quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

38,6% DOS ESTUDANTES DO CEARÁ TÊM DESEMPENHO CRÍTICO EM LEITURA

Educadores reafirmam que a pessoa que não lê ou quando o faz não consegue entender o texto ou produzir uma análise do que leu tem dificuldade de se relacionar, de se expressar no convívio social e profissional pela falta de argumentos e vocabulário pobre. Nessa questão, no entanto, dados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE), relativos a 2014, apontam resultados preocupantes no desempenho dos alunos da rede pública do Ensino Fundamental.

De acordo com a pesquisa, 38,6%, em um universo de 101.585 avaliados, chegam ao 9º ano apresentando desempenho crítico em Língua Portuguesa e leitura e outros 20,2% ou 20, 5 mil, num estágio ainda pior. Isso significa que 58,8% desse total ou quase 60 mil, entre escolas municipais e estaduais, têm graves dificuldades nesses quesitos, complicando o processo de aprendizagem e a formação integral do cidadão.

Em comparação com anos anteriores, o cenário piorou. Em 2013, por exemplo, os estágios entre crítico e muito crítico atingiram 56,2% dos avaliados do último ano. No padrão intermediário, caiu de 34% para 31% em 2014. No grau adequado para leitura e Língua Portuguesa, de 9,85% para 9,5%, ou seja, apenas 9,7 mil dos examinados atingiram bom desempenho.

Deficiências

Os gestores das secretarias de educação do Estado (Seduc) e Município (SME) reconhecem o problema. A coordenadora da Célula de Avaliação do Desempenho Acadêmico da Seduc, Carmilva Flores, explica que, com o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), houve um foco grande para que crianças aprendessem a ler e escrever até os seis anos de idade e, agora, o investimento maior se dará aonde foi detectado mais deficiências: entre os alunos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental. "Para isso, é preciso a formação continuada, alinhar os currículos entre todos dos estados e subsídios para que as escolas reformem ou instalem bibliotecas e projetos de incentivo à leitura".

Professores que estão em sala de aula não escondem suas apreensões. Um deles, da rede municipal, Eustáquio Alvarenga Júnior, explica que o hábito da leitura influencia diretamente no cotidiano de qualquer pessoa. "Fico assustado com o que presencio diariamente. A maioria não gosta de utilizar dicionário, não quer ler, só se interessam na internet pelo bizarro, violento e isso resulta em vocabulário rasteiro e escrito sofrível. Observo a realidade até em alunos do 3º ano do Ensino Médio".

Em sua avaliação, a leitura ajuda a aumentar o vocabulário, pois familiariza a criança com a palavra escrita e, de quebra, ajuda a fixar a grafia correta das palavras e a construção harmônica das frases.

A pesquisadora Adriana Lima Verde, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFCE), lembra que a história recente sobre alfabetização nas escolas públicas cearenses aponta melhorias quanto ao desempenho dos estudantes nos primeiros anos do ensino fundamental. No entanto, os recentes resultados das avaliações externas, apesar de indicarem avanços, ainda revelam dados alarmantes quanto à consolidação das habilidades requeridas para uma pessoa ser considerada de fato alfabetizada.

Desequilíbrio

Para ela, no Ceará há problemas de equidade no sistema educacional. Há escolas com resultados de avaliação do nível de leitura que merecem destaque, enquanto há outras com desempenhos considerados abaixo da média. Há diferenças quanto às condições de trabalho dos professores e de materiais de leitura e até ausência de bibliotecas. O desafio para o poder público é oferecer condições de trabalho equitativas a todos os docentes.

Mesmo com as dificuldades, a rede pública de Fortaleza investe em projetos de incentivo à leitura. Em um deles, na Escola de Tempo Integral Carolino Sucupira, no bairro Itaoca, os alunos são motivados a ler e apresentar o resultado em diversos formatos como teatrinhos e contação de estória. "Eu gosto de escolher um livro e depois contar para minhas colegas de classe", comenta Vivian Marques, de 9 anos, da 4ª série.

Yasmin de Oliveira e Pedro Lopes também estão entusiasmados com o projeto de literatura. "Eu vou poder levar um livro para casa e quando acabar, trazer de volta e apresentar o que li para todos na classe", dizem. A diretora da unidade, professora Márcia Morais, argumenta que o maior investimento feito na escola é a formação de leitores. "É importante o trabalho para quando essa turma chegue as séries mais elevadas não tenham dificuldades em ler, escrever, falar e se expressar", pontua.


Fonte: Diário do Nordeste

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