Treze
milhões de alunos no país estudam numa etapa que está estagnada em baixo
patamar de qualidade. O ciclo em questão compreende do sexto ao nono anos, os
últimos do ensino fundamental, que idealmente recebem estudantes entre 11 e 14
anos.
Não
há políticas governamentais suficientes para o aprimoramento dessa fase da
educação básica brasileira, uma carência que é reconhecida até mesmo por
gestores públicos da área.
Nessas
séries, o aluno deixa de ter apenas um professor, que leciona português e
matemática, para responder para cerca de dez –o número depende do projeto
pedagógico de cada colégio.
Essa
mudança, dizem especialistas, é feita de forma brusca, sem que a criança seja
preparada, afetando um aluno já impactado por conflitos típicos da puberdade.
Números
oficiais evidenciam a dificuldade dos alunos ao ingressarem nesse nível: o
sexto ano, que abre a etapa final, tem a maior taxa de reprovação (15%) e
abandono (3,8%) entre as nove séries do ensino fundamental.
"Há
uma lacuna nessa etapa", afirma o vice-presidente do conselho de
secretários estaduais de Educação, Rossieli Soares da Silva.
ESFORÇO
E DISCUSSÃO
"Há
um justo esforço do país para alfabetizar nas primeiras séries. Para o ensino
médio, há discussão sobre currículo. Os anos finais do fundamental ficaram um
pouco de lado", diz Silva.
Para
o processo de alfabetização, há um programa federal de capacitação de docentes
e elaboração de materiais. Para o ensino médio, o próprio conselho trabalha na
reestruturação curricular.
"Sentimos
falta de programa nacional para os anos finais do fundamental", diz o
presidente da união dos secretários municipais de Educação, Alessio Costa Lima.
"A
maioria dos municípios não tem capacidade para investir nas escolas. O dinheiro
está com a União."
Estados
e municípios concentram 85% das matrículas dessa etapa do país.
Alunos
dos anos finais do fundamental não apresentam melhora nos seus indicadores
desde 2009, segundo monitoramento da ONG Todos pela Educação, feito com base em
dados da avaliação federal chamada Prova Brasil.
Por
exemplo: apenas 16% se formam nessa etapa com conhecimento considerado adequado
em matemática.
A
partir de 2005, com as melhorias nos indicadores dos primeiros anos do
fundamental, esperava-se que, como numa onda, alunos que progrediram no quinto
ano teriam desempenho melhor nas séries seguintes. Autoridades da área de
educação afirmavam, na época, que o sistema todo se beneficiaria.
"Os
dados mostram que isso não ocorreu. A melhoria não vem por inércia", diz
Paula Louzano, que é doutora em educação pela Universidade de Stanford (EUA).
"Precisamos interferir nas variáveis dos anos finais do fundamental",
diz Louzano.
A
pesquisadora cita como exemplos a definição de um currículo nacional (em debate
no Ministério da Educação) e mudança na formação de professores do ensino
básico –necessidade que é consenso entre gestores e especialistas ouvidos pela
Folha.
A
formação atual tem "visão muito acadêmica" e pouco sobre psicologia
do desenvolvimento, diz a professora de geografia da USP Sueli Furlan, que
trabalha com formação dos docentes. Ela diz haver resistência contra as
mudanças nas universidades.
Fonte:
Folha de S. Paulo
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