O Açude Tijuquinha, em Baturité, está sangrando, fotot: Natinho
Rodrigues
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Iguatu: As chuvas que banham o sertão cearense desde a
segunda quinzena de fevereiro passado vêm modificando a paisagem do Interior e
renovando as esperanças entre o sertanejo. As cisternas estão cheias e alguns
pequenos e médios açudes, nas vilas rurais, receberam recarga de água. No
Ceará, o Açude Tijuquinha, em Baturité, na Bacia da Região Metropolitana de
Fortaleza (RMF), está sangrando. É o segundo reservatório a transbordar neste
ano. O primeiro foi o Gavião, em Pacatuba.
A queda de água no sangradouro do açude Tijuquinha (começou a
transbordar nesta segunda-feira) é um espetáculo que cada agricultor gostaria
de ver em sua localidade. Mas, infelizmente, essa não é a realidade atual.
Houve melhorias em algumas pequenas barragens, mas no geral a situação dos
reservatórios ainda é muito preocupante no Estado.
Atualmente, o volume médio acumulado nos 149 reservatórios
monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) é de apenas
19,2%. Nos últimos dias, houve um acréscimo de apenas 0,2%. Em fevereiro
passado, quando começou a quadra "invernosa", o índice médio
acumulado em todas as onze bacias hidrográficas era de 19%.
Atualmente, há um açude sangrando (Tijuqinha), outro com
volume acima de 90% (Gavião) e 127 com volumes acima de 30%. Até a semana
passada, eram 129. Houve, portanto, pequenas alterações. Entretanto, aumentaram
as esperanças de que as chuvas continuem intensas em decorrência da aproximação
da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal sistema
causador de precipitações no Estado.
No início deste ano, segundo dados da Cogerh, as onze bacias
hidrográficas acumulavam, em média, 20,95% do volume. Ontem, estavam em 19,2%.
Em janeiro e fevereiro, houve perda da água acumulada por evaporação, consumo
humano, animal, atividades produtivas na indústria e também irrigação para a
agropecuária.
No fim da quadra chuvosa passada, o volume acumulado nos
açudes monitorados pela Cogerh era de 32,21%. Neste ano, se não houver recarga
significativa e a julgar pelos índices verificados no decorrer deste mês, é
provável que ao final da atual quadra "invernosa" (maio), o volume
médio permaneça bem aquém do verificado no mesmo período de 2014. "A
situação, sem dúvida, é preocupante", disse o meteorologista da Funceme,
Leandro Valente.
O volume atual acumulado em média nos 149 açudes monitorados
pela Cogerh é o mais baixo dos últimos dez anos. Compare: Em 2005 era (71%); em
2006, (70,5%); em 2007, (62%); em 2008, (85,8%); em 2009, (96,1%); em 2010,
(79,4%); em 2011 (85,2%); em 2012 (71,1%); em 2013, (48,6%) e em 2014, (32,5%).
Desde 2010 que o índice vem caindo seguidamente.
A bacia hidrográfica em situação mais crítica permanece a dos
Sertões de Crateús que acumula apenas 1,22%. No início deste ano, acumulava
0,6%. Houve, portanto, um pequeno acréscimo, em torno de 0,6%. A bacia do Baixo
Jaguaribe está com 1,53% e a do Curu, com 2,7%. O quadro também permanece grave
na Bacia do Banabuiú que tem volume médio de 5,61%. O quadro mais confortável é
na Bacia do Alto Jaguaribe que tem volume médio de 38,28%.
Se não houver recarga na atual quadra chuvosa, a maioria das
bacias deve chegar ao fim do ano com volume inexpressivo de água para atender a
uma demanda sempre crescente. O governo do Estado tem investido na instalação
de adutoras de montagem rápida para transferência de água entre açudes, mas
essa ação sofre risco de deixar de atender às necessidades das populações
urbanas ante a perda de água nos reservatórios.
Em comparação com o volume acumulado no início deste ano para
ontem houve recarga apenas nas seguintes bacias hidrográficas: Coreaú, que
tinha 15,50% e está com 18,51%; Sertões de Crateús que registrava 0,6% e está
com 1,2%; e Metropolitana que tinha 21,89% e agora acumula 24,16%. As demais,
ou seja, oito, registram queda no volume armazenado.
Recarga
Na Serra da Meruoca, na região Norte, há informações de
recarga em pequenos açudes. Já no município de Quixelô, na região Centro-Sul do
Estado, os reservatórios permanecem secos. O mesmo ocorre na região do Sertão
Central, em Solonópole, Milhã, Deputado Irapuan Pinheiro e Piquet Carneiro.
"As cisternas estão com água, o plantio de milho e
feijão já começou, mas os açudes permanecem secos. Muitos reservatórios só têm
água para mais seis meses, se a situação permanecer como está", disse o
diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Milhã, Mairton Batista.
As esperanças estão lançadas para o próximo mês de abril, que
costuma registrar boas chuvas no Ceará. "A situação é rezar para Deus para
repor os reservatórios", disse Batista. Caso não ocorra recarga nos
açudes, o governo terá de ampliar ainda mais o exército de caminhões-pipa que
abastecem vilas e cidades no Interior e intensificar a perfuração de poços
profundos como solução emergencial.
Mais informações
Funceme Avenida Rui Barbosa, 1246, Aldeota - Fortaleza
Fone: (85) 3101-1117
Cogerh Fone: (85) 3218- 7024
DIÁRIO DO NORDESTE - Honório Barbosa Colaborador
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