As perdas em relação à tilápia
chegam a 1/3 da produção, enquanto as do tucunaré vão mais além, atingindo um
percentual de 50%, segundo os próprios pescadores do Orós, acostumados com o
desperdício que, além de tudo, causa impacto n o ambiente marinho, rios e
lagoas.
Orós. O processo de perdas em relação ao pescado é o mesmo.
No açude do Orós, toneladas de peixes se perdem por ano. "Muitos
pescadores tratam mal o peixe desde o momento em que o retira do oceano. Em
alto mar, eles os salgam e os colocam em fardos. Quando desembarcam aqui no
mercado, há uma separação dos que estão em melhores condições e os demais.
Muitos vão para o lixo", conta Antônio Sobrinho de Lima, conhecido como
Paim, dono de uma fábrica de gelo e que transporta pescado para Parnaíba, no
Piauí, e São Luís, no Maranhão.
Esse é apenas um
momento do desperdício, conforme Paim, que chega todos os dias ao mercado do
peixe, localizado às margens do Orós, às 4 horas da manhã e só vai para casa ao
anoitecer. "O peixe que eu compro é transportado em basquetes (grandes
embalagens) de vinte quilos. O gelo é colocado por cima para conservá-lo na
temperatura ideal, na proporção de um quilo para cada quilo do pescado. Essa é
a forma mais correta. Entretanto, muitos comerciantes não obedecem essa norma.
Levam até dois mil quilos de uma só vez num depósito grande. Ocorre que, na
hora de fazer a distribuição do gelo, ele tem que entrar nesse compartimento do
caminhão e acaba pisando nos peixes. Isso ocasiona muitas perdas. Se a lei
permitisse apenas o uso dos basquetes, evitaríamos esse tipo de
desperdício".
Carcaça
Francisco Monte de Menezes, o Demontier, de 59
anos, reforça a preocupação de seu Antônio Sobrinho. "A gente pesca a
tilápia e aproveita só o filé. Toda a carcaça é jogada fora. E o que é pior:
mexe com o meio ambiente, pois a gente tem que cavar uma vala para enterrar.
Esse material poderia ser aproveitado para fazer farinha ou ração para o
próprio peixe".
Já o comerciante Marcos Rodrigo Maciel revela que,
por semana, costuma se desfazer de 1.200 quilos de carcaça de tilápia.
"Sei que é um absurdo. Para que se tenha uma ideia, a cada cem quilos de
tilápia, somente 33 são aproveitados, ou seja, nada menos do que 67% vão para o
lixo. Além do desperdício, vão poluir o solo. Em relação ao tucunaré, o cálculo
que fazemos aqui é na base do meio a meio: só 50% são aproveitados".
A solução para evitar tanto descaso seria o reaproveitamento,
conforme Maciel. "Com apenas R$ 50 mil, a gente pode adquirir uma máquina
para triturar essa carcaça. O resultado é muito simples: cada mil quilos de
cabeça de peixe seriam transformados em 300 quilos de bolinha ou de
linguiça", sugere o pescador. Segundo o próprio Maciel o quilo de bolinha,
na região, é comercializado em média por R$ 14,00. O da linguiça é um pouco
maior: R$18,00.
"A gente vê o governo gastando dinheiro com
tanta coisa sem futuro. Ele poderia abrir uma linha de financiamento para nós
comprarmos as máquinas. Em pouco tempo, teríamos o retorno. Dou emprego a cinco
pessoas. Se tivesse um equipamento desse porte, certamente contrataria pelo
menos o dobro. Sem esquecer que, se todos aproveitassem essa sobra, o preço da
linguiça e da bolinha cairia bastante, favorecendo o bolso do consumidor. Por
outro lado, a Prefeitura não gastaria dinheiro para se desfazer desse
lixo", aposta Marcos Rodrigo Maciel.
Além de todos os problemas descritos aqui, o
acúmulo de restos de peixes no entorno do mercado do pescado do açude de Orós
vem ocasionando o surgimento de inúmeros animais. É grande a presença de gatos
e cachorros que disputam o que sobra, sem falar nas moscas e mosquitos que
atormentam os frequentadores.
Escolha
Francisco Valdelio Júnior costuma ir às
quartas-feiras comprar peixe nos boxes. Ele admite o rigor na escolha do
pescado. "É claro que a gente procura levar o melhor, o que estiver mais
'apresentado. É uma pena que, no fim do expediente, muita coisa fique perdida.
Mas não é culpa dos consumidores. Poderia ter alguma instituição para recolher
esse resto. Acredito que ninguém se negaria a ceder, já que iria mesmo para o
lixo". (FM)
Fonte:
Diário do Nordeste
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