quinta-feira, 2 de julho de 2015

AÇUDE ORÓS PODE ABASTECER FORTALEZA COGITA SECRETÁRIO DOS RECURSOS HIDRIGOS FRANCISCO TEIXEIRA

O secretário estadual dos Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, descarta a necessidade de um racionamento imediato em Fortaleza. Ele rebateu a sugestão apontada por gestores do Dnocs e da Cogerh no Castanhão que, diante do quadro crítico nas reservas hídricas do Estado, defenderam em entrevista ao O POVO, na edição de ontem, que a redução no fornecimento de água para a Capital seja adotada o quanto antes.

 Teixeira diz que até a liberação de água do Castanhão através de ondas (aumentam o volume liberado, depois reduzem imediatamente a uma quantidade bem menor) está sendo testada, dentro das medidas adotadas pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídrocos (Cogerh), para controlar mais efetivamente as reservas. E garante que a água existente hoje no Castanhão dá “até setembro de 2016”.

 O POVO - O que o Governo do Estado tem a dizer sobre a sugestão dada pelo gestor técnico do Dnocs no Castanhão, de que comece um racionamento imediato no abastecimento em Fortaleza, de pelo menos um dia por semana sem água?

Francisco Teixeira - A primeira coisa que tem que ver é com base em quê ele diz isso. Para gente definir a necessidade de um maior controle de água, a ponto de chegar a um racionamento como ele está propondo, ele precisa ter instrumentos matemáticos, modelos de simulação de reservatório, para saber quando o reservatório vai secar, com que nível d´água o reservatório vai chegar na próxima estação chuvosa. A gente leva em conta as possibilidades de aporte de água, não é uma coisa determinística assim e não tão intuitiva como ele colocou. O Ulisses fica ali fechando e abrindo a torneira do Castanhão, gerenciando, mas ele não faz simulação. A Cogerh é que faz. A gente entende que a situação realmente merece atenção, mas temos várias formas de fazer controle da oferta e do uso para poder com que a água dure mais tempo.

OP - Como isso tem sido feito?
Teixeira - A gente tem feito simulações do Castanhão, e elas não são tão simples porque a gente simula de forma integrada com o Orós, e com o Banabuiú também - quando ele tem água. Porque o sistema dos três reservatórios é integrado, estão conectados à Região Metropolitana de Fortaleza através do Eixão das Águas, Canal do Trabalhador e rio Jaguaribe. A gente simula junto com o (sistema) da Metropolitana, tem que saber também a cota de nível mínimo que o açude Pacoti tem que chegar. Simula tudo junto. Nas nossas simulações, a gente tem que levar em conta a possibilidade do Orós aumentar a vazão para jogar água dentro do Castanhão. Porque o Orós hoje não joga água no Castanhão, ele libera uma vazão mínima só para perenizar (o rio Jaguaribe) até a entrada de água no Castanhão, até Jaguaretama. A gente leva em conta isso e a situação dos açudes em Fortaleza. 

Nas nossas simulações, a gente tem a disponibilidade de ir, claro que com o uso bem adequado, economizando para irigação, economizando para Fortaleza, cortando como a gente já cortou água para as culturas temporárias (de ciclo curto, como milho, feijão ou criação de camarão), salvando estritamente parte das culturas perenes (como a fruticultura). E em Fortaleza fazendo o controle efetivo, que a gente faz, independente de campanha, na comporta do açude Gavião, a gente imagina que pode chegar até setembro do próximo ano, aproximadamente. Se não chover nada para o ano que vem, lá para setembro do próximo ano é que a gente chega numa cota onde, aí sim, você tem que decretar um racionamento em Fortaleza de fato. Porque ficaríamos submetidos a uma vazão de 10 metros cúbicos por segundo, quando hoje precisamos em torno de 12 m³/s.

OP - A água que existe hoje dá até setembro de 2016? Sem precisar do aporte do Orós?
Teixeira - Setembro de 2016, mas precisaremos do aporte do Orós também.

OP - Na reunião de amanhã (em Limoeiro do Norte, onde gestores de recursos hídricos discutirão a nova distribuição de água dos reservatórios da região jaguaribana), a possibilidade de uso do Orós para abastecer Fortaleza está sendo cogitada?

Teixeira - Está. Porque a reunião é um seminário integrado do Vale (do Jaguaribe). A reunião leva em conta a alocação de água integrada dos açudes Orós, Castanhão e Banabuiú. Dentro das possibilidades, há a que já estabelece uma forma de uso da água muito controlado. O uso controlado como reflexo de uma oferta controlada.

OP - Detalhe melhor esse uso controlado.

Teixeira - A liberação do Castanhão de, no máximo, 21 m³/s. Tanto somando a vazão que libera para o rio como a que se libera para o Eixão das Águas. 

OP - O gerente da Cogerh para o Baixo e Médio Jaguaribe, Francisco de Almeida Chaves, disse ao O POVO que essa vazão já foi reduzida, no início deste ano, de 21 para 12 m³/s.
Teixeira - Na realidade, quando estou falando de 21, é a soma das duas vazões e é uma média. Ou seja, eu posso ter mês que libero mais e mês que libero menos. É a soma do que se libera para o rio e aquilo que se libera para o Canal.

OP - E qual é então a vazão que se está liberando do Castanhão?
Teixeira - Passamos o primeiro semestre do ano, fevereiro, março, abril, maio, liberando o mínimo possível. 

OP - E o que era o mínimo possível?

Teixeira - Era, por exemplo, o Castanhão que hoje libera 16 (m³/s) para o rio, tava liberando cinco, sete, quatro.  Por que? Embora a chuva tenha sido pouca, chovia alguma coisa à jusante do Castanhão e correu pouca água no rio, mas correu. Itaiçaba, onde fica a captação do Canal do Trabalhador, inclusive chegou a verter com 12, 17 centímetros com água da chuva. O que a gente fez? Aproveitou para bombear parte dessa capacidade máxima do Canal do Trabalhador para trazer água para Fortaleza. Nós ganhamos artificialmente mais de 80 milhões de m³ no sistema metropolitano bombeando água do Canal do Trabalhador e do Eixão das Águas nos meses de fevereiro, março, abril e maio. Ou seja, a pouca chuva que caiu não deu para aportar água no Castanhão nem no Banabuiú, mas gerou uma pequena vazão na calha do rio Banabuiú e a gente bombeou pelo Eixão para Fortaleza.  E aquela pequena vazão que gerou na calha do Jaguaribe, em Itaiçaba, bombeamos para Fortaleza. Somando essa vazão com a água que o açude Pacoti – o principal que abastece Fortaleza - recebeu de chuva, a gente chegou a acumular mais de 80 milhões de m³ no Pacoti. A gente está com o Pacoti com uma cota controlada. Ele tem hoje um nível d´água que exige uma atenção, mas eu diria que se encontra com um volume d´água melhor proporcionalmente, até mesmo em valor absoluto, do que no ano passado. 

OP – Quanto é que o Castanhão está mandando hoje para Fortaleza, exatamente?
Teixeira – O Castanhão manda para Fortaleza hoje exatamente nove metros cúbicos por segundo. 

OP – Então hoje o cenário de racionamento é totalmente descartado?
Teixeira – É, racionamento é descartado. 

OP – Mas ele está sendo discutido?

Teixeira – Não, para este ano não. O que estamos fazendo não é discutindo, é trabalhando de forma efetiva com controle da oferta hídrica aqui na Região Metropolitana e no Vale do Jaguaribe. Estamos fazendo esse controle segurando na galeria do Castanhão. A gente andou inclusive operando o Castanhão em forma de ondas. É um experimento que a gente fez e vamos continuar ajeitando algumas passagens molhadas no rio Jaguaribe. Vamos voltar em 20 dias a operar com ondas de novo. No experimento que a gente fez, pra você ter uma ideia, durante 20 dias, na operação em ondas, conseguiu uma economia de quase 20% na vazão regularizada. Hoje a gente solta 16 (m³/s) ali no Vale do Jaguaribe. Quando a gente solta em ondas, cai pra 13 (m³/s) a média, economiza três m³/s.

 OP – Como é essa onda?

Teixeira – Em vez de eu liberar 16 (m³/s) direto, libero 28, 29, 30, depois baixo pra sete. Isso aí faz com que a onda d´água se dissipe mais rápido na calha do rio e tenho menos perdas em trânsito e também menos oportunidade de secar água. Porque ela passa de forma mais rápida e se apresentou muito eficiente em relação ao que a gente faz hoje. É um outro artifício que a gente está usando. E também trabalhando com os irrigantes, sobretudo no canal. O projeto Tabuleiro de Russas, que, no ano passado e retrasado, chegou a consumir mais de três metros cúbicos por segundo, hoje está consumindo 1,9 (m³/s). A gente também não permitiu o plantio de culturas temporárias. São vários artifícios para economizar.

OP – E em Fortaleza?

Teixeira – Vou dar um exemplo. Existe, entre os açudes Pacoti e Gavião, onde fica a estação de tratamento de água (ETA), dois túneis paralelos. Tem duas comportas, uma pra cada túnel. A gente controla essa comporta, deixa passar a vazão exclusivamente necessária para manter o açude Gavião na cota que atenda a ETA da Cagece. Estamos diminuindo o fornecimento dessa vazão, diminuindo o nível do Gavião, fazendo com que a Cagece esteja trabalhando no limite do limite pra ela fornecer a pressão necessária para atender à Cidade. Estamos dando uma vazão pra Cagece atender Fortaleza dentro dos seus limites de pressão. Quando acusa um problema de pressão num ou noutro bairro, a gente vai lá e solta mais um pouco de água. Estamos trabalhando no limite. 

OP – Se houver necessidade de racionamento, é só para 2016?

Teixeira – Mesmo sem estar fazendo efetivamente um racionamento, nós estamos fazendo essa racionalização, eu diria. Estamos trabalhando no limite que a Cagece precisa para ter as pressões na rede dela. 

OP – O senhor acha que o fortalezense está consciente da necessidade de economizar água?

Teixeira – Nesse aspecto, o Estado começou a desenvolver uma campanha na televisão. A Cogerh está trabalhando em parceria com as rádios no Interior, mas chego a concordar com você que o fortalezense precisa ser trabalhado de forma mais sistemática e enfática, pra ele ter consciência do real valor que a água que chega a Fortaleza tem. Uma água que vem de 200 quilômetros de distância, que precisou fazer uma estrutura como o Castanhão, como o Eixão das Águas, que a operação disso não é muito barata e que a água realmente não é abundante, é limitada. Realmente, o fortalezense não tem essa consciência toda por morar na Capital, numa cidade grande, beira da praia. Tem a falsa percepção de abundância de água, até porque geralmente em Fortaleza chove mais do que no Interior.

 O POVO

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