O contador de cinco empresas
investigadas pela Polícia Federal (PF) na 'Operação Fidúcia', que apura uma
fraude milionária contra à Caixa Econômica Federal (CEF), não possui registro
nos órgãos regionais da classe e constam, pelo menos, dois números do Cadastro
Nacional de Pessoa Física (CPF) em nome dele, mas nenhum é válido. A informação
que a reportagem teve acesso chamou a atenção dos investigadores que, por meio
de autorização judicial, quebraram os sigilos telefônicos, bancário e fiscal
dos suspeitos de envolvimento no golpe. A Polícia acredita que o suposto
contador não existe e que, desta forma, documentos assinados em nome dessa
pessoa e apresentados pelas empresas quando da obtenção dos empréstimos são
falsos.
Conforme a investigação, as
empresas BNC, Bulgari, Conde, Rede e HTech têm o mesmo contador. Ao checar a
informação sobre os dados do profissional junto ao Conselho Regional do Ceará
(CRC-CE), os agentes descobriram que o número do registro que pertenceria a
ele, na verdade, pertence a outro contador. Em outro documento entregue à CEF
quando da solicitação de empréstimos, a empresa Rede informou o número do
registro do suposto profissional como sendo do Estado do Pará, mas a inscrição
também não consta no nome dele, mas no de outro profissional liberal.
As empresas investigadas têm como
sócios os irmãos Fernando Hélio Alves Carneiro, Diego Pinheiro Carneiro e
Ricardo Alves Carneiro, apontados pela PF, como os "cabeças" do
esquema criminoso. Diego e Ricardo permanecem presos em Fortaleza, por força de
mandados de prisão preventiva expedidos pelo Juízo da 32ª Vara Federal no
Ceará. Além deles, permanecem recolhidos o ex-gerente pessoa jurídica da CEF,
Israel Batista Ribeiro Júnior; e o empresário José Hybernon Cysne Neto, preso
no Rio de Janeiro e recolhido na carceragem da PF fluminense.
Fraudes
Verificando as informações
coletadas durante as investigações sobre somente uma empresa, é possível
perceber os indícios de fraude, aos quais os investigadores se debruçaram.
Segundo documentos obtidos
durante as investigações, em 10 de agosto de 2009, a empresa BNC Engenharia de
Construções Ltda foi constituída.
Em agosto de 2012, um alteração
no contrato alterou o objeto social das empresas e substituiu os sócios. No
entanto, apenas dezesseis dias após a alteração contratual, um dos sócios
nomeou Fernando Hélio Alves Carneiro, sócio proprietário das empresas Bulgari e
Rede, como procurador. Por sua vez, Fernando Hélio Alves nomeou como procurador
dele o irmão Diego Pinheiro Carneiro, que é sócio da empresa RC Construções.
Apesar de ter o capital social de
apenas R$ 10 mil, a empresa conseguiu empréstimos no valor de aproximadamente
R$ 4 milhões, todos autorizados pelos gerentes e supervisores da CEF.
A PF concluiu, também que o
balanço patrimonial apresentado pela empresa BNC junto à Caixa Econômica é falso,
"já que o contador que assina tal documento não existe".
Outra descoberta dos
investigadores é que a sede da empresa informada no contrato de locação
apresentado à CEF também não existe. Irregularidades semelhantes foram ainda
encontradas nas outras empresas, como o uso de "laranjas" como
sócios, ausência de empregados e falsificação de documentos, pois teriam sido
assinados por contador que não existe.
A PF obteve dados de auditoria
interna da CEF, que já confirmou uma fraude de R$ 20 milhões e iniciou as
apurações que resultaram, no último dia 24 de março, em 14 pessoas presas,
preventiva e temporariamente, além do cumprimento de 25 mandados de busca e
apreensão. Na ocasião, os agentes confiscaram entre outros bens, 14 veículos,
como uma Maserati, com valor estimado em torno de R$ 1,2 milhão; um Porsche, de
aproximadamente R$ 600 mil; além de BMWs e Mercedes.
Um avião de pequeno porte,
avaliado em torno de R$ 350 mil, também foi apreendido. Duas contas bancárias,
com mais de US$ 800 mil, também foram descobertas nos Estados Unidos, no nome
de um dos investigados. A Polícia ainda apreendeu as quantias de R$ 192 mil,
US$ 10 mil, além de diversas joias e relógios.
Diário do Nordeste - Emerson
Rodrigues Editor de polícia
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