Homossexuais que moram em Itatira (420 km de Juazeiro do
Norte) são perseguidos e até apedrejados por causa do preconceito contra
pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros).
A cidade tem 20 mil habitantes e as ocorrência de violência
física contra homossexuais são comuns. Na última semana, um relatório sobre os
casos foi entregue à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República. Ao todo, o documento lista seis casos considerados relevantes.
Entre as ocorrências que constam no documento está a do casal
Antonio Claudemir Marcolino Macedo, 34, e Francisco Fabio Castro, 33. A casa
deles foi apedrejada três vezes. Eles moram juntos há dez anos e, nos últimos
meses, as ameaças se tornaram constantes.
"Somos cidadãos de bem, trabalhamos e vivemos a nossa
vida da nossa forma, mas as pessoas se incomodam. Vivemos amedrontados. Já
tentaram nos derrubar da moto na estrada e tivemos a casa apedrejada por três
vezes. Por sorte ninguém se feriu", disse Castro.
A travesti Kyara Nanachara Medeiros, 27, que mora no povoado
Lagoa do Mato, afirmou que hoje anda nas ruas com medo, após ser espancada e
apedrejada por um desconhecido.
"O homem apareceu por trás de um caminhão e me atacou. A
rua estava deserta. Fui sendo espancada até um galpão, lá ele também jogou
pedras. Não sei como não morri", disse Kyara.
Arquivo pessoal
Travesti Kyara Nanachara Medeiros, 27, diz que hoje anda nas
ruas com medo, após ser espancada e apedrejada
As agressões ocorreram em 2013 e ela registrou BO (Boletim de
Ocorrência). O agressor foi localizado, mas até agora o caso não foi julgado.
A adolescente T.N.S., 17, passou por situação humilhante com
a irmã de 10 anos na praça de Itatira. Ela foi abordada por um policial quando
passava a mão na cabeça da menina.
"Ele [policial] mandou parar com ´essa pouca vergonha´.
Fiquei chocada pois eu estava fazendo um carinho de irmã, mas por que sou
lésbica vem logo o preconceito", disse.
Relatório
A ativista LGBT Alice Oliveira é a responsável pelo relatório
enviado à União. Ela visitou Itatira em janeiro a pedido da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República.
Alice afirmou que as agressões não são casos isolados e que
as vítimas estão fragilizadas com a situação.
"Eles chegam a chorar contando o que vêm sofrendo com
agressões físicas e verbais. É preciso que chegue ao conhecimento do Judiciário
a ocorrência desses casos para que sejam tomadas providências do ponto de vista
legal ou educacional por meio de palestras e outras ações de combate a
intolerância homossexual", disse a ativista.
O escritório Frei Tito, da Alece (Assembleia Legislativa do
Estado do Ceará), que defende demandas coletivas para garantia dos direitos
sociais, deverá ir à Itatira nesta semana para ouvir os homossexuais.
A advogada da entidade, Luanna Marley, disse que vai prestar
orientação jurídica e cobrar do poder público trabalho efetivo de combate à
homofobia.
"A sociedade precisa entender que todos são iguais, são
pessoas, que amam, tem suas vidas e merecem ser tratadas com dignidade",
disse a advogada.
Após constatar diversos casos de homofobia em Itatira, o
professor Francisco Wesley Carlos Sales resolveu desenvolver ações de
conscientização sobre diversidade sexual na Escola Municipal Nazaré Guerra.
"O trabalho na escola serve como base para uma sociedade
que educa seus filhos com preconceitos. Ninguém nasce preconceituoso e na falta
da família para esse combate surge a escola", disse.
Resposta
O UOL tentou contato com a Prefeitura de Itatira para saber
se existe algum trabalho desenvolvido na cidade com relação ao combate a
homofobia, mas o prefeito Antônio Almir Bié da Silva e a secretária de
Assistência Social, Maria Pastora da Silva, não foram localizados.
O juiz de Itatira, Antonio Josimar Almeida Alves, foi
procurado pela reportagem, mas estava em férias. O juiz substituto José Valdecy
Braga de Sousa não foi localizado pela reportagem.
Em contato com o MPE (Ministério Público do Estado), a promotoria
da cidade informou que os procedimentos tramitam em segredo de Justiça e não
poderia comentar os casos.
Fonte: Miséria via UOL
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