O senador cassado Delcídio Amaral (sem
partido-MS) disse em entrevista nesta segunda-feira (16) que o PT "não
inventou a corrupção na Petrobras". O ex-parlamentar, que atuou durante
décadas no setor energético, afirmou, contudo, que, com o Partido dos
Trabalhadores, houve uma "sistematização" da atuação partidária para
operar desvios na Petrobras e em outras estatais.
"Realmente, esse processo foi crescendo.
Qual a diferença (em relação a governos anteriores)? Começou a haver uma
espécie de atuação sistêmica nas diretorias e atuação partidária muito mais
ampla, concatenada, com participação das principais lideranças partidárias que
compunham a base do governo Lula e Dilma. Deu no que deu", afirmou o
senador cassado no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Segundo Delcídio, desde o governo FHC, Itamar
e anteriores, havia corrupção nas estatais, mas não de forma tão sistematizada.
Para explicar, ele relatou que governos anteriores ao PT não chegavam ao
"detalhe" de indicar gerentes e chefes de departamento ligados a
partido. "O diretor ajustava sua equipe, não tinha isso de colocar em
todos os espaços alguém ligado a partido".
Lula e Dilma sabiam
Questionado se corroborava a afirmação de que
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente afastada Dilma
Rousseff sabiam do esquema de corrupção, Delcídio repetiu que sim. Para o
ex-senador, a argumentação de que Lula não sabia dos desvios ou que Dilma
recebeu um parecer "falho" para decidir sobre o investimento na
refinaria de Pasadena é assumir que as pessoas são "idiotas".
"Tenha paciência, é achar que todo mundo é ignorante, idiota. A Petrobras
sempre foi do presidente."
Presidente do Conselho da Petrobras à época
da aquisição de Pasadena, Dilma alegou ter recebido um parecer falho da
diretoria Internacional para chancelar o negócio. Segundo o Tribunal de Contas
da União (TCU), a compra da refinaria rendeu um prejuízo de quase US$ 800
milhões à Petrobras.
"Nas estatais, especialmente na
Petrobras, não há a possibilidade de você levar um processo (parecer)
incompleto pra diretoria, pro conselho de administração", afirmou Delcídio
ao citar todas as instâncias internas da companhia pelas quais passam esse tipo
de documento.
Questionado se a então presidente da
República mentiu sobre o caso, Delcídio respondeu afirmativamente.
"Absolutamente, ela não assumiu a responsabilidade que era dela."
Delcídio repetiu também a alegação que, sob
comando direto de Dilma, negociou a indicação de Marcelo Navarro para o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) em troca da decisão favorável a liberação da
prisão de empreiteiros implicados na Operação Lava Jato.
Segundo o ex-senador, ele cobrou em conversa
com Navarro, no térreo do Palácio do Planalto, em uma "salinha", que
ele cumprisse o compromisso de liberar determinadas pessoas que estavam presas
em Curitiba. "Ele disse: Sei muito bem da minha tarefa. Eu fui chamado na
época de mentiroso, mas o tempo é o juiz das coisas. O Marcelo Odebrecht, em
delação agora, confirmou essa história", disse.
Sobre Lula, Delcídio repetiu que o petista
pediu que ele solucionasse o "problema" com Nestor Cerveró - que
estava preso e com suspeita que fecharia acordo de delação. "Ele (Lula) me
disse: precisamos resolver essa questão."
´Aposentadoria´
Com sua experiência no Senado, Delcídio
descartou a possibilidade de Dilma Rousseff conseguir sobreviver ao processo de
impeachment e retornar à Presidência da República. "A presidente Dilma não
volta mais. Só esses 55 votos no Senado (para abertura do processo) já são um
indicativo. Conheço aquela Casa, a tendência é esse placar se alargar (contra
Dilma)", afirmou - para garantir o afastamento definitivo de Dilma, o
processo de impeachment tem de contar com 54 votos pela condenação. "Ela
já não tinha mais condição política nenhuma de governar País. A presidente
Dilma vai para a aposentadoria."
Entre os erros políticos da presidente
afastada, Delcídio destacou que a petista não ouviu os conselhos de seu
padrinho político, o ex-presidente Lula, e preferiu se orientar por pessoas
como Aloizio Mercadante - que ocupou os ministérios da Casa Civil e da
Educação.
"Ela era aconselhada pelo Mercadante no
sentido de ´deixe essa coisa (Lava Jato) andar, pode até chegar no Lula, mas
você vai sair forte desse processo. Um pensamento tosco que ela ia se
fortalecer e os outros entrar pelo cano."
Em relação a Lula, Delcídio avaliou que a
situação política do ex-presidente é "crítica" e que vai ser difícil
ele voltar a ter força eleitoral. "Ele sai muito desgastado, acho muito
difícil sair uma candidatura competitiva disso."
Sobre o PT, classificou como "partido
forte, orgânico, mas que perdeu muito do seu brilho". Para ele, a legenda
precisa passar por uma revisão dos seus quadros, tirando da presidência Rui
Falcão - a quem chamou de "figura bizarra" - e valorizando as
lideranças "lúcidas" e "competentes".
Aécio e PMDB
Apesar de confirmar a informação de que o
senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, teria envolvimento nos desvios de
Furnas, Delcídio evitou frisar a suposta culpa do tucano. Disse apenas que, com
a evolução da Lava Jato, a questão vai se esclarecer, pois Furnas é a
"joia da Coroa" - tem atuação no setor energético do Sudeste, a
região mais valorizada do País - e há muita informação nas investigações sobre
desvios envolvendo ela. "Não está tão difícil rastrear de onde vem, pra
onde vai e quem recebe. As evidências e o histórico de Furnas são
inapeláveis."
A respeito do PMDB, Delcídio disse que o
partido teve uma "posição proeminente" nos desvios em estatais.
"Isso vai aparecer nitidamente", disse ao citar o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - a quem chamou de "cangaceiro", o
senador licenciado e agora ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o
senador Edison Lobão (PMDB-MA).
Estadão Conteúdo
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