Iguatu. O período de chuva no sertão do Ceará ocorre entre
janeiro e junho, sendo que as precipitações se concentram na quadra invernosa,
de fevereiro a maio. Neste ano, as chuvas ficaram 24% abaixo da média
histórica, insuficientes para a recarga dos açudes, mas boas para a formação de
pastagem nativa e para a safra de palma, sorgo e outras culturas forrageiras.
O Ceará vivencia três anos de seca e há risco de 2015 ocorrer
mais uma estiagem. Os dados mostram que haverá formação de fenômeno El Niño, a
partir deste segundo semestre, prolongando-se no período da quadra invernosa e
afetando a formação de nuvens de chuva. "Não dá para ser criador no sertão
cearense, esperando que a cada ano as chuvas cheguem no tempo certo para
alimentar o gado", disse Raimundo Reis, sócio-diretor da empresa Leite
& Negócios Consultoria. "Esse comportamento de risco precisa ser
modificado".
Mediante o quadro de seca, de dificuldades para os criadores,
técnicos de empresas privadas e o governo do Estado por meio da Secretaria de
Desenvolvimento Agrário (SDA) estão desenvolvendo programas específicos de
incentivo ao plantio de palma e de sorgo forrageiro em várias regiões do
Interior.
No período de 2007 a 2013, foram distribuídos 19 milhões de
raquetes de palma (muda), no Ceará. Somente neste ano, foram 13 milhões. Os
números mostram a expansão do plantio de palma no Estado. Aliado ao feno de
pastagem nativa, pastejo rotacionado, sorgo, milho e cana-de-açúcar é mais uma
alternativa para os criadores. Com o uso de tecnologias modernas, viabiliza-se
a produção em pequenas propriedades de agricultura familiar.
Depois de três anos de seca, no Ceará, os agricultores
finalmente perceberam que é preciso fazer reserva alimentar para o gado.
"O aprendizado tem sido mediante dificuldades e prejuízos", observou
Reis. "A formação de silos e o plantio de culturas forrageiras são estratégia
fundamental ante a perspectiva de uma nova seca em 2015".
Nos anos de 1997 e 1998, o Ceará enfrentou severas secas.
Depois foram 14 anos de invernos regulares. "Esse período contribuiu para
ocorrer certa acomodação por parte dos criadores que achavam que não era preciso
ter reserva alimentar, pois a chuva chegaria no ano seguinte", observa
Raimundo Reis. "Esse comportamento tem de mudar", insiste.
Raimundo Reis analisa que as secas verificadas em 2012 e 2013
serviram de aprendizado para os produtores rurais. "Foi preciso um momento
crítico, de prejuízos e de enormes dificuldades para que os produtores rurais
entendessem a necessidade de se cultivar sorgo, palma, milho para se obter
reserva alimentar para o período de estiagem", disse. "Muitos
aprenderam na desgraça".
Reis é um dos incentivadores do cultivo de palma forrageira e
de outras culturas para a formação de reserva alimentar. "Nós temos
conhecimento, tecnologia para não enfrentar sufoco, não passar por dificuldades
para alimentar o rebanho", frisou.
"Em pequenas propriedades é possível obter insumo,
alimentar o gado com qualidade, fornecendo volumoso, energético e proteína com
baixo custo de produção", observou.
Recentemente, foi realizado no Perímetro Irrigado Tabuleiro
de Russas, o II Dia de Campo sobre o cultivo de palma forrageira adensada e
irrigada no ceará. Cerca de 200 produtores rurais, técnicos e pessoas ligadas a
pecuária de leite e ao setor da ovinocaprinocultura participaram do evento.
Houve visitação e palestras em sete estações sobre como tratar
de diferentes temas relacionados ao cultivo e uso da palma forrageira. Foi
feita uma apresentação do viveiro de propagação de mudas e do módulo de
produção voltado para agricultores familiares. "São inovações tecnológicas
de grande importância para a difusão do cultivo da palma forrageira em todo o
Nordeste", frisou Reis.
Sequeiro e irrigado
A palma é um alimento estratégico que pode ser usado no
decorrer do segundo semestre pelos criadores. O cultivo pode ser de sequeiro
(durante a quadra invernosa) e irrigado.
"Consome dez vezes menos água do que o capim e o
sorgo", observa Raimundo Reis. "Não é para ser cultivado na pior área
da fazenda, cascalho, e nem tolera terra encharcada".
Adaptado ao sertão, às altas temperaturas durante o dia, e
noites frias, a planta se fecha para não perder energia. É muito utilizado no
agreste de Pernambuco e de Alagoas. "No Ceará, as condições são ótimas e
conceitos antigos e mitos precisam sem eliminados", observa Reis. "Há
tecnologias modernas, que mostram viabilidade. "No sistema irrigado,
produz muito".
A palma não é apenas fonte de volumoso, mas apresenta 80% de
valor energético do milho. Aliado ao pastejo rotacionado, fonte de proteína e
fibra, a utilização da palma reduz consumo de ração e contribui para aumentar a
produção de leite, viabilizando a criação em pequenas propriedades rurais.
"Nós temos conhecimento e alternativas para a criação de bovinos de leite,
e não passar sufoco nos períodos de estiagem", disse Raimundo Reis.
Mais informações
Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA)
Telefone: (85) 3101. 8144
Leite e Negócios Consultoria
Telefone: (85) 3243.3110
Diário do Nordeste - Honório Barbosa Repórter
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