Jardim. Mais um exemplar inédito
de fóssil foi encontrado na Bacia Sedimentar do Araripe. Trata-se da menor
espécime de camarão já vista no Brasil, o Araripenaeus timidus. Nesta
sexta-feira, às 9 horas, o achado estará sendo apresentado para a imprensa. A
foto do camarão minúsculo será capa da próxima edição dos Anais da Academia Brasileira
de Ciências, no Rio de Janeiro, para todo o mundo científico. O fóssil raro, do
período Cretáceo e com mais de 110 milhões de anos, foi encontrado no Museu de
História Natural Barra de Jardim, na cidade de Jardim.
O achado foi feito pela equipe do
professor Álamo Feitosa, que coordena pesquisa na área, além de estar à frente
do Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca). O
material foi visto no local no início de 2013 e passou a ser descrito durante o
ano passado pelos pesquisadores Álamo, da Urca, e William Santana, da
Universidade do Sagrado Coração, em Bauru, no Estado de São Paulo. Juntos, os
dois pesquisadores escreveram o artigo que será publicado na próxima edição da
revista, até junho deste ano.
O camarão fóssil Araripenaeus
timidus é o primeiro da espécime descrito para o Brasil. O material do Cretáceo
inferior (Albiano) foi coletado na localidade de Sobradinho, em Jardim, Sul do
Estado do Ceará, e é pertence à Formação Romualdo. Outro fóssil inédito de espécime
de camarão foi encontrado no ano passado, o Kellnerius jamacaruensis, na mesma
localidade na Bacia do Araripe.
O Araripenaeus timidus foi
encontrado por acaso, durante uma visita dos pesquisadores ao museu. Segundo
Álamo, um dos funcionários disse que havia alguns exemplares de camarões
guardados e, para sua surpresa, observou com a lupa um deles, minúsculo, que
chamou a atenção. "O mais interessante era que esse material estava há
muitos anos no museu, e ninguém sabia de sua existência", diz ele. Com isso,
passa a ser o primeiro holótipo do Museu. E são essas espécimes encontradas
que, segundo Álamo, dão uma ordem de importância a esses espaços, no que diz
respeito à pesquisa científica.
A peça irá permanecer no Museu em
Jardim, após os estudos realizados. A espécie é ligada aos camarões de água
salgada. Há um forte indicativo, segundo o pesquisador, de que a área da bacia
Sedimentar teve na sua formação a presença de água doce e também salgada, dando
evidências do paleoambiente existente na área. Também pode ser constatada uma
mudança muito rápida do paleolago do Araripe.
Ainda segundo Álamo, esse achado
é de grande importância porque comprova o nível de excelência em que se
encontra o estudo da Paleontologia na região, com fósseis inéditos sendo encontrados,
servindo de referência para o mundo científico. Ele destaca, com isso, a
publicação que será feita do trabalho, e foram os próprios editores que
chegaram a solicitar o material para inserir na capa da publicação.
"Para nós, pesquisadores, é
uma grande satisfação poder dar destaque a esse material, porque mostra o nível
de relevância da Bacia Sedimentar, no que diz respeito aos achados e o
desenvolvimento da pesquisa na área", diz ele. O professor Álamo coordenou
a maior escavação controlada já realizada na área da paleontologia, na região,
iniciada em 2011. Nesses estudos, já chegaram a ser encontrados fósseis de
espécies de pterossauros, insetos, plantas e os camarões, com novas espécimes
que têm chamado a atenção do mundo científico.
As escavações envolveram
pesquisadores de três universidades, tendo à frente a Universidade Regional do
Cariri. Esse trabalho representa um marco para a pesquisa paleontológica e
formação de novos profissionais na área, além de revelar grande descobertas, a
exemplo de um dos maiores pterossauros já descritos, achado em 2011. O trabalho
faz parte do projeto de pesquisa "Estudos Sistemáticos e Paleoecológicos
da Fauna de Vertebrados das Formações Crato e Romualdo (grupo Santana) da Bacia
do Araripe". Segundo o coordenador da pesquisa, o trabalho veio mais uma
vez dar uma importante contribuição para o fortalecimento das pesquisas no
âmbito da Paleontologia.
Grande parte do material
encontrado foi repassado ao Museu de Santana do Cariri e também de museus de
Pernambuco e Nacional, no Rio de Janeiro, além do Laboratório de Paleontologia
da Urca, já que são fósseis considerados comuns e que já existem em abundância
na área do Araripe.
Parceria
A escavação realizada na área da
Bacia do Araripe foi finalizada no Parque dos Pterossauros, em Santana do
Cariri, responsável por importantes achados fósseis. As escavações foram feitas
a 2km da cidade, envolvendo 20 pesquisadores da Urca, Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do
Museu Nacional.
O trabalho de três anos já é
considerado, para o paleontólogo, um grande sucesso e destaca a região como
importante área de pesquisa da paleontologia no Brasil.
Além de formar novos
pesquisadores, já que no projeto atuam desde graduados a doutores, há
treinamento de campo de novas levas de estudiosos e essa realidade, segundo
Álamo, representa um grande salto do Cariri no que diz respeito à pesquisa.
Mais informações
Geopark Araripe
Universidade Regional do Cariri
(URCA), Rua Carolino Sucupira
S/N - Pimenta
Telefone: (88) 3102.1237
Elizângela Santos
Repórter
DIÁRIO DO NORDESTE
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