Canindé Com uma das maiores secas do sertão do Ceará nos
últimos 50 anos, a criação de cabras leiteiras e de corte tornou-se a grande
opção viável e rentável para pequenos produtores rurais que formam a agricultura
familiar.
Em vários municípios do Estado do Ceará, como Canindé,
Caridade, Itatira, Paramoti, Tauá, Quixadá, Tejuçuoca, Morada Nova e Banabuiú,
a atividade vem crescendo nos últimos anos graças ao associativismo e aos
recursos liberados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Secretaria do
Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS).
Além disso, têm sido fundamentais ações de campo
desenvolvidas pelo Instituto Agropolos do Estado e Secretaria de
Desenvolvimento Agrário (SDA), escritórios da Ematerce local e regional,
sindicatos dos trabalhadores rurais e secretarias de agricultura municipais.
Nesses nove municípios, o plantel gira em torno de 85 mil
cabeças de caprinos, oriundas do projeto do Governo do Estado intitulado cabra
leiteira.
O projeto social de ovinocaprinocultura leiteira e de corte
está mudando a vida de muitas famílias de áreas de assentamentos na maioria
integrantes do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf).
Conforme o zootecnista da Ematerce de Canindé, Samuel
Pimenta, assessor regional responsável pela cadeia produtiva na região, o
projeto tem um grande valor social e traz resultados positivos para as famílias
carentes do Semiárido.
"A ideia da SDA, no decorrer das ações, é a
distribuição, a todas as famílias beneficiadas, de sementes para reservas
estratégicas, entre as quais, o sorgo forrageiro, feijão guandu e palma
forrageira, além de promover a capacitação para os criadores em manejo
alimentar, sanitário e reprodutivo de animais, além da gestão associativa e
cooperada, enumera.
Para participar do projeto de cabras leiteiras e corte, os
produtores participam de dias de campo para produção de silagem, feno, ração,
mineralização e missões técnicas. "Um fato que nos deixa animados é que,
após a entrega dos animais, os criadores já fazem a ordenha e se beneficiando
do leite caprino. O público-alvo desse projeto são as famílias que participam
da Bolsa Família", acrescenta o secretário de Desenvolvimento Agrário do
Estado, Nelson Martins.
Os recursos são da ordem de R$ 2,5 milhões. Na opinião de
Nelson, a criação de cabras é uma das grandes potencialidades da região. A
caprinocultura de corte e leite fortalece a cadeia de segurança alimentar.
"Enquanto os criadores de bovinos estão com as mãos na cabeça para salvar
seus animais, os criadores de caprinos encontram mais facilidades de conviver
com a seca ou estiagem. Nunca ouvir dizer que um bode ou uma cabra venha a
morrer de fome ou sede numa seca", diz Nelson.
Os prefeitos de Canindé, Celso Crisóstomo; Itatira, Antônio
Almir; Caridade, Simone Tavares; Paramoti, Samuel Boyadijian; e de Tejuçuoca,
Valmar Bernardo lembram que a produção dos agricultores familiares será
destinada para o Programa do Leite Fome Zero. As compras no Estado já somam até
cinco mil litros de leite caprino por dia a um preço de R$ 1,20. "Não
existe comunidade nenhuma no mundo que consiga sair da zona de pobreza sem
antes apostar na produção do campo, principalmente por meio da agricultura
familiar", garante o prefeito de Canindé Celso Crisóstomo.
Inclusão
Na visão do prefeito de Tejuçuoca Valmar Bernardo, o leite de
cabra é potencialmente tido como um produto de inclusão da agricultura familiar
no mercado, notadamente no Nordeste brasileiro, onde a caprinocultura leiteira
de base familiar vem se desenvolvendo em larga escala, dando mais uma
alternativa de sustento aos produtores.
Valmar conta que a cabra foi o primeiro animal capaz de
produzir alimentos domesticados pelo homem, há cerca de dez mil anos. "De
lá para cá, sempre acompanhou a história da humanidade, conforme se atesta em
diversos relatos históricos, mitológicos e até bíblicos, que mencionam a
presença dos caprinos", salienta o prefeito da Cidade, que ficou conhecida
nacionalmente com a capital do bode, por realizar uma das maiores festas
agropecuária em homenagem ao animal, o 'Tejubode''.
"É uma atividade que vem se desenvolvendo muito nos
últimos anos. A população mundial de caprinos é estimada em cerca de 609
milhões de cabeças", salienta Valmar.
Resistentes e produtivas
"Há registros mostrando que as cabras existem no Brasil
desde 1560. Por serem animais de menor porte e mais dóceis, foram trazidos em
navios no lugar das vacas para garantir o suprimento de leite das tripulações
vindas de Portugal. São pequenas, resistentes e produtivas. Apesar disso,
levaram 450 anos para saltar da condição de animal de subsistência para status
de espécies comercialmente rentável'', explica Samuel Pimenta, zootecnista
regional da Ematerce de Canindé.
O Brasil já se posiciona como 11º maior produtor de leite de
cabra do mundo, com mercado estimado em 25 milhões de litros anualmente.
O leite de cabra chega a ter 30% menos colesterol que o de
vaca, além de possuir menor teor de açúcar. Aproximadamente 6% das crianças têm
sintomas de alergia ao leite de vaca, que podem caracterizar-se por distúrbios
digestivos, corrimento nasal, otites, erupções cutâneas, entre outras alergias.
As partículas de gordura do leite de cabra são de tamanho
reduzido em relação ao leite de vaca. Com isso, o leite é rapidamente
absorvido, em cerca de 40 minutos, enquanto o leite de vaca demora, em média,
duas horas. Deixa menos resíduos no intestino, evitando fermentação e má
digestão. O leite de cabra é fonte de cálcio e vitaminas, sendo utilizado na
ação preventiva e curativa de osteoporose.
Iniciativa faz sucesso com produtores da região
Canindé O sucesso do projeto para criar cabras no sertão já
pode ser sentido nos comparativos feitos por Samuel Pimenta. O zootecnista
afirma que se os criadores cuidarem da sanidade do rebanho, empregarem novas
técnicas de manejo alimentar e reprodutivo, que possibilitem melhorias e
qualidade dos animais na ampliação do plantel de maneira uniforme e saudável,
todos terão sucesso.
"Com as técnicas adequadas, a redução da mortandade fica
praticamente zero. Para ele, uma das raças mais adaptadas para a região do
Semiárido é o Anglo Nubiano, uma raça mista tanto para carne como para leite.
Já a Saaney é mais interessante para o leite. Temos também raças nativas como
Canindé e Moxotó, que têm aptidão para produção de carne", diz.
"A exigência alimentar dessas raças não é tão grande.
Possui excelente desempenho alimentar no ganho de peso e produção de leite.
Elas são típicas de regiões semiáridas, onde o índice pluviométrico é baixo, na
qual se adaptam bem às condições de escassez de chuvas, se alimentando de
pastagens nativas da nossa Caatinga como, por exemplo, leucena, excelente
proteína, a vagem da algaroba, feijão guandu, mameleiro, todas plantas
predominantes da nossa região", ressalta Pimenta.
Comparação
Para mostrar a viabilidade para se criar bodes, Samuel
Pimenta faz um comparativo interessante. "Uma vaca de 500 quilos come
cerca de 40 quilos de forragem, diariamente, e bebe 50 litros de água por dia,
o que equivale de 10 a 12 caprinos adultos durante o dia. A cabra bebe em média
12 litros de água e se mantém com 6 quilos de alimento no mesmo período.
"A cabra representa um meio de alimento de sobrevivência e uma saída
econômica para muitas famílias do sertão do Ceará".
A vaca para primeira cria está apta a partir de três anos e
só pare um filhote dentro da normalidade. Já a cabra está pronta para cobertura
a partir dos oito meses e é comum nascer dois filhotes. O intervalo entre os
partos de uma vaca está na média de 18 meses; da cabra, oito meses.
Mais informações
Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA)
Avenida Bezerra de Menezes, 1820, São Gerardo
Telefone: (85) 3101-8002
DIÁRIO DO NORDESTE - Antônio Carlos Alves Colaborador
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