Iguatu. Do início do ano letivo, na segunda quinzena de
fevereiro, até abril passado, cerca de 40% das escolas regulares da rede
estadual de ensino permaneciam sem o fornecimento de merenda escolar para os
alunos. O problema ainda persiste em várias regiões do Estado, mas já foi
solucionado em algumas unidades. Estudantes da zona rural são os mais
prejudicados.
Sem merenda, algumas unidades de ensino anteciparam o horário
de término das aulas, liberando os alunos mais cedo. Essa é a estratégia
utilizada pela Escola de Ensino Médio Filgueiras Lima, nesta cidade, na região
Centro-Sul do Ceará. Desde o início do ano letivo que não há fornecimento
regular de lanche para os estudantes. Atraso no repasse de recursos e questões
burocráticas provocaram o problema.
Falta às aulas
A reclamação é geral. "Muitos alunos saem de casa sem
comer nada, pela manhã, e não têm dinheiro para comprar merenda vendida na
porta da escola", disse o estudante do 3º ano do ensino médio, Luís
Oliveira. "Quem mora nos sítios são os mais prejudicados". A
estudante Gabrielle Martins foi enfática: "As aulas foram reduzidas,
estamos perdendo conteúdo e alguns colegas estão faltando às aulas".
Os pais também lamentam a demora no fornecimento do lanche
para os filhos. "Já são três meses sem merenda", disse a dona de casa
Marluce Gomes. "Quem pode, dá dinheiro para o filho ou manda lanche, mas
muitos não têm condições de comprar todos os dias". Pais e alunos
concordam que a merenda que era fornecida nas escolas era de qualidade e
variada.
Burocracia
A diiretora da unidade, Joelma Uchoa Pinheiro, confirma o
problema e explica que há atraso no repasse de recursos por parte da Secretaria
de Educação do Estado (Seduc), além de questões burocráticas na mudança do
sistema de licitação e prestação de contas com os fornecedores. Em dezembro
passado, houve licitação no valor de R$ 29 mil, mas até agora somente foram
liberados R$ 17 mil. O adicional de 40 dias para que dá suporte para o início
do ano também ainda não foi liberado.
O sistema de prestação de contas está em processo de mudança,
segundo exigência do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Antes, a escola fazia
a licitação, recebia os recursos e prestava contas. Agora, o depósito tem de
ser feito na conta dos fornecedores. Busca-se maior transparência. "Os
fornecedores (empresas e produtores rurais), tiveram que fazer o cadastro,
abertura de conta, e no início havia dúvidas se pessoa física ou
jurídica", explicou Joelma Uchoa. "Algumas escolas já regularizaram a
situação, mas outras, ainda não".
Os repasses são feitos em parcelas para a compra dos
produtos. Do total, 30% devem ser destinados à aquisição de gêneros da
agricultura familiar: polpa de frutas, cereais, carne, frango, ovos, cuscuz,
arroz e feijão, por exemplo. Com a mudança estabelecida na sistemática de
prestação de pagamento, os recursos de agora em diante devem ser depositados
diretamente na conta dos fornecedores.
A coordenadora da Crede 16, em Iguatu, Mônica Silva, informou
que o problema vem afetando as escolas regulares, e não as profissionalizantes,
que fornecem almoço e têm o ensino em tempo integral. "O problema atingiu
cerca de 40% das unidades regulares, mas já está sendo solucionado",
frisou. "Quanto às profissionalizantes está tudo normal", garante.
Mobilização
Alunos integrantes dos grêmios estudantis estão se
mobilizando para reivindicar à direção das escolas e à Seduc a volta da merenda
escolar com maior brevidade. "Não podemos nos acomodar", disse. Na
Escola Filgueiras Lima estudam cerca de 430 alunos e 40% são oriundos da zona
rural. Em outras regiões do Ceará, algumas unidades ainda estão sem fornecer
merenda. No início do ano, esse número era bem maior. Há escolas que
modificaram o cardápio e estão atendendo os alunos diariamente.
Procedimentos
A Assessoria de imprensa da Secretaria de Educação do Estado
(Seduc) informou que os recursos financeiros são liberados para as escolas por
meio de portarias. Para utilizá-los, há procedimentos orientados pela Seduc que
precisam ser seguidos.
O repasse de recursos para alimentação escolar e aquisição de
materiais é feito após a comprovação de realização do procedimento de contratação
dos serviços. Esse trâmite vem sendo realizado.
A Seduc, a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da
Educação (Crede) 16, sediada em Iguatu, além das escolas, trabalham nesse
processo para que tudo esteja resolvido o mais breve possível.
Enquete
Como você avalia a falta da merenda?
"As aulas foram reduzidas. Estamos perdendo conteúdo e
alguns colegas estão faltando, ficando em casa, sem vir para a escola. Tudo
isso é ruim. A gente reivindica que o problema seja logo resolvido"
Natali Silva
Estudante
"A situação está ruim. Quem tem condições compra lanche
em frente à escola, mas a maioria não pode. A merenda era boa e a gente sente a
falta. Ninguém tem o costume de trazer lanche de casa"
Gabirela Martins
Estudante
Mais informações:
Secretaria da Educação do Estado – Seduc Fone: (85) 3101.
3972
Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede)
16 - Fone: (88) 3581. 9450
Honório Barbosa Colaborador
DIÁRIO DO NORDESTE
Nenhum comentário:
Postar um comentário