Entidades protetoras de animais denunciam o sacrifício de
mais de 5 mil equinos com rifle sanitário, método que está sendo utilizado pela
Agência de Defesa da Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) em cavalos
acometidos por doenças infectocontagiosas. O presidente do Conselho Regional de
Medicina Veterinária (CRMV-CE) reconhece que a morte dos animais com tiros é
restrita a casos excepcionais, mas afirma que a medida é provisória.
"O Conselho concordou temporariamente, mas não é da
forma como estão dizendo, não são 5 mil sacrificados, isso é até a compra dos
medicamentos", explica o presidente do CRMV-CE, Célio Pires Garcia. No
início do mês, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a Adagri
e o Ministério Público do Ceará (MPCE) estabeleceu que os medicamentos
necessários para eutanásia química devem ser adquiridos até janeiro de 2017,
sob pena de multa diária de R$ 5 mil.
Segundo o MPCE, o uso do rifle sanitário foi aceito
´´enquanto houver a necessidade, com supervisão e orientação de médico
veterinário oficial e com pessoa capacitada para efetuar o disparo’’. A ONG
Viva Bicho, no entanto, questiona as “desculpas esfarrapadas” da Adagri e
defende que os animais não estariam doentes.
"Não existem laudos veterinários que comprovem as doenças,
há interesse econômico por trás, querem prejudicar os animais de forma
cruel", diz a presidente da Viva Bicho, Tiziane Machado. Ela denuncia
ainda que o sacrifício dos animais tem o objetivo de desocupar terrenos para
vaquejadas.
A dose da eutanásia química, segundo Célio, custa em torno de
R$ 38, enquanto que uma bala de rifle estaria na faixa de R$ 6. "O
problema é mais a burocracia", avalia o presidente. As dificuldades para a
aquisição de fármacos anestésicos, conrolados pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), também foram apontados pela Adagri.
O diretor de sanidade animal da Adagri, Amorim Sobreira,
informou que este ano já foram registrados cerca de 5.685 processos de
eutanásia de cavalos por conta de anemia infecciona equina e mormo. "São
doenças que não têm cura nem vacina preventiva. E o mormo é uma zoonose que
pode infectar as pessoas". Amorim informou ao o POVO Online que a agência
vai adquirir cinco mil doses de medicamentos para a eutanásia química, que será
realizada em determinados casos.
"Estamos iniciando os sacrifícios com rifle, mas somente
em animais que têm laudos positivos para as doenças infecciosas. Isso dos
animais não estarem doentes é boato. Nós temos os laudos, mas são dos
proprietários, que não querem ser expostos". Amorim informou que a Adagri
disponibilizaria os laudos às entidades protetoras de animais mediante ação
judicial. O material também foi negado à reportagem.
Para Tiziane, a medida mostra que o Ceará vai na contramão do
pensamento do restante do mundo sobre a proteção da fauna e da flora. “Estão
querendo matar tudo1 Ninguém se importa com o bem estar dos animais e, supondo
que estão doente, matar com rifle? O que seria um tiro em um animal desses, que
pensa, tem medo e tem consciencência? Estou horrorizada".
O POVO Online tentou entrar em contato com o procurador de
Justiça do MPCE, Francisco de Oliveira Filho, mas as ligações não foram
atendidas.
Animais
Um veterinário, que preferiu não se identificar, afirma que o
rifle sanitário não é proibido e, no caso do mormo, é um método de proteção.
"É uma zoonose que pode passar pra gente, então nesse caso seria uma
proteção", avalia.
Segundo ele, não há necessidade de rifle sanitário para a
anemia infecciosa. Outro profissional, que também não quis ser identificado,
explica que o rifle pode ser mais doloroso para o animal. "Se ele se mover
meio milímetro a bala não pega onde deveria e serão precisos outros
tiros".
De acordo com o Amorim, há o pensamento de que o rifle
sanitário é cruel, "mas estudos revelam que o animal não sente dor
nenhuma". "Os animais que não são acostumados com a injeção, por
exemplo, precisam ser contidos. Por semana, chegam na Adagri em torno de 25
animais com essas doenças infecciosas, ser não tomarmos providências rápidas
esse número pode duplicar", pondera.
A expectativa da Adagri, ainda conforme Amorim, é que 60% das
eutanásias registradas sejam realizadas até o fim do próximo ano. "Cerca
de 50 foram sacrificados, mas é uma coisa mais demorada porque temos vários
programas para serem trabalhados", completa.
Fonte: O Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário