Quixelô Mais um caso de mortandade de peixe criado em
tanques-redes na bacia do Açude Orós, na região Centro-Sul do Ceará, trouxe
danos para cerca de 150 piscicultores familiares. O prejuízo é estimado,
inicialmente, em R$ 1,5 milhão. O clima na localidade de Jiqui, zona rural do
Município, é de desolação. As gaiolas estão lotadas de pescado morto, boiando.
As vendas planejadas para a Semana Santa que se aproxima estão frustradas.
O pescado começou a morrer na madrugada desta segunda-feira.
"Foi rápido e em poucas horas morreu todo o peixe que estava em 320
gaiolas", contou o piscicultor, Francisco Jorge de Souza, conhecido por
Carlão. "Somente o prejuízo do nosso grupo de produção chega a 400 mil reais".
Outros lotes registraram perda variada entre 30% e 70% do pescado.
Boiando
Desde segunda-feira que os produtores começaram o trabalho de
recolhimento dos peixes mortos que estão boiando nas gaiolas. O serviço é
lento, pesado e insalubre em meio ao mau cheiro que exala.
O pescado é recolhido manualmente e colocado em barcos e
canoas. Levado até a margem, é transportado em uma caçamba para uma vala que
foi aberta no Sítio Vassouras.
A Prefeitura do Município atendeu ao pedido dos piscicultores
e cedeu uma caçamba e uma máquina retro-escavadeira para o trabalho de retirada
e depósito do pescado nas valas. Os produtores estão abatidos, mas não
esmoreceram para realizar o serviço de limpeza das gaiolas. "Não podemos
parar, mas ainda não sabemos o que fazer amanhã", disse o piscicultor
Márcio José de Lima.
O piscicultor Ricardo Alexandre de Lima coordena um grupo de
14 famílias e disse ter perda de 30%. "O nosso prejuízo é estimado em 150
mil reais e o nosso temor é o restante do peixe morrer nos próximos dias",
disse. A apreensão é justificada. A água do açude Orós que acumula 46% de sua
capacidade está cada vez mais poluída. A cor é esverdeada e apresenta baixo
índice de oxigenação nas margens. A lama sobe e escurece a água superficial.
Sem oxigenação
Os produtores acreditam que a falta de oxigenação causou a
morte dos peixes. Essa foi a primeira grande perda registrada entre os
piscicultores neste município. Os produtores têm dívidas com o Banco do Brasil,
financiador da atividade no Município, e esperam obter prorrogação do prazo de
pagamento em decorrência do prejuízo. Em maio, vão vencer parcelas no valor de
R$ 40 mil para cerca de 20 grupos. "Vamos solicitar ampliação do prazo de
vencimento das parcelas, pedir ajuda às autoridades para superar essa
dificuldade que é enorme", disse a presidente da Associação dos
Aquicultores de Quixelô, Gessilene Josino de Araújo.
Reunião
Na manhã de hoje, coordenadores de grupos de produção e a
prefeita de Quixelô, Fátima Gomes, vão se reunir para definir estratégias de
reivindicação às autoridades estaduais.
"Vamos concluir um relatório sobre os prejuízos e
apresentar as autoridades e ao banco que precisam conhecer o nosso drama",
disse Gessilene Araújo. "Defendemos que esta atividade que é de risco e
financiada pelo Pronaf tenha um seguro".
Há cinco anos, foi implantado o projeto de criação de tilápia
de forma intensiva em lotes aquíferos, na bacia do Açude Orós, em águas que
banham as localidades de Jiqui, Boa Vista, Ilha Grande e Vassouras, em Quixelô,
beneficiando, inicialmente, 44 famílias.
A atividade produtiva ocorreu por meio do programa de
Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), com recursos oriundos do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
O projeto foi ampliado e, atualmente, são mais de 150
famílias e cerca de três mil gaiolas em produção. No início deste ano, os
tanques-redes foram transferidos para o sítio Vassouras. "O açude está
secando, as águas estão distantes", disse o piscicultor, Márcio José de
Lima. "Se não houver recarga no açude, a situação dos criadores de tilápia
vai ficar muito difícil".
O temor é de perda de receita. O quilo do pescado é vendido
na beira d'água por R$ 6,00, mas esse valor varia dependendo do tamanho do
peixe. A produção é escoada para vários municípios do Estado e até para o Piauí.
Renda
É um projeto que estava dando certo. Houve melhoria
significativa de renda dos piscicultores, que construíram boas casas de
alvenaria em substituição às antigas habitação de taipa, além da compra de
veículos e de eletrodomésticos diversos.
Em fevereiro passado, produtores de tilápia em tanques-redes
no Açude Orós, em águas daquele Município, enfrentaram um novo ciclo de
mortandade do pescado. Outro registro de morte verificou-se em abril de 2014.
Os sucessivos casos mostram que é preciso haver redução da quantidade de
pescado nas gaiolas, uma vez que o açude vem reduzindo volume de água.
O Orós tornou-se um dos maiores produtores de peixe da
espécie tilápia em cativeiro, no Estado do Ceará. São cerca de 500 famílias, em
18 comunidades, envolvidas com a atividade econômica e uma produção mensal
estimada em 420 toneladas. Nos últimos dez anos, a criação de pescado trouxe
uma significativa melhoria de renda para os moradores, que antes viviam da
pesca artesanal e da agricultura de subsistência.
Mais informações
Secretaria de Agricultura de Quixelô: R. Pedro Gomes de
Araújo, S/N, Centro - (88) 3579-1210
Associação dos Aquicultores de Quixelô: (88) 9804-8726
Diário do Nordeste: Honório Barbosa Colaborador
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