Mauriti. A falta de maior volume de chuvas durante a quadra
invernosa deste ano já responde por inúmeros prejuízos no setor agrícola
cearense. Em Mauriti, maior produtor de grãos do Estado, agricultores já
iniciaram o processo de contabilizar as perdas nas lavouras de milho, ocasionadas
pela manutenção da estiagem que assola o Interior cearense e caminha para o seu
quarto ano consecutivo.
A perda de milho em Mauriti chega a 100% e os produtores
rurais, a maioria agricultores familiares, agora espera pela liberação dos
recursos oriundos do Programa Garantia Safra e pelo perdão das dívidas
adquiridas através de linhas de financiamento agrícola, como forma de diminuir
os prejuízos.
Em grande parte das regiões que formam o município, o que
sobrou do milho mal dá para alimentar o rebanho bovino. Em algumas
propriedades, inclusive, a forragem produzida a partir da palha da cultura já
foi consumida pelos animais.
Muitos agricultores reclamam, ainda, da falta de assistência
técnica por parte da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará
(Ematerce), durante o processo do plantio e da redução na quantidade de
sementes distribuídas pelo Programa Hora de Plantar, que acabou fazendo com que
grande parte dos produtores comprassem sementes em casas especializadas.
"Aqui a gente perdeu a lavoura inteira. Nos plantamos 17
tarefas de terra e não deu uma espiga de milho nem pra contar a história",
lamenta a agricultora Maria de Fátima Pereira Furtado, residente no sítio
Malhadinha, na zona rural de Mauriti. Conforme a rurícola, os prejuízos contabilizados
poderiam ter sido diminuídos se o volume de sementes distribuídas pelo Governo
do Estado tivesse sido maior. "Esse ano eu só consegui receber um saco de
milho de 20kg. O resto eu comprei tudo. Plantei seis sacos de milho. Paguei R$
25 em cada um deles. Menos o que recebi do governo", disse.
O agricultor Domingos Maranhão, que plantou cerca de 100
hectares de milho em uma propriedade localizada na região de Coité, também
perdeu toda a lavoura por causa da falta das chuvas. Ele reclamou da falta da
assistência técnica e da pouca quantidade de sementes distribuídas pelo
programa estadual neste ano. "Assistência técnica não teve nenhuma. A
gente só recebe assistência técnica quando faz algum projeto e encaminha pro
banco. Fora isso, não tem assistência. Eu comprei 30 sacos de 60kg de milho pra
plantar esse ano. Perdi tudo. Não sobrou nada. O que tinha ficado o gado já
comeu. Agora é esperar pelo governo. Pedir a Deus que a presidente perdoe as
dívidas feitas com os bancos. Se não, é trabalhar dobrado pra pagar a
conta", comentou o agricultor.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de
Mauriti, além da cultura do milho, a safra de feijão para este ano também já
está comprometida em mais de 90%. O secretário de Politicas Agrícolas da entidade,
Moacir Batista, avaliou que a situação em torno da produção de grãos no
município vem se complicando a cada ano por falta das chuvas, principalmente,
mas, também, devido a existência de falhas nas políticas públicas em vigor.
"A situação é péssima. A produção este ano é quase
nenhuma. Além, da falta de chuvas, que é a grande causa do problema, há, ainda,
a falta de assistência técnica e a questão da redução na distribuição das
sementes. Esse gargalo precisa ser solucionado pelo governo do Estado, embora
se saiba que as distribuições aconteçam mediante os prognósticos que o governo
possui em relação as chuvas de cada ano", frisou o sindicalista.
Outras regiões do Ceará também apontam perdas na produção de
ambas as culturas. O prejuízo aconteceu por falta de água nas lavouras. No
Centro Sul, por exemplo, os dados parciais de perda de produtividade do milho e
do feijão oscilam entre 70% e 80%. "A tendência é se agravar ainda
mais", disse o gerente regional da Ematerce, Joaquim Virgulino Neto.
Nos municípios de Várzea Alegre e Lavras da Mangabeira, que
costumam registrar boas chuvas, neste ano, o quadro é adverso. "Tivemos um
déficit de 37% de pluviometria", observa o gerente do escritório da
Ematerce, Cléber Correia. "O resultado é a perda de 75% ou mais da
safra".
Na região dos Inhamuns e do Sertão Central o quadro é ainda
mais preocupante. Os percentuais são mais elevados, chegando a perdas de 100%
de milho e de 90% de feijão. "Quem plantou perdeu", observa o
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tauá, Francisco Pedrosa.
Nos municípios de Milhã, Solonópole, Mombaça, Irapuan Pinheiro e Piquet Car.
Situação generalizada
O secretário de Agricultura de Irapuan Pinheiro, Clerto
Josino, disse que a última avaliação feita por representantes de entidades
ligadas ao setor rural aponta perda média de 90% do milho e de 70% do feijão.
"Essa é a realidade da região, é uma situação generalizada".
O presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais no Ceará,
Fetraece, Luís Carlos Ribeiro, confirma que a situação é preocupante e que a
perda da lavoura de grãos supera os 80%. "Infelizmente, essas são as
informações que temos recebido", disse. Os dados conclusivos sobre perda
da safra de grãos no Ceará serão feitos em cada município por ocasião do laudo
de vistoria do Garantia Safra. Os dados disponíveis pelo governo do Estado, por
meio da Ematerce, ainda referem-se à avaliação feita na segunda quinzena de
abril passado e indicam índices de perda bem menores do que os registrados no
decorrer de maio.
A Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), por meio da
Assessoria de Imprensa, informou que o Grupo de Coordenação de Estatísticas
Agropecuárias divulga no próximo dia 29 o relatório final sobre a perda de
safra de grãos no Ceará. Conforme a SDA, a cultura de milho representa 67% do
plantio de grãos no Estado e terá uma perda elevada neste ano em decorrência da
irregularidade das chuvas. A reportagem tentou ouvir a Ematerce sobre a falta
de assistência técnica apontada pelos agricultores do município de Mauriti.
Conforme a assessoria de Imprensa da empresa, um diretor técnico entraria em
contato para esclarecer a situação, o que não aconteceu até o fechamento desta
edição.
Roberto Crispim/Honório Barbosa Colaboradores
Diário do Nordeste
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