Iguatu A demanda elevada de
atendimentos nos hospitais regionais do Cariri (Região Sul do Estado) e de
Sobral (Região Norte) é o reflexo da crise do sistema de Saúde que afeta os
municípios do Interior. A maioria das unidades hospitalares nas cidades não
atende à demanda por falta de estrutura e de profissionais em clínicas
especializadas. Em muitos casos, até mesmo procedimentos aparentemente simples,
como uma cirurgia cesariana, são transferidas para hospitais polos.
Os dois hospitais regionais
construídos pelo governo do Estado estão superlotados. O mesmo ocorre com as
unidades polos em microrregiões de Saúde. A reclamação é geral por parte de
gestores e secretários de Saúde. Faltam recursos, profissionais médicos, medicamentos
e leitos. O quadro complica-se com a impossibilidade de transferir pacientes
para os hospitais regionais ante a falta de vagas.
Dificuldades regionais
A microrregional de Iguatu, com
dez municípios, integra a macrorregião do Cariri. Entretanto, não há vaga no
Hospital Regional do Cariri (HRC) para transferência de pacientes graves.
"A unidade só está atendendo os casos da própria cidade de Juazeiro",
observou o diretor técnico da Secretaria de Saúde de Iguatu, Joab Soares.
"Até outros municípios do Cariri enfrentam essa mesma dificuldade".
Profissionais da área médica e de
enfermagem do HRC confirmam que a maioria dos internamentos e das cirurgias é
da população residente na terra de Padre Cícero. Na gestão anterior, dois
hospitais foram fechados em Juazeiro do Norte. Os que estão funcionando não têm
estrutura adequada de atendimento: faltam medicamentos, instrumental de
trabalho, equipamentos para exames, medicamentos e até médicos plantonistas.
Esses problemas são verificados
no Hospital Municipal Tasso Ribeiro Jereissati, conhecido como Estefânia Rocha
Lima, e no Hospital Infantil Maria Amélia. Em noites de maior movimentação,
atendentes se revezam na busca do único termômetro digital disponível. Na
maioria dos quartos, os ventiladores não funcionam e os banheiros são sujos ou
se encontram em situação bastante precária.
Sem condições de atendimento,
todos correm para o Hospital Regional do Cariri, que deveria ser uma unidade
para receber pacientes que necessitam de procedimentos especializados.
Os números mostram que o HRC
realizou aproximadamente 1,5 milhão de atendimentos, entre exames, consultas
ambulatoriais e internações, desde a sua inauguração.
Zona Norte
Já o Hospital da Zona Norte, na
cidade de Sobral, realizou, de janeiro a agosto deste ano, mais de cinco mil
cirurgias e atendeu na emergência mais de 40 mil pacientes. As estatísticas
confirmam a demanda elevada nessas duas unidades.
Segundo o prefeito de Juazeiro do
Norte, Raimundo Macedo (PMDB), as deficiências no setor da saúde local decorrem
do fechamento de dois hospitais pela gestão passada. "Foram fechados o
Pronto Socorro e o Hospital Santo Inácio, criando dificuldades que hoje a
população enfrenta", disse. "Nós construímos uma unidade com 28
leitos no Hospital São Lucas, além de termos reformado a UTI neonatal e o
centro cirúrgico". Macedo defende a construção de um novo hospital
municipal.
Região Jaguaribana
O município de Limoeiro do Norte
foi um dos que tentou ampliar a oferta de cirurgias traumatológicas. A alta
demanda de pacientes de outras regionais e os poucos repasses das esferas
estaduais e federais fizeram com que o gestor, Paulo Duarte, sinalizasse desde
o primeiro semestre deste ano que o polo seria entregue ao Estado, ficando
disponível para outro município da regional abrigá-lo. Assim, os pacientes
continuam sendo encaminhados para Fortaleza. Está em tramitação a construção do
Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, anunciado pelo governo do Estado. As
obras devem iniciar no primeiro semestre de 2015.
Sertão Central
Em Quixadá, quando um paciente
chega ao Hospital Municipal Eudásio Barroso necessitando de cirurgia de trauma
ou de outra especializada é logo encaminhado para Fortaleza. Segundo a
secretária de Saúde de Quixadá, Selene Bandeira, a carência de médicos e a
falta de estrutura do hospital, que precisa de reforma e ampliação, obrigam o
setor a encaminhar cerca de 90 pacientes por mês para a Capital.
Situação similar enfrenta o
Hospital Municipal Pontes Neto, em Quixeramobim. Apesar de ser centro de
referência regional, de acordo com a diretora de Gestão Hospitalar Municipal,
Rejane Bastos, faltam leitos e estrutura clínica para atender a demanda da região.
O mesmo ocorre com o Hospital
Regional de Iguatu, que é referência para dez municípios. Faltam médicos
plantonistas, medicamentos e leitos para atender a elevada demanda. Os
prefeitos da região reclamam da situação e pedem melhoria. O quadro se agrava
porque as cidades evitam fazer simples cirurgia cesariana e encaminha pacientes
para a unidade de Iguatu, que permanece superlota.
Inhamuns
Em Crateús, o Hospital São Lucas
atende à demanda de 11 municípios da região, porém conta apenas com recursos da
Prefeitura e repasse de verbas estaduais e federais, insuficientes para atender
o elevado número de pacientes. "Cerca de 80% são de atendimentos simples,
oriundos de cidades vizinhas, que poderiam ser realizados pelos
municípios" contou o diretor Marcos Granemann. Os casos graves são
transferidos para Sobral.
Escola é abastecida com água de
canal poluído, no distrito de Jaibaras
Sobral Sem água há 20 dias, a
população da localidade de São Vicente, no Setor 1 do distrito Jaibaras tem
recorrido a um canal poluído a fim de realizar tarefas diárias. Dentre banho,
lavagem de roupas e panelas, o ponto que mais preocupa a comunidade é o fato de
que ele também tem servido para o abastecimento da Escola Municipal Joaquim
Barreto Lima, inclusive para o abastecimento dos bebedouros.
Na Escola, de acordo com a
diretora, Eurismar Silva Ribeiro, são cerca de 300 alunos que estão sem água há
20 dias, desde que a pequena adutora que funcionava a 800 metros do local foi
desligada. Faltar água, segundo ela, é normal na região, embora não por tanto
tempo. "Nossa comunidade recebe água por meio da tubulação que vem do
Jaibaras. Normalmente, a água falta por dois ou quatro dias e conseguimos
manter com nossa caixa d'água ou pegar com a vizinhança, mas dessa vez nem eles
têm água", conta.
Eurismar explica que pega água no
canal, mas faz um processo de purificação caseiro para poder usá-la.
"Fervemos e aplicamos cloro, mas as crianças reclamam do gosto porque nem
sempre dá tempo do gosto do cloro passar. Não houve reclamação de dor de
barriga dentro da escola ainda, mas acredito que existam casos", afirma a
diretora.
Quando indagada sobre a água que
alunos e funcionários bebiam, ela conta que, para os funcionários, é água
mineral, pois eles mesmo compram, mas que para os alunos, dependendo da
situação, chega a ser a mesma água do canal. "Não dá pra comprar água
mineral pra todo mundo, né?", admite.
De acordo com o estudante João
Paulo Alves Vasconcelos Filho, que cursa o 7º ano na instituição, os
funcionários chegam a colocar os galões de água mineral para encher dentro do
canal. "Eles enchem o garrafão no canal, mas dizem que é mineral, só que a
gente já viu o vigia fazendo isso. Depois da merenda, eles trazem as louças
cheias de resto de comida e lavam aqui, no mesmo lugar em que tiram a
água", afirma ele. Sobre o sabor da água e da comida, ele diz que é
impossível de consumir: "Quando não tem gosto de remédio (cloro) tem gosto
de sujo".
Sem condições
O motorista Francisco da Chagas
Ponte Vasconcelos, diz que a comunidade não tem condições de apoiar a escola
com água, pois a mesma nem poço profundo ou cacimbão possui. "O que nós
fazemos é o mesmo que a escola tem feito, que é puxar a água desse canal, onde
morre bicho dentro, cai lixo, além de a água ser proveniente das gaiolas onde
criam peixe, Jaibaras acima", desabafa.
Para consumir com a família,
Chagas conta que são gastos R$5,00 diários a fim de comprar garrafões de
20litros.
A superintendente da Secretaria
de Educação do Município, Neuverina Albuquerque, diz que a situação que era de
conhecimento da Secretaria era de que a falta d'água era pontual e durava
apenas três dias, e que a água do canal era usada apenas para a lavagem dos
banheiros. "Mas, frente a esse quadro apresentado, abasteceremos a escola
com carros-pipas, em trabalho conjunto com o Saae. A longo prazo, teremos a
construção de uma estação de tratamento local afim de atender a toda a
comunidade do Setor 1", finalizou
Enquanto o problema não é
resolvido, os estudantes se queixam do sabor da merenda escolar e preocupam os
pais.
"O sabor é muito ruim, assim
de ferrugem. Mas não tem jeito. A gente não vai passar fome", aponta o
aluno João Paulo Vasconcelos. "Até cachorro morto jogam dentro do canal.
Não é pra utilizar essa água. Ela é pra irrigação", afirmou o agricultor
José Mendes.
DIÁRIO DO NORDESTE - Honório
Barbosa / Sucursais Colaborador
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