O então gerente da Caixa Econômica
Federal (CEF), Israel Batista Ribeiro Júnior, foi peça-chave na liberação de
vários empréstimos obtidos pelo grupo responsável por fraude milionária à
instituição. A reportagem apurou que, no período de maio de 2012 a maio de
2013, ele concedeu 17 financiamentos fraudulentos a empresas investigadas pela
Polícia no valor de R$ 15, 8 milhões. Por sua vez, os investigadores
descobriram que ele obteve vantagem financeira a partir das contas dos
suspeitos da organização criminosa, como quando recebeu duas transferências
eletrônicas, no valor de R$ 35 mil cada.
As informações constam da
investigação sigilosa comandada pela Polícia Federal (PF) que resultou na
deflagração, na manhã da última terça-feira (24), na Operação Fidúcia. A PF
obteve dados de auditoria interna da CEF e iniciou as apurações.
Os investigadores descobriram que
o empresário Ricardo Alves Carneiro, personagem conhecido nas festas mais
badaladas da Cidade e que circulava com desenvoltura por diversos setores da
sociedade, movimentou, em duas contas correntes, no período compreendido de
janeiro de 2012 a outubro de 2014, a quantia de, aproximadamente, R$ 100
milhões.
Dezessete pessoas tiveram as
prisões preventiva e temporária (ver lista) decretadas, mas segundo a PF,
outras 31 teriam ligação com o esquema criminoso que resultou em fraude
milionária à Caixa Econômica Federal (CEF).
Durante a ação, os agentes
cumpriram 56 mandados expedidos pelo juiz Francisco Luís Rios Alves, da 32ª
Vara da Justiça Federal. A PF ainda procura três suspeitos que tiveram os
mandados de prisão expedidos, mas não foram encontrados e são considerados
foragidos.
Durante as buscas, veículos de
luxo foram apreendidos como uma Maserati, com valor estimado em torno de R$ 1,2
milhão; um Porsche, de aproximadamente R$ 600 mil; além de BMWs e Mercedes. Um
avião de pequeno porte, que pertenceria a Ricardo Alves, também foi localizado
em um hangar. Para a Polícia não existe nenhuma dúvida de que Ricardo Alves
Carneiro é o principal integrante do grupo criminoso sob investigação e um dos
chefes da quadrilha. Ele seria responsável pela organização, planejamento e
execução das fraudes cometidas, conforme a PF.
Além disso, teria função
preponderante no aliciamento de pessoas que figuravam como sócias
"laranjas" na constituição das empresas de fachada. Ricardo, de
acordo com as investigações, era o responsável também por aliciar funcionários
da CEF com o objetivo de obter facilidades na concessão dos empréstimos
fraudulentos.
A PF descobriu, durante a
apuração da fraude, que Ricardo Alves Carneiro falsificou sua cédula de
identidade criando o "personagem" de Ricardo Carneiro Filho. Os
agentes descobriram que o endereço e telefone ligados aos documentos são os
mesmos, assim como a filiação e data do nascimento, apenas com algumas modificações.
No entanto, os federais descobriram que ele cometeu erros na apresentação dos
documentos e chegou a se confundir e apresentar os nomes em situações
semelhantes e levantou suspeitas.
Financiamentos
A reportagem apurou que dos vinte
financiamentos ou empréstimos fraudulentos concedidos pela CEF a seis empresas
em que Ricardo Alves Carneiro aparece como sócio, ele foi beneficiado
diretamente em oito deles.
Somente em dois financiamentos
fraudulentos citados na apuração da PF, obtidos pela empresa MP Acto, no valor
total de R$ 3,9 milhões, a quantia de R$ 3, 8 milhões foi transferida para a
conta corrente da empresa RC Construções, cujos sócios são Ricardo Carneiro e o
irmão dele Diego Pinheiro Carneiro.
Além de Ricardo e Diego, o irmão,
Fernando Hélio Alves Carneiro, teria movimentado R$ 9 milhões, em um ano e dez
meses, em conta aberta com o nome falso de Hélio Alves Carneiro. De acordo com
as investigações, de vinte financiamentos fraudulentos concedidos aos
suspeitos, 13 foram destinados a aquisição de máquinas, equipamentos e outros
bens novos e usados para micro e pequenas empresas.
Os bens adquiridos ficariam
alienados fiduciariamente (como garantia), podendo ainda ser exigidas outras
garantias adicionais. Outros sete empréstimos foram concedidos como Crédito
Especial Empresa, Cheque Especial Empresa e Girocaixa Fácil, que são
empréstimos sem destinação específica.
Os valores foram liberados,
conforme as apurações da PF, sem o atendimento de exigências legais. Para a
Polícia Federal, não existem dúvidas que o então gerente de Atendimento de
Pessoa Jurídica da CEF, Israel Batista Júnior agiu intencionalmente e favoreceu
as empresas alvo da investigação.
Denúncia
O advogado Leandro Duarte
Vasques, que representa 11 suspeitos investigados pela PF, afirmou que cinco
empresários e clientes dele apresentaram denúncia, em agosto do ano passado,
dizendo terem sido vítimas de Ricardo Carneiro e que tiveram os nomes usados de
forma ilegal para obtenção de empréstimos junto à CEF.
No documento, os empresários
detalham terem conhecido Ricardo Carneiro, em 2012, e que ele os ajudaria na
abertura de empresa para realização de obras e reformas. No entanto, afirmam
que tiveram os nomes usados em golpes aplicados por Ricardo Carneiro. Eles
alegam que não são 'laranjas' e foram "surpreendidos" com empréstimos
que nunca contraíram.
Vasques afirmou que já ingressou
com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal (TRF), da 5ª Região,
em Recife. Ele informou ainda que o cliente dele e gerente da CEF, Jaime Dias
Frota Filho, havia denunciado o esquema aos superiores dele, nos meses de julho
e agosto de 2013
Os advogados Flávio Jacinto e
Cláudio Queiroz, que fazem a defesa do empresário Ricardo Carneiro e dos irmãos
dele, afirmaram que assumiram o caso ontem e ainda estavam tomando ciência das
acusações. Já os representantes legais de Israel Batista Júnior não foram
localizados pela reportagem.
PROTAGONISTA
Festas, mansões, carros de luxo e
até avião
O empresário é apontado pelos
investigadores da Polícia Federal (PF) como o chefe da organização criminosa
que estaria por trás da fraude milionária aos cofres da Caixa Econômica Federal
(CEF)
Ricardo Alves Carneiro Empresário
Diário do Nordeste - Emerson Rodrigues Editor de Polícia
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