terça-feira, 5 de agosto de 2014

DEU NO DN: ORÓS PESCADO VAI PRO LIXO



 As perdas em relação à tilápia chegam a 1/3 da produção, enquanto as do tucunaré vão mais além, atingindo um percentual de 50%, segundo os próprios pescadores do Orós, acostumados com o desperdício que, além de tudo, causa impacto n o ambiente marinho, rios e lagoas.


Orós. O processo de perdas em relação ao pescado é o mesmo. No açude do Orós, toneladas de peixes se perdem por ano. "Muitos pescadores tratam mal o peixe desde o momento em que o retira do oceano. Em alto mar, eles os salgam e os colocam em fardos. Quando desembarcam aqui no mercado, há uma separação dos que estão em melhores condições e os demais. Muitos vão para o lixo", conta Antônio Sobrinho de Lima, conhecido como Paim, dono de uma fábrica de gelo e que transporta pescado para Parnaíba, no Piauí, e São Luís, no Maranhão.


Esse é apenas um momento do desperdício, conforme Paim, que chega todos os dias ao mercado do peixe, localizado às margens do Orós, às 4 horas da manhã e só vai para casa ao anoitecer. "O peixe que eu compro é transportado em basquetes (grandes embalagens) de vinte quilos. O gelo é colocado por cima para conservá-lo na temperatura ideal, na proporção de um quilo para cada quilo do pescado. Essa é a forma mais correta. Entretanto, muitos comerciantes não obedecem essa norma. Levam até dois mil quilos de uma só vez num depósito grande. Ocorre que, na hora de fazer a distribuição do gelo, ele tem que entrar nesse compartimento do caminhão e acaba pisando nos peixes. Isso ocasiona muitas perdas. Se a lei permitisse apenas o uso dos basquetes, evitaríamos esse tipo de desperdício". 


Carcaça


Francisco Monte de Menezes, o Demontier, de 59 anos, reforça a preocupação de seu Antônio Sobrinho. "A gente pesca a tilápia e aproveita só o filé. Toda a carcaça é jogada fora. E o que é pior: mexe com o meio ambiente, pois a gente tem que cavar uma vala para enterrar. Esse material poderia ser aproveitado para fazer farinha ou ração para o próprio peixe".


Já o comerciante Marcos Rodrigo Maciel revela que, por semana, costuma se desfazer de 1.200 quilos de carcaça de tilápia. "Sei que é um absurdo. Para que se tenha uma ideia, a cada cem quilos de tilápia, somente 33 são aproveitados, ou seja, nada menos do que 67% vão para o lixo. Além do desperdício, vão poluir o solo. Em relação ao tucunaré, o cálculo que fazemos aqui é na base do meio a meio: só 50% são aproveitados".


A solução para evitar tanto descaso seria o reaproveitamento, conforme Maciel. "Com apenas R$ 50 mil, a gente pode adquirir uma máquina para triturar essa carcaça. O resultado é muito simples: cada mil quilos de cabeça de peixe seriam transformados em 300 quilos de bolinha ou de linguiça", sugere o pescador. Segundo o próprio Maciel o quilo de bolinha, na região, é comercializado em média por R$ 14,00. O da linguiça é um pouco maior: R$18,00.

"A gente vê o governo gastando dinheiro com tanta coisa sem futuro. Ele poderia abrir uma linha de financiamento para nós comprarmos as máquinas. Em pouco tempo, teríamos o retorno. Dou emprego a cinco pessoas. Se tivesse um equipamento desse porte, certamente contrataria pelo menos o dobro. Sem esquecer que, se todos aproveitassem essa sobra, o preço da linguiça e da bolinha cairia bastante, favorecendo o bolso do consumidor. Por outro lado, a Prefeitura não gastaria dinheiro para se desfazer desse lixo", aposta Marcos Rodrigo Maciel.


Além de todos os problemas descritos aqui, o acúmulo de restos de peixes no entorno do mercado do pescado do açude de Orós vem ocasionando o surgimento de inúmeros animais. É grande a presença de gatos e cachorros que disputam o que sobra, sem falar nas moscas e mosquitos que atormentam os frequentadores.


Escolha


Francisco Valdelio Júnior costuma ir às quartas-feiras comprar peixe nos boxes. Ele admite o rigor na escolha do pescado. "É claro que a gente procura levar o melhor, o que estiver mais 'apresentado. É uma pena que, no fim do expediente, muita coisa fique perdida. Mas não é culpa dos consumidores. Poderia ter alguma instituição para recolher esse resto. Acredito que ninguém se negaria a ceder, já que iria mesmo para o lixo". (FM)



Fonte: Diário do Nordeste

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