceram com água no Interior de algumas
residências e muita lama por sobre a pista de rolamento da avenida. Houve
atraso no transporte coletivo, o que acabou irritando dezenas de usuários. No
Centro da cidade semáforos voltaram a apresentar defeitos, ocasionando lentidão
no trânsito.
Os municípios de Aurora e Missão Velha também receberam
fortes precipitações durante a madrugada e início da manhã de ontem. Foram
registrados 101,6 mm e 94,2 mm, respectivamente. Em Aurora, as chuvas foram
mais fortes na região de Ingazeira. Açudes e pequenos reservatórios ampliaram
suas capacidades hídricas e já expectativa quanto a sangria em alguns
reservatórios. O mesmo também acontece em algumas áreas do interior do
município de Missão Velha onde, inclusive, o volume de precipitações já garante
a queda de água em uma das mais antigas cachoeiras da região, localizada no
sítio Cachoeira, a cerca de 3 Km de distancia da sede do município.
Honório Barbosa (Repórter)
Diário do Nordeste
Fotos: DIÓGENES FEITOSA e HONÓRIO BARBOSA.
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