Pouco há o que se comemorar nesta segunda-feira que sucede o
feriado em homenagem ao trabalhador, isso porque os níveis de desemprego no
País atingiram os maiores índices da série histórica da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), já são mais de 11 milhões de brasileiros desocupados. No Ceará, somente
nos últimos 12 meses, foram fechadas 44.819 vagas formais, conforme
levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Este cenário é reflexo do agravamento da crise econômica que
tem diminuído consideravelmente a oferta de empregos formais em vários setores.
A indústria (calçado e têxtil), o comércio e a construção civil lideram as
estatísticas negativas.
Nem mesmo a região do Cariri, notoriamente conhecida pela
pujança econômica, impulsionada pelo turismo religioso, escapou das demissões.
No triângulo Crajubar, composto pelas cidades Crato, Juazeiro do Norte e
Barbalha, nos últimos 12 meses foram 1.433 demissões, ainda de acordo com o
Caged.
Saldo positivo
Entretanto, apesar dos números gerais serem negativos, o
último mês teve saldo positivo para Juazeiro do Norte (178) e Barbalha (103),
enquanto Crato declinou, perdendo 169 vagas.
Essa alternância pode ser explicada pelo comportamento
dinâmico em algumas áreas de trabalho, como a construção civil e o turismo
religioso, cujo fluxo de demissão e admissão é alto para acompanhar as
temporadas quentes da região.
Oferta em baixa
Em Russas, município da região Jaguaribana, a oferta de
empregos caiu 70% em pouco mais de três meses deste ano em comparação com o ano
passado. As informações foram coletadas junto à unidade do Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho (Sine/ IDT) do Município e dão conta de que no
período de 2 de janeiro a 27 de abril do ano passado foram captadas 717 vagas
de emprego, sendo 362 para o aumento de quadro das empresas e 355 reposições.
Já no mesmo período deste ano, foram apenas 211 vagas, sendo
43 para aumento de quatro e 168 reposições.
Para o gerente da unidade, Raimundo Pessoa, além da crise
econômica e política, que tem travado o investimento das empresas em diversos
setores, a crise hídrica, em especial, tem agravado o quadro de desempregos na
região. "Além dos empregos formais, os empregos sazonais também foram
perdidos com a falta de água aqui no Chapadão de Russas. A dificuldade de água
na região tem agravado a crise no setor", afirma.
Queda
No Centro-Sul do Ceará, as ocupações na indústria da
construção civil e no setor de serviços registraram no primeiro trimestre deste
ano queda em torno de 5%, segundo estimativa do economista Antônio Pereira.
A paralisação das obras de construção da Ferrovia
Transnordestina, no trecho entre as cidades de Cedro - Iguatu e Acopiara, no
decorrer deste mês, trouxe reflexo no desemprego em Iguatu.
Diariamente, dezenas de jovens procuram a unidade do
Sine/IDT, em Iguatu, em busca de oportunidade de emprego. A atendente de
enfermagem, Cláudia Costa, disse que há oito meses procura trabalho. "Já
deixei meu currículo, mas ainda não consegui nada", disse. A trabalhadora
doméstica Giseuda Oliveira disse que está difícil encontrar emprego. "A
maioria das donas de casa só quer para fazer faxina porque alega que não tem
condição de pagar o salário", contou. Luís Gomes, comerciário, depois de
trabalhar por 20 anos em uma loja de eletrodomésticos ficou desempregado no mês
passado. "As vendas caíram e houve demissões", contou. "Agora
estou batalhando um novo emprego", concluiu.
Saldo negativo
Com uma extensa rede de microempresas e lojistas e a chegada
de faculdades e centros de cursos técnicos, Quixadá, no Sertão Central, é
considerada uma das mais desenvolvidas da região. Mas o ano de 2016 tem feito a
cidade amargar um saldo negativo no nível de empregos. Segundo dados do Caged,
no primeiro trimestre, Quixadá deixou de registrar 145 vagas de emprego. A
maioria das demissões foi na construção civil.
Luilma de Fátima Silveira, coordenadora do Sine/IDT de
Quixadá, avalia que o volume poderia ser bem maior e acrescenta que a cidade
registra um número de demissões bem acima do normal para o período. "Nessa
região, nós trabalhamos com a indústria e o comércio, que são os setores da
economia que, junto com a construção civil, são os que mais empregam. E neste
período, esses setores não estão agindo como o esperado".
Junto com a construção civil, as vagas oferecidas pelos
setores da indústria e da agropecuária, apresentam o maior déficit, em
comparação com as demais. Ainda conforme Luilma, a procura de desempregados à
sede do Sine também tem aumentado. Por outro lado, a oferta tem diminuído,
fatores que, juntos, sinalizam a continuidade do nível de ofertas em queda.
"Diariamente, cerca de 130 a 150 pessoas estão na unidade, procurando
emprego. Mas a oferta tem diminuído significativamente".
Com o comércio em retração, nem mesmo Quixadá tem conseguido
escapar da crise. O resultado é que até mesmo as contratações temporárias para
o Dia das Mães têm apresentado um resultado bem abaixo do que é esperado.
"Não há quase ninguém contratando", disse a coordenadora. Na região,
a saída tem sido apostar em montar o próprio negócio e ser autor da própria
geração de renda. Muitos mini salões de beleza, pontos de vendas de vitaminas e
açaí e trabalhos com revenda porta à porta, tem ganhado mais adeptos.
Ocupação
Em Sobral, na Zona Norte do Estado, também não tem sido fácil
se reinserir no mercado de trabalho. A cidade tem registrado significativa
queda na taxa de ocupação em todas as áreas, principalmente na indústria, setor
de maior formalização de empregos na região, seguido do comércio, serviços e
construção civil. No ano passado, a região registrou cerca de dois mil
desempregados; contingente que continua em crescimento, segundo levantamento do
Sine, com quase três mil pessoas sem espaço no mercado de trabalho.
Segundo o coordenador Regional do Sine/IDT, João Lourenço
Portela, "apesar de continuarmos com o trabalho de recolocação de
profissionais no mercado de trabalho, observamos não haver abertura de novas
frentes, mas apenas uma recondução; se sai um profissional, ele é substituído
por outro com experiência, mas não tem havido oferta de novas vagas, nem mesmo
nesse período que antecede o Dia das Mães", quando observamos pequenos
remanejamentos para dar conta da demanda no comércio".
O motorista Flávio Teles, 41, está há quase quatro anos
desempregado e sem nenhuma perspectiva. Além de buscar oportunidades em sua
área, diz ter feito diversos cursos para tentar entrar novamente no mercado de
trabalho, mas o esforço ainda não tem sido suficiente.
Jackeline de Lima Alves, 30, é outra que não consegue
trabalho há um ano. Para piorar a situação da família, seu esposo também foi
demitido há dois anos e ainda não conseguiu se reinserir no mercado. Para
sustentar os três filhos, o casal busca pequenos trabalhos informais para
sobreviver, os chamados bicos. "A gente tem vivido de quebra galho",
conta Jackeline.
Fonte: Diário do Nordeste
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