A Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) pegou o consumidor cearense de surpresa ao autorizar, na manhã
de ontem, reajuste de até 17,02% nas tarifas de energia praticadas pela
Companhia Energética do Ceará (Coelce). O índice supera em mais de três pontos
percentuais os 13,83% pleiteados pela concessionária ao órgão regulador,
conforme o Diário do Nordeste divulgou com exclusividade na edição do último
dia 8 de abril.
Com o aumento, os consumidores
residenciais - cerca de 79% dos usuários da empresa, ou 2,53 milhões - vão
pagar, por exemplo, 16,55% a mais nas contas de luz; enquanto que o setor industrial
desembolsará, em média, 16,16% acima do que vinha pagando pela energia
elétrica.
Já o comércio será impactado em
17,02%. Considerando todas as classes de consumidores, o cearense desembolsará,
em média, 16,77% a mais pelo serviço. O reajuste autorizado é o maior desde
2005, quando as tarifas praticadas pela Coelce foram elevadas, em média, em
23,59%. Os novos valores entram em vigor a partir da próxima terça-feira, dia
22.
Maior do Nordeste
O aumento autorizado para o Ceará
foi o maior homologado até então, pela Aneel, para as concessionárias que
operam nos estados nordestinos. Entretanto, levando-se em conta todas as
regiões brasileiras, o índice da Coelce só perde, até agora, para a CPFL Santa
Cruz, uma das distribuidoras do Estado de São Paulo, que teve reajuste de
30,64% para a classe residencial, por exemplo. Vale ressaltar, também, que a
maior parte dos acréscimos autorizados contradiz a afirmação da Aneel de que
não há tendência de alta na energia na casa dos dois dígitos no ano em curso.
Quase três vezes a inflação
Além de superar o pleito da
Coelce à Aneel, o índice de até 17,02% autorizado pela Agência também chama a
atenção por representar quase três vezes a inflação acumulada nos 12 meses
anteriores ao reajuste - 5,97% -, medida pelo Índice Geral de Preços Mercado
(IGP-M), indicador utilizado pelo setor para corrigir preços, conforme a
proposta de reajuste tarifário apresentada pela distribuidora.
Acima da expectativa do BC
O aumento aprovado também ficou
bem acima - cerca de 7,5 pontos percentuais - da expectativa do governo federal
de reajuste médio de 9,5% nas tarifas de energia, em 2014, no País, conforme o
último relatório de inflação, divulgado no dia 27 de abril deste ano pelo Banco
Central.
Aneel justifica diferença
Segundo a Aneel, foram
autorizados apenas 8,09% como índice de reajuste tarifário para Coelce, em
2014, contra os 13,83% solicitados pela companhia. A diferença para cima entre
reajuste médio aprovado (16,77%) e o que de fato foi homologado pela Agência, justifica
o relator do processo, o diretor Reive Barros dos Santos, se deve à atualização
do IGP-M acumulado em 12 meses considerado para o reajuste (7,3%), à previsão
dos encargos setoriais, principalmente o ESS (Encargos de Serviço do Sistema),
a valores de compra de energia, à previsão de sobrecontratação de energia e a
pleitos financeiros não reconhecidos. Em conjunto, esses itens resultaram em um
acréscimo de 8,69% sobre o índice de reajuste considerado (8,09%), totalizando,
assim, um aumento médio de 16,77% na conta de luz.
Em relação aos pleitos
financeiros não reconhecidos, destacam-se o recálculo dos preços de repasse
para Termofortaleza desde 2009, o reconhecimento da parcela definitiva de
Combustível (Comb), referente ao valor normativo do contrato entre a empresa
CGTF Fortaleza e a Coelce, e aquele devido ao retroativo da liminar judicial da
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Nota da Coelce
Por meio de nota divulgada à
imprensa, o diretor de Regulação e Meio Ambiente da Coelce, José Alves, o
índice médio de 16,77% é resultado da diferença entre o reajuste autorizado
pela Aneel para este ano e a retirada de itens financeiros que durante o ano de
2013 reduziam o valor da tarifa. "O que impactou o resultado da tarifa este
ano foi a retirada do efeito redutor que incidiu em 2013, correspondente a
itens financeiros de devolução de valores aos consumidores, além do reajuste de
8,09% autorizado este ano pela Aneel".
Ainda de acordo com a Coelce, nos
últimos cinco anos, a tarifa residencial da empresa , sem impostos, apresentou,
em média, queda de 5,4%, enquanto o IGP-M acumulado em igual período foi de
35,4%.
"Realizado anualmente, o
reajuste tarifário visa preservar o equilíbrio econômico-financeiro da
concessão", afirma. No reajuste deste ano, a distribuidora de energia
destaca que, considerando apenas a parcela destinada ao serviço de
distribuição, a alta foi somente de 1,38%, "bem abaixo da inflação
registrada para o período (7,3%)". Entretanto, o principal impacto deste
reajuste, avalia a distribuidora, se deve à majoração dos custos com a compra
de energia, que estão em patamares elevados desde de 2013, e que se agravaram
neste inicio de ano. "Conforme definido pela Aneel, este reajuste já
contempla a devolução da ultima parcela, devidamente atualizada, referente ao
congelamento das tarifas no ano da revisão tarifária em 2011".
'Falta de transparência'
Mesmo diante das explicações
tanto da agência reguladora como da concessionária, o presidente do Conselho de
Consumidores da Coelce, Erildo Pontes, afirma que há falta de transparência no
processo de correção das tarifas de energia no Estado.
"Antes da reunião para a
aprovação do aumento, fomos à Aneel pedir para ver os números e a Agência nos
negou essa solicitação, afirmando que só no dia 7 deste mês teríamos acesso.
Além disso, no último dia 10, na reunião do Conselho de Consumidores,
convidamos um representante da Coelce para participar a fim de explicar o
índice solicitado, e o número considerado mais uma vez foi os 13,83% pleiteados.
E ele nos chegou a dizer ainda que esse percentual poderia cair para em torno
de 8% a 9%, mediante o decreto 8.221 da União, do dia 2 de abril deste ano, que
trata da mitigação dos elevados valores de compra de energia no mercado spot.
Então é de estranhar que a Aneel venha, agora, com um aumento que pode chegar a
17%", critica.
"Minha preocupação é que no
ano que vem, quando dizem que virá o aumento maior (do socorro às
distribuidoras), o que nos aguarda", argumenta.
DIÁRIO DO NORDESTE - Anchieta
Dantas Jr. (Repórter)
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