Orós. O ano de 2015 termina adverso
para cerca de 700 famílias produtoras de tilápia em gaiolas no Açude Orós, o
segundo maior do Estado. Em 2014 e neste ano houve mortandade elevada de
pescado em várias comunidades nos municípios de Orós e de Quixelô. O problema
que demonstrou bem acentuado no Castanhão agora volta a se apresentar de forma
preocupante no tradicional Cedro, em Quixadá.
Com relação ao Orós, o governo do
Estado não sinalizou até o momento com nenhuma ação de apoio aos piscicultores.
Em 2016, o cenário é desfavorável. A atividade tornase inviável por causa de
dívidas acumuladas no banco e o reduzido volume que o reservatório apresenta
(33%).
Na bacia do Açude, a produção de
tilápia em tanques prosperou nos últimos dez anos, chegando a 140 toneladas por
mês. No momento caiu para 50%. Segundo dados do Centro Vocacional Tecnológico
(CVT) no município, cerca de 30% dos grupos de produtores suspenderam a
atividade. Estão aguardando a recarga do reservatório para recomeçar.
"Temos enfrentado dias
difíceis, sem trabalho e renda, com dívida no banco de custeio para compra de
ração e alevinos e de investimento para aquisição de gaiolas", disse a piscicultora
e presidente da Associação de Produtores de Tilápia do sítio Jardim, Auricélia
Custódio Caetano. "Não temos condição de quitar esses débitos sem a ajuda do
governo".
Auricélia Caetano lamenta o
comportamento do governo do Estado. "Para o Castanhão, que tem muitos
empresários, deu um tratamento, mas para o Orós, que só tem produtor familiar,
não deu atenção", comparou. "Isso é triste". A líder comunitária
observou que há oito anos os grupos de piscicultores tentam obter outorga de produção.
"Não temos culpa de não termos a autorização legal, tudo foi encaminhado, mas
há muita burocracia".
A produção de peixe em gaiolas no
Orós fez antigos agricultores que moravam em casas de taipa sonhar, acreditar
na melhoria de qualidade de vida. De fato, houve mudanças significativas. O
padrão de vida mudou, houve transformação. As famílias construíram casas de
alvenaria e adquiriram eletrodomésticos e transporte próprio.
"Houve mudança de vida
estrondosa", disse Auricélia Caetano. "Espero que a gente possa logo
retomar a atividade", afirmou.
Cedro
Quem visitou o Açude Cedro neste
fim de semana ficou surpreso com a quantidade de pescadores na água. Havia mais
de 20. Eles foram atraídos pela mortandade dos peixes. No início da manhã,
muitos foram encontrados boiando nas margens do reservatório público federal,
em Quixadá. Receosos de que o restante das espécies morresse, os pescadores
resolveram começar um mutirão para e fisgar a maior quantidade possível. O
nível da água baixou muito e com ela a oxigenação caiu, provocando a asfixia
coletiva dos peixes, explicavam. Eles não fizeram estimativas de quantos peixes
já morreram. Pelos cálculos de alguns dos mais de 200 pescadores que moram no
entorno do açude, dentre eles João Batista, praticamente não há mais peixe no
Cedro. Apesar das últimas chuvas, permanecendo o quadro de estiagem o açude
poderá secar novamente antes da quadra invernosa do próximo ano.
Além da régua totalmente exposta, também
é possível ver a boca do alçapão por onde corre a água para os canais de
irrigação. "O pior é que os outros açudes da região estão secos
também", ressaltou outro pescador, Antônio Filho. O Arrojado Lisboa, em Banabuiú,
terceiro maior do Estado, é um deles. Lá, a pesca parou há quatro meses.
Os pescadores que não conseguiram o
benefício do Garantia Pesca, fornecido pelo governo Federal estão recorrendo a
açudes particulares. Entretanto, os riscos são grandes. Cinco deles foram
presos no último domingo, em Solonópole, quando pescavam numa fazenda. Eles não
chegaram a pescar nenhum peixe, mas foram indiciados e transferidos para a
cadeia pública de Milhã.
Segundo o presidente da Colônia de
Pescadores Z14, Genival Maia Barreto, dos 300 pescadores cadastrados
regularmente na Z14, de Banabuiú, apenas 146 estão tendo direito ao amparo
econômico federal. A Colônia também está doando cestas básicas de alimentos.
Houve até despejo de 100 milheiros de alevinos no Arrojado Lisboa em outubro.
"Mas os peixes demoram pelo menos seis meses para se tornarem adultos.
Também há necessidade das chuvas
reporem a carga hídrica. Com pouco volume a água fica grossa e não oxigena,
matando mais peixes", acrescentou Barreto.
Atendimento
Caso as previsões iniciais da
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) sejam
confirmadas, de que em 2016 haverá um prolongamento do ciclo de chuvas abaixo
da média outros açudes na região CentroSul, onde há grupos de produtores de
tilápia em gaiolas, serão afetados, como nos municípios de Cedro, Várzea Alegre
e Lavras da Mangabeira.
No último dia 14, o Governo do
Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa),
atendeu a uma demanda dos piscicultores do Açude Castanhão, que foram afetados
com a mortandade de peixes no reservatório em junho passado. O prejuízo
estimado foi de 13,5 mil toneladas. A Seapa entregou insumos para a produção de
tilápia (1.090 milhão de quilos de ração e 750 mil alevinos).
O secretário adjunto da Seapa,
Euvaldo Bringel, esteve em Jaguaribara, naquela data e comentou: "A
entrega de hoje representa apenas um primeiro momento de um compromisso que o
governador assumiu com os piscicultores".
Ontem, a reportagem do Diário do
Nordeste entrou em contato com a assessoria de Imprensa da Seapa, mas até o
fechamento desta edição não houve retorno das demandas apresentadas sobre o
apoio aos piscicultores da bacia de Orós.
Mais informações: Seapa Telefone:
(85) 3241. 0561
Colônia de Pescadores Z14 Rua
Arrojado Lisboa, 16. Telefone: (88) 9 9954.7941
DIÁRIO DO NORDESTE
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