Filha de um relacionamento extraconjugal que chegou ao fim, a
bebê de três meses foi deixada na porta de um casal, em Fortaleza, que a
cuidou. Quatro anos depois, enquanto brincava numa pracinha, a menina foi
levada pela mãe biológica. Foi quando a tortura começou. Nos dias que se
seguiram, a criança passou sentada, amarrada numa cadeira. Quando sentia fome,
chorava. Em resposta, recebia toques com ferro de engomar aquecido pelo corpo e
outras agressões. Foi assim, até a situação ser descoberta por um vizinho, que
chamou a Polícia.
A história da garota, que tem hoje nove anos, parece
fictícia. Mas não é. Desde junho de 2014, quando foi sancionada a Lei da
Palmada, até o último mês de setembro, foram registrados 2.727 casos de lesão
corporal dolosa e maus-tratos contra crianças e adolescentes no Ceará, segundo
estatísticas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A
média é de 5,9 casos por dia. Considerando apenas o primeiro semestre de 2014,
que teve 1.033 registros, a média por dia era de 5,7 casos.
A maioria dos crimes ocorreu dentro das casas das vítimas,
praticados pelos próprios pais ou ascendentes diretos. “Infelizmente, em grande
parte dos casos, é na casa da criança, onde ela deveria ser protegida, que
ocorrem as agressões de natureza grave. Muitas vezes, temos que retirá-las
imediatamente de seu âmbito doméstico e encaminhá-las para abrigos”, afirmou a
titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente
(Dececa), Ivana Timbó.
Levando em conta apenas os casos de lesão corporal dolosa,
desde janeiro deste ano, foram 1.411 registros. Houve redução de 10,4% nas
ocorrências, numa comparação com o mesmo período de 2014, quando foram
contabilizados 1.574 casos. Já os flagrantes de maus-tratos e periclitação da
vida tiveram aumento de 12,5%, passando de 24 para 27 casos. “São situações de
negligência, como quando crianças são deixadas em casa sozinhas, correndo
riscos, como queimaduras e choques”, explicou a delegada.
Sobre a garota de nove anos, cuja identidade não é revelada
pelo O POVO em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), hoje ela
está em um abrigo, aguardando o processo de adoção iniciado pelo casal que a
criou. “Posso lhe dizer que ela sobreviveu a isso tudo porque tem uma história
muito grande com Deus. Porque a tortura que ela enfrentou foi muito grande. Mas
tudo vai mudar. A partir de agora ela será muito feliz”, diz, emocionada, a
mulher que tenta a adoção.
Fonte: O Povo
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