Russas. Uma terceira grande mortandade de tilápia foi
registrada no açude Castanhão em menos de dois anos. A primeira foi em abril do
ano passado, quando apenas um criador perdeu uma tonelada de peixe. Em julho
deste mesmo ano, foram 100 toneladas. Dessa vez, o caso aconteceu há duas
semanas, um pequeno grupo de produtores perdeu 50 toneladas. O aumento do
número de peixes mortos em tanques rede vem sendo acompanhado com preocupação
pelos piscicultores.
Conforme explicou o engenheiro de pesca Djavan Ferreira, essa
mortalidade de peixes dentro do açude ocorre devido à atuação de vários
fatores, dentre eles a rápida diminuição do nível do reservatório e a grande
quantidade de compostos orgânicos que se concentram no fundo, interferindo
diretamente na qualidade da água.
"Por não haver chuva não há renovação das águas. Sem
essa renovação, os compostos como amônia e nitrito aumentam. Eles resultam da
grande concentração de compostos orgânicos na água, como ração e fezes dos
peixes, e são muito tóxicos, podendo matar os peixes por asfixia",
explica.
Ele conta ainda que em algumas áreas do Castanhão está
havendo uma aglomeração de piscicultores, muitos oriundos de outras regiões do
Estado que chegam ao Castanhão em busca de condições de continuar a pesca.
Vírus e bactérias
Ferreira ainda acrescenta que, durante um curso sobre
sanidade de peixe, ministrado no início desta semana para os piscicultores do
Castanhão, análises apontaram a presença de vírus e bactérias e alguns
parasitas nos peixes coletados. "Essas enfermidades não contaminam o filé
do peixe, mas podem causar a doenças e até a morte dele", acrescenta. Ele
avalia que o momento é arriscado para quem quer investir em piscicultura no
Castanhão.
De acordo com o piscicultor Bessa Júnior, do ano passado pra
cá, houve um aumento de 30% na produção do açude e todos os que vieram de fora
ficaram concentrados em uma área de 25% do espelho d'água. "Esses
produtores de fora se concentraram próximos as áreas onde tem maior
infraestrutura de estrada e energia. O Castanhão é muito grande e nem todos os
locais tem essas condições, então eles acabam se aglomerando. É muita gente
para pouca água em certo locais", afirma.
Ele defende que os produtores tomem uma atitude em buscar se
deslocar para áreas mais adequadas, evitando inúmeros problemas, principalmente
aqueles referentes à qualidade da água. Ela acrescenta que essa aglomeração de
produtores é um dos fatores que tem ocasionado o aumento na mortalidade de
peixes em algumas áreas. "Até agora não me afetou, porque o local onde
estou é mais profundo, longe dessas aglomerações. Há o espaçamento correto
entre as gaiolas e a quantidade de peixes, mas muitos não têm essa
consciência", lamenta.
O produtor Emídio Chaves trabalha como piscicultor no açude
há 11 anos, juntamente com um grupo de oito pessoas. Ele afirma que a
mortalidade dos peixes na área do grupo vem aumentando nos últimos anos.
"Em 2012 a mortalidade registrada foi de 12%, a gente considera muito
pouca e é o que costumamos esperar na época do inverno. No inverno do ano
passado, nossa perda subiu para 19% e, já neste ano, nós perdemos 53% da
tilápia, um prejuízo para o grupo de mais de R$ 600 mil", lamenta.
Produtividade
Emídio afirma que não retirará os tanques do Castanhão, mas
que segurará a produção muito abaixo do que estava acostumado a fazer. "Em
um tanque rede grande, chegávamos a colocar 6 mil alevinos, agora estamos
colocando só 1500, para não correr o risco de ter mais prejuízo", conta o
piscicultor. Ele também afirma que esses problemas que afetam a produção do
Castanhão está resultando na falta do pescado para os consumidores.
"Estamos trabalhando com mais cautela devido à redução do nível de água do
açude, mas se hoje tivéssemos mais produção toda ela era vendida, porque tem
mercado", ressalta Emídio.
Assim como muitos estão chegando ao Castanhão, o piscicultor
conta que outros estão saindo devido às dificuldades. Ele é um dos que já está
em busca de outro local e já tem como certo colocar tanques-rede em um açude no
Estado de Pernambuco.
Queda
A produção de tilápia no Ceará deverá cair 25% neste ano em
comparação com 2013. A estimativa é da Associação Cearense de Aquicultores
(Aceaq), para quem essa redução é consequência do quadro de seca que afeta o
Estado desde 2012. Dos 28 açudes que mantinham a criação do pescado em tanques
rede em 2011, apenas 18 ainda mantém alguma produção. Os açudes de Orós,
Casanhão, Cascavel, Ubladino , Olho Dágua, Aires de Souza e outros, são os que
estão suprindo a demanda do Estado.
"Estamos acompanhando essa situação muito atentos vendo
a problemática no Castanhão, de modo que possamos buscar ações junto aos órgãos
competentes para que haja uma melhor gestão e uma fiscalização no trabalho
dentro do açude", afirmou Antônio Albuquerque, secretário executivo da
Aceaq.
Mais Informações:
Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq)
Rua Silva Paulet, 3279, sala 03, Fortaleza (85) 3272 9219
DIÁRIO DO NORDESTE - Ellen Freitas Colaboradora (Fotos: Ellen Freitas)
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