quarta-feira, 25 de março de 2015

POLUIÇÃO: MORTANDADE DE PEIXE NO AÇUDE ORÓS CAUSA PREJUÍZOS DE R$ 1,5 MILHÃO

O pescado começou a morrer na madrugada da última segunda-feira de forma rápida, já que, em poucas horas, todo o peixe que se encontrava em 320 gaiolas estava perdido, em média, foi de 30% da produção
Quixelô Mais um caso de mortandade de peixe criado em tanques-redes na bacia do Açude Orós, na região Centro-Sul do Ceará, trouxe danos para cerca de 150 piscicultores familiares. O prejuízo é estimado, inicialmente, em R$ 1,5 milhão. O clima na localidade de Jiqui, zona rural do Município, é de desolação. As gaiolas estão lotadas de pescado morto, boiando. As vendas planejadas para a Semana Santa que se aproxima estão frustradas.

O pescado começou a morrer na madrugada desta segunda-feira. "Foi rápido e em poucas horas morreu todo o peixe que estava em 320 gaiolas", contou o piscicultor, Francisco Jorge de Souza, conhecido por Carlão. "Somente o prejuízo do nosso grupo de produção chega a 400 mil reais". Outros lotes registraram perda variada entre 30% e 70% do pescado.

Boiando

Desde segunda-feira que os produtores começaram o trabalho de recolhimento dos peixes mortos que estão boiando nas gaiolas. O serviço é lento, pesado e insalubre em meio ao mau cheiro que exala.

O pescado é recolhido manualmente e colocado em barcos e canoas. Levado até a margem, é transportado em uma caçamba para uma vala que foi aberta no Sítio Vassouras.

A Prefeitura do Município atendeu ao pedido dos piscicultores e cedeu uma caçamba e uma máquina retro-escavadeira para o trabalho de retirada e depósito do pescado nas valas. Os produtores estão abatidos, mas não esmoreceram para realizar o serviço de limpeza das gaiolas. "Não podemos parar, mas ainda não sabemos o que fazer amanhã", disse o piscicultor Márcio José de Lima.

O piscicultor Ricardo Alexandre de Lima coordena um grupo de 14 famílias e disse ter perda de 30%. "O nosso prejuízo é estimado em 150 mil reais e o nosso temor é o restante do peixe morrer nos próximos dias", disse. A apreensão é justificada. A água do açude Orós que acumula 46% de sua capacidade está cada vez mais poluída. A cor é esverdeada e apresenta baixo índice de oxigenação nas margens. A lama sobe e escurece a água superficial.

Sem oxigenação

Os produtores acreditam que a falta de oxigenação causou a morte dos peixes. Essa foi a primeira grande perda registrada entre os piscicultores neste município. Os produtores têm dívidas com o Banco do Brasil, financiador da atividade no Município, e esperam obter prorrogação do prazo de pagamento em decorrência do prejuízo. Em maio, vão vencer parcelas no valor de R$ 40 mil para cerca de 20 grupos. "Vamos solicitar ampliação do prazo de vencimento das parcelas, pedir ajuda às autoridades para superar essa dificuldade que é enorme", disse a presidente da Associação dos Aquicultores de Quixelô, Gessilene Josino de Araújo.

Reunião

Na manhã de hoje, coordenadores de grupos de produção e a prefeita de Quixelô, Fátima Gomes, vão se reunir para definir estratégias de reivindicação às autoridades estaduais.

"Vamos concluir um relatório sobre os prejuízos e apresentar as autoridades e ao banco que precisam conhecer o nosso drama", disse Gessilene Araújo. "Defendemos que esta atividade que é de risco e financiada pelo Pronaf tenha um seguro".

Há cinco anos, foi implantado o projeto de criação de tilápia de forma intensiva em lotes aquíferos, na bacia do Açude Orós, em águas que banham as localidades de Jiqui, Boa Vista, Ilha Grande e Vassouras, em Quixelô, beneficiando, inicialmente, 44 famílias.

A atividade produtiva ocorreu por meio do programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), com recursos oriundos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

O projeto foi ampliado e, atualmente, são mais de 150 famílias e cerca de três mil gaiolas em produção. No início deste ano, os tanques-redes foram transferidos para o sítio Vassouras. "O açude está secando, as águas estão distantes", disse o piscicultor, Márcio José de Lima. "Se não houver recarga no açude, a situação dos criadores de tilápia vai ficar muito difícil".

O temor é de perda de receita. O quilo do pescado é vendido na beira d'água por R$ 6,00, mas esse valor varia dependendo do tamanho do peixe. A produção é escoada para vários municípios do Estado e até para o Piauí.

Renda

É um projeto que estava dando certo. Houve melhoria significativa de renda dos piscicultores, que construíram boas casas de alvenaria em substituição às antigas habitação de taipa, além da compra de veículos e de eletrodomésticos diversos.

Em fevereiro passado, produtores de tilápia em tanques-redes no Açude Orós, em águas daquele Município, enfrentaram um novo ciclo de mortandade do pescado. Outro registro de morte verificou-se em abril de 2014. Os sucessivos casos mostram que é preciso haver redução da quantidade de pescado nas gaiolas, uma vez que o açude vem reduzindo volume de água.

O Orós tornou-se um dos maiores produtores de peixe da espécie tilápia em cativeiro, no Estado do Ceará. São cerca de 500 famílias, em 18 comunidades, envolvidas com a atividade econômica e uma produção mensal estimada em 420 toneladas. Nos últimos dez anos, a criação de pescado trouxe uma significativa melhoria de renda para os moradores, que antes viviam da pesca artesanal e da agricultura de subsistência.

Mais informações
Secretaria de Agricultura de Quixelô: R. Pedro Gomes de Araújo, S/N, Centro - (88) 3579-1210
Associação dos Aquicultores de Quixelô: (88) 9804-8726


Diário do Nordeste: Honório Barbosa Colaborador

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