Seis
mandados de prisão foram cumpridos na manhã de ontem contra pessoas que teriam
ligação com facções criminosas atuantes no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza.
As ordens judiciais foram expedidas pela 18ª Vara Criminal de Fortaleza. Um dos
mandados foi cumprido no Piauí, dois em presídios cearenses, dois em delegacias
e somente uma pessoa estava em liberdade na Capital. O Diário do Nordeste vem
abordando a atividade das facções criminosas no Ceará em série de matérias
publicadas no jornal desde a última terça-feira (19).
Os
trabalhos foram conduzidos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às
Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Ceará
(MPCE) com apoio da Polícia Civil. A operação deflagrada foi batizada de ´Vera
Pax´.
Ao
todo, dez mandados de prisão preventiva foram expedidos contra as pessoas de
Felipe Pereira Silva, Daniel Júnior dos Santos da Silva, Algirlânia dos Santos
Nogueira, Wanderson de Abreu Rocha, Inácia Gabrielle Martins Soares, Carmélia
dos Santos Silva, Carlos dos Santos Silva, Tiago André da Lima Costa,
Wellington Menezes e Charliene Silva dos Santos. O MPCE não especificou quem
dos dez foi preso nem a localização dos alvos capturados na ação.
De
acordo com as apurações, a organização criminosa investigada atuava dentro e
fora dos presídios cearenses na prática dos crimes de tráfico de drogas, roubo
de veículos e homicídios para a consolidação de território em diversas
comunidades. Há também a informação de ligação com pelo menos um detento
encarcerado no Sistema Penitenciário do Piauí.
Conforme
o MPCE, cinco promotores de Justiça participaram da operação, incluindo Felipe Diogo,
Manoel Epaminondas e Eloílson Landim.
Segundo
o órgão, "a investigação demonstrou que o grupo se valia de uma falsa
pregação de paz nas comunidades, inclusive com a organização de ´marchas pela
paz´, sendo que o único intuito era de fato consolidar os negócios ilícitos de
venda de drogas, roubos qualificados e homicídios naquela região". O nome
da operação, segundo explicam os promotores do Ministério Público, "é em
alusão à verdadeira paz para as comunidades, que será obtida através da prisão
dos investigados".
Organizações
A
investigação foi realizada no primeiro bairro de Fortaleza a abrigar a Unidade
Integrada de Segurança (Uniseg), ação do programa ´Pacto por um Ceará
Pacífico´, do Governo do Estado. Conforme os promotores do Ministério Público,
foram dois meses de apurações até chegar aos nomes dos envolvidos.
O
representante do Ministério Público ressaltou que não há apenas uma facção, mas
várias em atividade naquela região da Capital. Segundo ele, há sempre entre os
membros referência a grupos com atuação nacional. Os criminosos cearenses não
conseguem articulação própria sólida, conforme avaliam os investigadores que
apuram o caso.
"O
que percebemos nessa investigação em especial é que, alguns indivíduos fazem
referências a uma dessas facões de nível nacional. Dentro da organização criminosa
do Vicente Pinzón, por exemplo, há pessoas que eventualmente se identificam
como de uma ou outra dessas grandes facções. Eles têm dificuldade de ser todos
pertencentes a uma única facção. É como se os grupos do Ceará tivessem
dificuldade de se agregar a um conjunto de regras que essas facções
impõem", disse um dos promotores do caso.
Integrantes
A
reportagem mostrou na edição de ontem que cerca de 1.200 pessoas fazem parte de
facções criminosas em atuação no Estado, conforme levantamentos dos organismos
de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
De
acordo com informações que uma fonte da SSPDS revelou ao jornal, cerca de 200
pessoas fazem parte do Primeiro Comando da Capital (PCC), 150 ao Comando
Vermelho (CV) e os demais à Família do Norte (FDN). Os demais fazem parte de
grupos originados no Ceará, como os Guardiões do Estado, que teve início no
Conjunto Palmeiras, mas migrou para outros bairros como o Vicente Pinzón.
"A
atuação de facções criminosas no Ceará não é um fenômeno tão novo, mas tem
aparecido cada vez mais e merece atenção dos órgãos de segurança do
Estado", afirmou um dos promotores que atua no caso.
O
pacto entre os bandidos do Vicente Pinzón, que previa a redução dos homicídios,
seria um dos argumentos usados pelos membros das facções criminosas para
justificar a atuação dos grupos. "É uma coisa que, embora organizada,
nesse sentido, ela é um pouco dissipada. Tem grupos que, num determinado
momento, entenderam por bem diminuir os homicídios para consolidar o tráfico de
drogas. Eles têm um nível de organização que afronta a ordem pública. É
realmente para se acompanhar, monitorar, investigar".
Presidiários
As
apurações do Gaeco e da Polícia Civil indicam que algumas ordens cumpridas
pelos criminosos naquela região da Capital teriam sido dadas de pessoas que
estão reclusas em unidades penitenciárias estaduais. Alguns homicídios
cometidos naquele bairro, por exemplo, teriam sido ordenados por presidiários,
que também teriam influência sobre os moradores.
"Temos
algumas pessoas identificadas, que estão presas no Ceará, em penitenciária
estadual, que também tiveram a prisão preventiva decretada. Apesar de presas,
ainda praticavam crimes e, por vezes, ordenava até homicídios, por isso, vão
responder por eles", revelou um dos investigadores.
A
organização criminosa investigada pelo Gaeco fez ameaças públicas, em março
deste ano, aos moradores do bairro Vicente Pinzón. Naquela ocasião, cartazes
foram afixados em postes naquela área e no Caça e Pesca. O grupo se
autodenominava ´Guardiões do Estado´, e afirmava que estava promovendo a paz.
Entretanto, não tolerava a presença da Polícia nem o apoio de moradores ao
Estado.
"Estamos
querendo paz mais tem pessoas cabuetando, lembreçe que a polícia vai embora e
você fica. A paz é para quem quer paz. Estamos do lado da comunidade mais
queremos respeito. Não vamos aceita cabuetas, furtos na favela, estrupador e
derramamento de sangue banal. Pra alguém morrer tem que ter motivos fortes.
Vamos respeitar os moradores, mais queremos respeito também. Agradecemos
(sic)", dizia um dos cartazes. Segundo o MPCE, quando o material foi
afixado, a investigação já havia começado.
Fonte:
Diário do Nordeste
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