Água e energia são dois dos principais insumos para a
produção industrial. A escassez de chuvas, a consequente redução do nível dos
reservatórios e as previsões nada positivas que indicam para mais um ano de
estiagem apresentam um cenário preocupante para o setor. Isso porque, além da
própria redução dos recursos hídricos, há também o aumento do custo da energia
e já se ouvem rumores de um possível racionamento, à frente.
> Lideranças divergem sobre alta dos impostos
O presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), José Dias
de Vasconcelos diz que é impensável para o setor a falta destes dois insumos.
"A água é o insumo mais importante e a energia é item básico. Nenhuma
indústria vive sem isso. A falta ou racionamento desses itens poderá
prejudicar, sobremaneira, o setor", preocupa-se. Vasconcelos reforça que a
atividade já é a mais tributada e defende que haja uma maior atenção por parte
do governo, para que sua competitividade possa ser garantida.
O consultor da área energética e primeiro secretário da
Câmara Setorial Eólica do Ceará, Fernando Ximenes, traça um cenário nada
otimista para a indústria nesse ano. De acordo com ele, o preço da energia
elétrica poderá inviabilizar a indústria nacional. Ele informa que os contratos
de fornecimento de energia elétrica entre indústrias e grandes produtoras de
energia do Brasil devem vencer até o dia 30 de junho, deste ano.
Desta forma, quando o setor precisar buscar novos
fornecedores do insumo a preços competitivos, poderá encontrar valores que
ultrapassem a margem de lucro das empresas, inviabilizando a produção.
"Devido a lei básica popular de mercado da oferta e da
procura, com a escassez das chuvas e o baixo nível dos reservatórios
hidrelétricos no Sudeste, Centro Oeste e Nordeste, a procura de energia está
maior que a sua oferta. Desta forma, a situação será muito grave para a
indústria nacional no segundo semestre de 2015", projeta.
Setores mais afetados
Na região Nordeste, o consultor da área de energia aponta que
a crise nos preços da energia elétrica afetará, em maior proporção, as
indústrias dos segmentos de mineração, celulose, petroquímica e siderurgia.
"O primeiro grande Estado prejudicado será a Bahia: no
polo industrial de Camaçari e no centro industrial de Aratu. Depois vem
Pernambuco, na região metropolitana industrial de Recife e principalmente no
complexo industrial de Suape. Em terceiro lugar, deverá vir o Ceará, no
complexo siderúrgico metal mecânico de Maracanaú e no Complexo Industrial e
Portuário do Pecém (Cipp)", aponta Fernando Ximenes sobre os impactos da
escassez.
Confiança
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará
(Fiec), Beto Studart, mostra-se menos assustado e acredita que o problema
poderá ser amenizado, no caso do Ceará e do Nordeste, caso os empreendimentos
federais em curso sejam concretizados, como é o caso da transposição do Rio São
Francisco.
"Estive ontem à noite (segunda-feira) com o governador
Camilo Santana na posse do Conselho Deliberativo do Sebrae-CE e, na ocasião,
ele demonstrou preocupação com este possível quarto ano de estiagem e se
mostrou imbuído da proposta de trabalhar com a presidente Dilma Rousseff para
que a transposição de águas seja concluída até o fim deste ano", contou.
De acordo com ele, o empreendimento vai aliviar a parte da
direita geográfica do Ceará e é necessária para que se possam garantir os
recursos hídricos para as novas indústrias do Estado, como a Companhia
Siderúrgica do Pecém (CSP), que começará a operar no primeiro trimestre do ano
que vem. "A questão pode ser resolvida, mas as medidas precisam
chegar", reforça.
População arcará com aumento nos cosméticos
Representante do setor químico, que engloba a atividade de
fabricação de cosméticos, o atual presidente do Centro Industrial do Ceará
(CIC), José Dias de Vasconcelos, mostrou-se surpreso com a medida anunciada na
última segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de passar a cobrar
o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) das distribuidoras destes
produtos. Segundo ele, a consequência é o aumento dos preços de itens que,
destaca, são de primeira necessidade.
"É pasta de dente, xampu, protetor solar, sabonete,
entre tantos outros produtos que se usam diariamente. Não é supérfluo e não
pode ser tributado como supérfluo, é artigo de primeira necessidade",
reforça. Ele destaca que os cosméticos já possuem uma alta carga tributária,
comparada à de produtos como bebidas, cigarros e munição.
Peso dos impostos
O setor de cosméticos e perfumaria tem carga tributária média
de 54,88%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene
Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), que informa: a atividade responde
por 1,8% do Produto Interno Bruto brasileiro. "Mas, até então, com
distribuidor e atacadista não tinha incidência do imposto, e isso agora
prejudica um setor que tem crescido bastante, atingindo um faturamento de R$
100 bilhões no Brasil", critica. Ele informa que o Ceará conta com 35
empresas no segmento, a maioria de pequeno e médio porte, mas também alguns
grandes.
Repercussão nacional
O presidente da Abihpec, João Carlos Basílio, disse estar
"chocado" com a medida do governo, em entrevista concedida ao jornal
Valor Econômico, na qual afirma que o setor "vai para a briga". Com a
medida, o governo espera que sejam injetados aos cofres da União R$ 381,41
milhões a partir de junho de 2015, e R$ 653,85 milhões, no ano completo.
Salários vão ser mais corroídos
As medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy,
para reforçar a arrecadação do País neste ano estão sendo vistas por
representantes do setor produtivo do Ceará como a prova de que o atual governo
é incapaz de equilibrar as contas públicas, sem apenar os trabalhadores
brasileiros, que já suportam uma das maiores cargas tributárias do mundo.
Se aumentar impostos parece ser o caminho mais fácil para o
governo fazer o Brasil retomar o crescimento econômico, para a população, as
mudanças representam uma verdadeira "via- crúcis". Isso porque, a
partir das medidas saídas do chamado "saco de maldades", do ministro
da Fazenda, o salário dos brasileiros será ainda mais corroído, impactando
negativamente a cadeia de consumo.
'Qualidade da arrecadação'
"Essas mudanças comprovam claramente o mau uso do
dinheiro público. O que precisa ser priorizado é a qualidade do uso da
arrecadação. O governo tem que utilizar o dinheiro de forma mais eficaz, acabando
com o desperdício e com a corrupção", afirma Fernando Cirino, presidente
da Durametal, empresa cearense do segmento metalmecânico.
Ao contrário do que pretende o governo, o reforço na
arrecadação não está necessariamente ligado ao aumento da confiança na economia
do País, segundo observa o empresário. Para ele, a equipe econômica deveria
priorizar o corte de despesas públicas.
De acordo com o anúncio de Joaquim Levy, a maior arrecadação
(R$ 12 bilhões) virá da elevação do Programa de Integração Social (PIS) e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre os
combustíveis e do retorno da Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico
(Cide).
"Enquanto o preço da gasolina vem caindo em todo o
mundo, com o barril do petróleo mais barato, o combustível vai ficar ainda mais
caro no Brasil. Estamos caminhando na contramão, e quem mais sofre é o
consumidor", acrescenta. Fernando Cirino alerta que a indústria
brasileira, setor que mais sente os impactos da atual situação econômica,
ficará ainda mais instável.
'Não é nossa praia'
O aumento do Imposto sobre operações Financeiras (IOF) no
crédito para pessoas físicas, cuja alíquota dobrará de 1,5% para 3% ao ano, é
uma das medidas que mais afetam o comércio. Com a mudança, o governo espera
obter uma arrecadação extra de R$ 7,4 bilhões.
"Aumento de impostos não é a nossa praia, isso é a
última coisa que o varejo quer. Existem outras formas de fazer o País voltar a
crescer, pois já pagamos muitos tributos", declara o presidente da Câmara
de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Severino Neto.
Retração no consumo
Ele também lembra dos reflexos da cobrança do Imposto Sobre
Produtos Industrializados (IPI) às empresas distribuidoras de cosméticos e do
PIS/Cofins sobre produtos importados, cuja alíquota saltará dos atuais 9,25%
para 11,75%.
Como as mudanças afetarão diretamente o bolso dos
consumidores, o presidente da CDL Fortaleza teme que haja uma forte retração no
consumo ainda neste ano, quando o governo busca arrecadar mais. "O
dinheiro para ampliar a arrecadação vem do bolso do trabalhador. E, quanto mais
caros os impostos, maior é a inflação.
Espero que o governo fique atento a isso, para que o ritmo de
consumo se mantenha no mercado", observa.
Opinião
'Governo deveria cortar na própria carne'
Sou contra qualquer medida que busque elevar a carga
tributária. Em um País, cuja população já paga com impostos o equivalente a
quase 37%, do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, as mudanças econômicas só
vêm para penalizar quem produz e gera emprego no Brasil.
O governo deveria cortar na própria carne, diminuindo o
número de ministérios e acabando com regalias de parlamentares, por exemplo. Ao
invés de elevar impostos e castigar toda a sociedade brasileira, deveria
incentivar a produtividade das empresas e a confiança dos consumidores em geral,
por meio de desonerações, pois as alterações só ajudam a diminuir a
credibilidade na economia brasileira.
André Montenegro
Presidente do Sinduscon-CE
DIÁRIO DO NORDESTE - Sérgio de Sousa/Raone Saraiva Repórteres
Nenhum comentário:
Postar um comentário