Iguatu Dois meses depois de os municípios assumirem a
responsabilidade legal pelo serviço de manutenção da iluminação pública a
situação permanece indefinida na maioria das cidades. Na prática, o trabalho
ainda não começou. As reclamações dos moradores vêm aumentando a cada semana
com o crescimento do número de lâmpadas queimadas. Esse quadro deve se agravar
nesse período de chuvas.
Desde 1º de janeiro passado que os municípios brasileiros têm
a responsabilidade legal de administrar seus parques de iluminação pública como
determina a Resolução Normativa Nº 587/2013, da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel).
De acordo com números divulgados, nesta semana, pela
Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), dos 184 municípios,
apenas 46 (equivalente a 25%) assinaram acordo de recebimento do acervo de
iluminação pública. Vinte e seis Prefeituras obtiveram liminar na Justiça e,
por enquanto, estão isentas da responsabilidade do serviço. Outras 85 cidades
encaminharam ofícios à Coelce, pedindo revisão do parque de iluminação, pois
alegam existência de inúmeras lâmpadas e luminárias quebradas e queimadas.
Um exemplo vem desta cidade na região Centro-Sul do Ceará. O
prefeito Aderilo Alcântara disse que está com o contrato na gaveta e somente
assinará o documento depois que a empresa fizer os reparos nas luminárias e
trocas de lâmpadas queimadas. "Não vamos receber um parque com muitos
problemas, lâmpadas queimadas, luminárias quebradas e de tamanhos e modelos
diferentes", frisou. "Já solicitamos ao Ministério Público do Estado
uma audiência para firmarmos um ajustamento de conduta com a Coelce".
O gestor de Iguatu aguarda a audiência na expectativa de que
a Coelce irá fazer uma revisão do parque de iluminação pública. "Sabemos
que é fato, os municípios têm de receber o serviço por determinação legal, mas
a mesma norma obriga as concessionárias entregarem o acervo em bom estado de
conservação e funcionamento", disse Alcântara. "O que vimos, em
muitas cidades, foi a Coelce praticamente abandonar a manutenção, tendo em
vista a proximidade do prazo de transferência dos serviços para os
municípios".
Lâmpadas queimadas
A população reclama das lâmpadas queimadas. "Há quinze
dias que mais de cinco postes estão às escuras", disse a dona de casa,
Marlene Lima, moradora do Bairro Flores, em Iguatu. Os consumidores que
mensalmente pagam a taxa de iluminação pública em suas contas de luz ficaram
prejudicados. Esse problema vem ocorrendo na maioria das cidades. Uma exceção é
Crateús que recebeu a iluminação pública e já contratou empresa que mantém a
manutenção em dia, criando até o programa "Luzes da Cidade".
O presidente da Aprece, Expedito José do Nascimento, disse
que, dos 85 municípios que solicitaram revisão e conserto no parque de iluminação
pública, a Coelce já atendeu 42. "Esperamos que as outras pendências sejam
logo resolvidas", frisou. "Há dois tipos de reclamação. Uma vem dos
prefeitos que dizem que a Coelce não entregou o parque funcionando
adequadamente e a outra é dos moradores que reclamam das lâmpadas queimadas, de
ruas às escuras".
Expedito Nascimento avalia que a situação ainda está
indefinida na maioria das cidades, pois 63 Prefeituras não enviaram ofício à
Coelce solicitando revisão do acervo de iluminação pública e 26 estão sob
liminar. Enquanto isso, poucas prefeituras encaminharam licitação para
contratação de empresa especializada para assumir a manutenção do serviço.
"Há muitos interesses", observou. "Creio que o melhor caminho
seria a formação de consórcio entre pequenas cidades, mas esse processo não
avançou".
Os prefeitos das pequenas cidades alegam custo elevado para
contratar as empresas especializadas para o serviço. "A situação é
complicada, a Coelce não fez a manutenção devida e 70% das luminárias não estão
funcionando", disse o prefeito de Altaneira, Delvamberto Soares.
"Esperamos uma reunião na Aprece com a Coelce para resolver essa
pendência". Soares ainda não assinou contrato de recebimento do parque de
iluminação.
Os municípios de Jucás, Acopiara e Icó obtiveram liminar
judicial e não firmaram o contrato com a Coelce. Os gestores sabem que a
decisão provisória da Justiça vai ser derrubada, mas, por enquanto, não
adotaram ações concretas. Eles sabiam que iriam assumir o serviço, mas não se
prepararam e somente agora estão discutindo como irão fazer. Empresas
interessadas já estão batendo à porta de muitas Prefeituras, oferecendo o
serviço.
A Coelce vai continuar como arrecadadora da Taxa de
Iluminação Pública e vai cobrar das prefeituras a execução do serviço, cujos
recursos serão repassados aos municípios.
Em nota encaminhada pela Gerência de Comunicação, a Coelce
informou que tem feito o atendimento dos pedidos de manutenção do acervo de
iluminação pública de duas formas: pelo Call Center e por ofícios enviados
pelas Prefeituras e Câmaras municipais. Informou também que todas as
reclamações feitas até 31/12/2014 já foram ou estão sendo atendidas.
As empresas terceirizadas devem ser cadastradas na Coelce e
seguir todas as normas e procedimentos indicados pela Companhia. A Coelce
frisou que realizou encontros regionais, ao longo de 2014, por meio da Aprece,
para explicar o processo aos prefeitos e tirar dúvidas. A companhia oferece
atendimento ao poder público e suporte técnico para o cumprimento da resolução
normativa e afirma que mantém aberto ao diálogo.
DIÁRIO DO NORDESTE - Honório Barbosa Colaborador
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