Nesta segunda-feira, 18,
celebra-se o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes, data que representa um marco na luta em defesa dos direitos da
população infanto-juvenil brasileira. Entretanto, o tempo não é para
comemorações. Tendo como base as estatísticas da Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS), o Ceará registrou 381 casos de violação sexual
a menores de idade somente de janeiro a abril de 2015.
Em todo o ano passado, o órgão
estadual contabilizou 1.371 ocorrências deste tipo, sendo que 742 envolviam
crianças de até 11 anos de idade. A título de comparação, é como se, a cada
quatro dias, 15 novas vítimas fossem feitas.
Com o objetivo de trazer este
assunto ao debate na Capital cearense, diversas entidades ligadas à defesa dos
direitos das crianças e dos adolescentes estão realizando uma série de ações
educativas ao longo desta semana, em vários pontos da cidade. As atividades em
alusão ao dia 18 tiveram início na última sexta-feira, com a palestra
"Proteja Brasil: crianças e adolescentes livres da violência",
realizada na Assembleia Legislativa, por iniciativa da Prefeitura de Fortaleza
e do governo do Estado. Na oportunidade, a psicóloga Helena Damasceno, que foi
vítima de abuso sexual dos cinco aos 19 anos, contou como foi a experiência de
ter tido a inocência interrompida pelas agressões de um tio, dentro da própria
casa em que morava.
"Tive comprometida toda a
infância, toda a adolescência e o início da vida adulta. Isso numa época em que
não havia os mecanismos de amparo que existem hoje. Eu não fui a primeira, nem
a última vítima do mesmo agressor, dentro da mesma família, no mesmo espaço",
relembra.
Para a psicóloga, as crianças que
passam por este tipo de situação não encontram facilidade em delatar seus
agressores. "É extremamente delicado dizer que foi o pai ou o tio. Mas, é
sempre alguém que detém a confiança da criança. Sempre alguém que ela ama,
admira e confia. O agressor não precisa ter uma faca ou um revólver. Ele é a
própria arma. O olhar, o suor, o nome, a voz, a sombra, e até o simples fato de
ele existir já intimidam a vítima", explica.
Ainda conforme Helena, caso não
haja uma quebra na sequência de atos criminosos direcionados às vítimas, elas
tendem a achar a situação natural. "Quando a violência não é interrompida,
tem desdobramentos em algum lugar. As crianças serão adultos que vão, de alguma
maneira, replicar essa violência", finaliza.
Na Capital, um dos principais
trabalhos de acolhimento a vítimas de abuso sexual infanto-juvenil é feito pela
Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), vinculada à Secretaria
Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra). Segundo
dados da entidade, as regiões da cidade que mais necessitam de atenção são as
que compreendem a Barra do Ceará, o entorno do Castelão e as saídas para as
rodovias federais. Entretanto, áreas turísticas, como a Avenida Beira-Mar e a
Praia de Iracema também são alvo de ações, sobretudo educativas.
"O tema não é fácil de ser
trabalhado, mas é real", pondera a presidente da Funci, Tânia Gurgel. Para
a assistente social, prevenir a violação sexual é a melhor maneira de
combatê-la. "Escolas de qualidade, atividades fora do horário de classe,
rodas de conversas com adolescentes são algumas das principais medidas para
evitar situações de abuso. O discurso de um professor feito de maneira didática
tem resultado fantástico", destaca Tânia.
A Funci atua com assistentes
sociais e psicólogos e conta com a assistência de instituições vinculadas à
área da saúde, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Quando o ato de
violação é consumado, a entidade passa a trabalhar em duas frentes específicas,
sendo uma voltada à família, visando à conscientização dos parentes, e outra à
vítima, no sentido de tentar reduzir possíveis traumas. Entretanto, segundo
Tânia, cada caso necessita de um tratamento específico. "Não há uma
fórmula, e é por isso que o desafio é muito grande", ressalta.
Hoje será promovida caminhada, na
Avenida Beira-Mar, a partir das 16h, como forma de chamar a atenção dos
frequentadores da área. Amanhã e na quarta-feira, as atividades serão no Cuca
Barra, com apresentações artísticas voltadas para o tema.
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário