terça-feira, 26 de maio de 2015

Ceará vai requerer estado de emergência para 155 cidades

FORTALEZA/ Missão Velha. A informação foi dada ontem, pelo titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Dedé Teixeira, durante a reunião semanal do Comitê Integrado da Seca, que acontece no Comando do Corpo de Bombeiros Militar, na capital. Apesar de ser um número parecido com o das cidades onde foi decretado o estado de emergência no ano passado, a expectativa do governo é que em 2015 haja um custo maior nas ações de combate à seca, especialmente para a Operação Carro-Pipa. De acordo com Dedé Teixeira, os centros de captação de água estão mais distantes, o que aumenta as despesas para o atendimento das demandas hídricas.

Durante a reunião também foram debatidos o Programa Água para Todos, que consiste na construção de cisternas por meio de parceria entre o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e os Estados. Segundo o secretário, a ideia do governo do Estado é revitalizar essa iniciativa, que tem sido "alardeada pela mídia" sobre suposta inserção da iniciativa privada.

Safra

Dedé Teixeira informou que, até o fim deste mês, haverá uma avaliação dos prejuízos da agricultura de sequeiro. Ele explicou que os relatórios já começaram a ser enviados, embora o pagamento de seguros somente ocorra quando há perda superior a 50% do cultivo. "São recursos pequenos, mas importantes para os produtores que perderam suas safras".

O gerente do Núcleo de Respostas da Defesa Civil do Estado, capitão Nilson Uchoa, disse que o cuidado que está sendo mantido é para atender às exigências do governo federal. Segundo Uchoa, a apreciação dos pedidos de estado de emergência considera que pleitos atinjam os parâmetros estabelecidos pelas normas requeridas.

A reunião do Comitê Integrado de Combate à Seca ocorre sempre nas manhãs das segundas-feiras e, por mais uma vez, foi fechada à imprensa. Apesar da participação dos órgãos governamentais estaduais e representações da sociedade civil, uma ausência sentida foi a do representante do Dnocs, que abordaria o Programa Água para Todos. Também não houve a presença de integrantes do Exército Brasileiro, responsável pela Operação Carro-Pipa na zona rural. Segundo Dedé Teixeira, muitos dos pleitos em discussão já se inserem Plano Estadual de Convivência da Seca, lançado pelo governador Camilo Santana, em 25 de fevereiro passado.

O agravamento dos efeitos da seca tem intensificado os pedidos de estado de emergência. Somente nesta semana, mais 50 cidades terão seus pedidos apreciados. O drama ocasionado pela falta d'água no Interior também esteve na pauta de discussão do governador Camilo Santana e da presidente Dilma, em Brasília, na semana passada.

Cinturão das Águas

A falta de chuvas na quadra chuvosa deste ano e a confirmação, pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), de que o fenômeno El Niño poderá reduzir as precipitações também em 2016 não são as únicas preocupações das autoridades cearenses em relação à estiagem que já dura três anos e tem ocasionado a diminuição das RESERVAShídricas em grande parte dos municípios interioranos. O atraso no repasse de verbas federais para manutenção de programas, obras e projetos voltados a diminuir o impacto ocasionado pela falta das precipitações tem deixado aceso o sinal de alerta do governo do Estado.

Na última sexta-feira (22), o governador Camilo Santana visitou, ao lado de uma comitiva de 12 deputados estaduais, as obras da Transposição do São Francisco, no município de Jati; e do Cinturão das Águas, no lote 5, em Missão Velha. Ambas as obras sofreram atrasos em seus cronogramas por conta da falta da liberação de recursos da União, por meio do Ministério da Integração Nacional, que acabaram gerando, inclusive, greves e demissões de operários.

O Cinturão das Águas é uma obra do governo do Estado, que irá captar água da barragem de Jati, do projeto da Transposição do Rio São Francisco, e distribuir para as regiões mais afetadas pelas secas do Ceará. O trecho 1 inclui 12 cidades do Cariri, de Jati a Cariús. Serão investidos, até a conclusão do trecho, responsável pela primeira etapa do projeto, cerca de R$ 1,6 bilhão. A expectativa é que sejam beneficiadas, somente nesta etapa, mais de um milhão de pessoas na região do Cariri.

Para que estes benefícios aconteçam, no entanto, é preciso haver a conclusão das obras da Transposição do São Francisco no trecho que passa pelo Ceará. A entrega deste trecho, inclusive, é vista pelo governo cearense como imprescindível para que haja garantia hídrica nas regiões interioranas mais afetadas pela seca, nos próximos vinte anos.

O governo avalia que as obras resultarão na garantia de abastecimento para cerca de dois terços da população do Ceará. "Nós vamos garantir a segurança hídrica para quase dois terços da população do Ceará. O Cinturão das Águas vai trazer a água para o lado oeste do Estado, a partir da Transposição, em Jati. Nesse primeiro trecho, nós vamos conseguir levar a água até Cariús e, depois, até o Jaguaribe", explicou Camilo Santana.

O secretário dos Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, reconheceu que essa fase da obra está com os cronogramas atrasados. "A maior parte dos recursos vem do governo Federal. Nós estamos com dificuldades nestes recursos. Estamos mantendo a obra com 1.300 pessoas. Tem atraso de cronograma, sim. Mas, o que é importante, é que, mesmo numa crise que o País está vivendo, nós estamos mantendo esta obra viva, fazendo as partes mais críticas, que são os túneis e os sifões", disse.

Outro problema decorrente de atrasos de repasses federais se refere à paralisação na produção de cisternas de polietileno, do Projeto Água Para Todos. Em Tauá, na região dos Inhamuns, por exemplo, uma fábrica instalada na cidade para produção dos equipamentos está paralisada há cerca de dois meses por conta do não cumprimento no repasse de recursos do convênio firmado entre o governo do Ceará e o Ministério da Integração Nacional, no valor de R$ 28,5 milhões, que garantiria a produção de cerca de 5.960 cisternas.

Essa paralisação revela que o ritmo das ações da União para a convivência com a seca que se prolonga desde 2012 está em descompasso com a realidade que se agrava no sertão. A preocupação maior é com a escassez de recursos hídricos para atender às famílias dos centros urbanos e também da zona rural.

No domingo (24) o governador se reuniu com deputados federais cearenses para discutir a situação da seca no Ceará. A reunião, que durou cerca de três horas, aconteceu no Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado. Dos 184 municípios que formam o Ceará, 67 já receberam do governo Federal o reconhecimento do estado de emergência decorrente da diminuição das chuvas neste ano. Outros 23 sofrem colapso hídrico. "Estamos criando uma metodologia para que a GENTE possa, periodicamente, reunir a bancada federal e debater pontos de interesse do Estado", disse.

Dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) revelam que o nível dos 151 açudes monitorados pelo órgão é o mais baixo dos últimos 17 anos. Em janeiro de 2015 o volume dos reservatórios atingia, em média, 21% da capacidade de armazenamento. Atualmente, este índice caiu para 19,7% da capacidade total.

Em Nota, o Ministério da Integração Nacional informou que o Projeto de Integração do Rio São Francisco possui duas etapas de obras que passam pelo Estado do Ceará: Meta 2Norte, com 55,6% de execução, e a Meta 3Norte, com 83,6%. As obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco estão previstas para serem concluídas nos próximos dois anos, sendo que a chegada da água pela barragem de Jati continua prevista para o primeiro semestre de 2016.

O Ministério destacou já ter repassado R$ 304,7 milhões ao governo do Ceará para execução do Trecho I do Cinturão das Águas. Em 2015, conforme a nota, foram repassados R$ 47,5 milhões. Há repasses também programados para os próximos meses. Sobr o Água para Todos, o Ministério não se pronunciou.


Marcus Peixoto/Roberto Crispim - Repórter/Colaborador Diário do Nordeste 

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