terça-feira, 22 de dezembro de 2015

EQUINOS SÃO SACRIFICADOS COM RIFLE SANITÁRIO NO CEARÁ

Entidades protetoras de animais denunciam o sacrifício de mais de 5 mil equinos com rifle sanitário, método que está sendo utilizado pela Agência de Defesa da Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) em cavalos acometidos por doenças infectocontagiosas. O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-CE) reconhece que a morte dos animais com tiros é restrita a casos excepcionais, mas afirma que a medida é provisória.

"O Conselho concordou temporariamente, mas não é da forma como estão dizendo, não são 5 mil sacrificados, isso é até a compra dos medicamentos", explica o presidente do CRMV-CE, Célio Pires Garcia. No início do mês, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a Adagri e o Ministério Público do Ceará (MPCE) estabeleceu que os medicamentos necessários para eutanásia química devem ser adquiridos até janeiro de 2017, sob pena de multa diária de R$ 5 mil.

Segundo o MPCE, o uso do rifle sanitário foi aceito ´´enquanto houver a necessidade, com supervisão e orientação de médico veterinário oficial e com pessoa capacitada para efetuar o disparo’’. A ONG Viva Bicho, no entanto, questiona as “desculpas esfarrapadas” da Adagri e defende que os animais não estariam doentes.

"Não existem laudos veterinários que comprovem as doenças, há interesse econômico por trás, querem prejudicar os animais de forma cruel", diz a presidente da Viva Bicho, Tiziane Machado. Ela denuncia ainda que o sacrifício dos animais tem o objetivo de desocupar terrenos para vaquejadas.

A dose da eutanásia química, segundo Célio, custa em torno de R$ 38, enquanto que uma bala de rifle estaria na faixa de R$ 6. "O problema é mais a burocracia", avalia o presidente. As dificuldades para a aquisição de fármacos anestésicos, conrolados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), também foram apontados pela Adagri.

O diretor de sanidade animal da Adagri, Amorim Sobreira, informou que este ano já foram registrados cerca de 5.685 processos de eutanásia de cavalos por conta de anemia infecciona equina e mormo. "São doenças que não têm cura nem vacina preventiva. E o mormo é uma zoonose que pode infectar as pessoas". Amorim informou ao o POVO Online que a agência vai adquirir cinco mil doses de medicamentos para a eutanásia química, que será realizada em determinados casos.

"Estamos iniciando os sacrifícios com rifle, mas somente em animais que têm laudos positivos para as doenças infecciosas. Isso dos animais não estarem doentes é boato. Nós temos os laudos, mas são dos proprietários, que não querem ser expostos". Amorim informou que a Adagri disponibilizaria os laudos às entidades protetoras de animais mediante ação judicial. O material também foi negado à reportagem.

Para Tiziane, a medida mostra que o Ceará vai na contramão do pensamento do restante do mundo sobre a proteção da fauna e da flora. “Estão querendo matar tudo1 Ninguém se importa com o bem estar dos animais e, supondo que estão doente, matar com rifle? O que seria um tiro em um animal desses, que pensa, tem medo e tem consciencência? Estou horrorizada".

O POVO Online tentou entrar em contato com o procurador de Justiça do MPCE, Francisco de Oliveira Filho, mas as ligações não foram atendidas.

Animais

Um veterinário, que preferiu não se identificar, afirma que o rifle sanitário não é proibido e, no caso do mormo, é um método de proteção. "É uma zoonose que pode passar pra gente, então nesse caso seria uma proteção", avalia.

Segundo ele, não há necessidade de rifle sanitário para a anemia infecciosa. Outro profissional, que também não quis ser identificado, explica que o rifle pode ser mais doloroso para o animal. "Se ele se mover meio milímetro a bala não pega onde deveria e serão precisos outros tiros".

De acordo com o Amorim, há o pensamento de que o rifle sanitário é cruel, "mas estudos revelam que o animal não sente dor nenhuma". "Os animais que não são acostumados com a injeção, por exemplo, precisam ser contidos. Por semana, chegam na Adagri em torno de 25 animais com essas doenças infecciosas, ser não tomarmos providências rápidas esse número pode duplicar", pondera.

A expectativa da Adagri, ainda conforme Amorim, é que 60% das eutanásias registradas sejam realizadas até o fim do próximo ano. "Cerca de 50 foram sacrificados, mas é uma coisa mais demorada porque temos vários programas para serem trabalhados", completa.

Fonte: O Povo

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