As rotas do tráfico de droga aéreo já existem há anos no
Brasil, porém a ampliação delas é um fato relativamente novo, conforme a
Polícia Federal (PF). Os indícios de que o esquema criminoso, operado por
diferentes quadrilhas, está se espalhando pelo País têm ficado evidentes com as
investigações e apreensões. O trabalho da Polícia se volta, neste momento, para
a elucidação de como as aeronaves conseguem desviar os radares e chegar ao
destino, sem serem percebidas em nenhum ponto.
Conforme o investigador Baker Martins, da Polícia Civil do
Piauí, parte do Ceará e do Piauí não é monitorada pelos radares da Força Aérea
Brasileira (FAB). O agente, que trabalha no caso do avião que trazia 250Kg de
cocaína e explodiu na divisa dos Estados, no último dia 11 de abril, afirmou
que a área entre Crateús e Assunção do Piauí, por exemplo, não é coberta pelos
equipamentos.
"Fora da faixa de abrangência do radar, se uma aeronave
voa com o transponder desligado, ela não é detectada e é isto que os pilotos
dos monomotores do tráfico têm feito. Esta é uma grande dificuldade da Polícia.
Se houvesse o equipamento que nos avisasse sobre a aproximação de aeronaves
suspeitas seria mais fácil fazer interceptações", explicou Baker Martins.
O investigador lotado na Delegacia Regional de Campo Maior
afirmou que o radar mais próximo da fronteira Ceará/Piauí cobre cerca de 150Km,
mas isto não é o suficiente para atender a região citada. "O que é
apreendido é muito pouco, diante do que consegue chegar. Acreditamos que quando
as quadrilhas perceberam que existiam pontos descobertos pela fiscalização,
passaram a montar suas estratégias de voo com base nisto", declarou.
De acordo com ele, a pista clandestina de Assunção, onde a
aeronave tentava pousar quando explodiu, já foi destruída, mas os moradores das
redondezas têm denunciado pousos suspeitos. "As investigações estão em
andamento e muita coisa precisa ser esclarecida, inclusive a frequência com que
estes aviões vêm até a fronteira abastecer os dois Estados. Pelos levantamentos
que fizemos, pelo menos uma vez por mês, uma carga de cocaína chega a esta
região nos monomotores", revelou.
Internacional
O piloto do avião que caiu no Piauí teve a ossada
desintegrada no sinistro. Ele foi identificado dias depois, por um exame de DNA
realizado pelo Instituto de Medicina Legal (IML) do Estado. O laudo atestou que
quem comandava a aeronave era Antenor José Pedreira, o 'Dodó', 61, investigado
no ano 2000 pelo Congresso Nacional, durante a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Narcotráfico, sob suspeita de transportar cocaína da Bolívia
para o Brasil. Ele já teria prestado serviços à organização criminosa da qual
participava Luiz Fernando da Costa, o 'Fernandinho Beira-Mar'.
'Dodó' tinha sido preso pela Polícia Federal, em 1999, em
Goiás. Na ocasião foi indiciado por transportar 800Kg de droga para o Brasil.
Conforme a Polícia piauiense, quando fazia a rota em que acabou morto, o piloto
pousava em Assunção do Piauí, onde já era aguardado por quem recebia os pacotes
que ele arremessava. Em seguida, ia para Crateús abastecer a aeronave.
"Quando descobrimos detalhes do esquema, como é o caso deste piloto, vemos
que o que aconteceu aqui fazia parte do plano de uma organização criminosa
imensa. Não era brincadeira de alguém que se aventurava, eles sabiam exatamente
o que faziam", disse Baker Martins.
Lucrativo
O titular da delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF/CE,
Janderlyer de Lima, disse que outro homem preso no Piauí no dia 11 de abril,
identificado como Thiago Costa Araújo, também já havia sido preso por tráfico
internacional de drogas.
"Thiago deu nome falso no Piauí, mas os policiais
descobriram sua verdadeira identidade. Ele foi preso por nós no Ceará, em 2013,
com 101Kg de cocaína. Provavelmente, já fazia parte deste esquema. Uma
quantidade dessas de droga geralmente é transportada em aeronaves",
afirmou o titular da DRE.
Janderlyer Lima disse que as quadrilhas buscam pessoas
experientes, para evitar prejuízos. "A droga com o grau de pureza que eles
vendem é muito cara, não podem arriscar perdê-la. Os pilotos deles são
legalizados. Entram no esquema porque em um único frete para transporte de
cocaína, podem ganhar de R$ 100 a 200 mil. É um negócio milionário",
contou o delegado.
Informações privilegiadas
Além da experiência dos pilotos e da suposta falta de
cobertura por radares em alguns pontos do País, outros meios para que os aviões
cruzem o Brasil estão sendo investigados.
Um piloto do tráfico aéreo flagrado no Ceará, no dia 14 de
abril, quando tentava pousar sua aeronave na Zona Rural de Canindé, levantou
novas suspeitas sobre as possibilidades de como os aviões conseguem escapar da
fiscalização. Cléber Paulo da Silva disse à Polícia que foi forçado a fazer o
transporte da droga, por criminosos que sequestraram sua esposa. No entanto, as
investigações dão conta que a situação não existiu.
A reportagem do Diário do Nordeste apurou que a esposa de
Cléber Paulo é controladora de voo. A prisão dele motivou a abertura de um
inquérito contra a servidora, sobre um suposto fornecimento de informações
privilegiadas ou de uma possível facilitação para que os voos acontecessem sem
serem notados.
O apartamento da mulher teria sido alvo de um mandado de
busca e apreensão. As autoridades investigam o caso, pois o marido da
controladora de voos da FAB conseguia cruzar a País transportando um produto
ilícito sem ser flagrado pelos radares. O objetivo é saber se ela estava
contribuindo de alguma forma ou repassando informações que o ajudasse.
Denúncias
As denúncias sobre pousos atípicos de aeronaves na fronteira
Ceará e Piauí podem ser feitas pelo telefone (86) 3252-2900, da Delegacia de
Campo Maior
Transporte
Piloto foi investigado por CPI do Congresso
O piloto que tripulava a aeronave que caiu no Piauí,
identificado como Antenor José Pedreira, o 'Dodó', era empresário do ramo de
construções, em Goiás. Ele foi investigado pela Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) do Narcotráfico, do Congresso Nacional. A CPI que buscava
desvendar o trânsito das drogas no País investigou mais de 100 pessoas.
Traficantes como Fernandinho Beira-Mar' foram ouvidos durante as apurações.
'Dodó' já havia sido preso ano de 1999, suspeito de integrar uma quadrilha que
transportava drogas em monomotores, da Bolívia para a Região Norte do País. Por
conta desta captura, foi indiciado por contrabandear 800Kg de droga
As denúncias sobre pousos atípicos de aeronaves na fronteira
Ceará e Piauí podem ser feitas pelo telefone (86) 3252-2900, da Delegacia de
Campo Maior
Márcia Feitosa Repórter - Diário do Nordeste
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