Dois oficiais e 43 praças (sargentos, cabos e
soldados) da Polícia Militar serão denunciados nos próximos dias como autores
da Chacina da Grande Messejana pelo Ministério Público do Ceará (MPCE). A
primeira parte do trabalho de uma comissão de promotores de Justiça da Primeira
1ª Vara do Júri e do Grupo de Atuação de Combate às Organizações Criminosas
(Gaeco) culminará com o pedido de prisão de 45 militares, responsabilizados
pela matança de 11 pessoas nas comunidades do Curió e Alagadiço Novo, há sete
meses — completados ontem.
Um dos policiais, o soldado Marcílio Costa de
Andrade já se encontra preso no presídio militar da PM. Segundo as
investigações da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança
(CGD), Marcílio seria o pivô de pelo menos uma das versões para a chacina
ocorrida na madrugada do dia 12 de novembro do ano passado.
Soldado Marcílio
Semanas antes da matança de nove adolescentes
e dois adultos, o soldado Marcílio teria se envolvido num homicídio e na
tentativa de outro, no Curió. Os dois crimes, em 25 de outubro de 2015, teriam
sido o estopim para uma escalada de revanches e acerto de contas que culminou
com a Chacina de Messejana.
O soldado Marcílio, preso administrativamente
desde o último dia 29 de fevereiro por determinação da Delegacia de Assuntos
Internos (DAI) da CGD, foi apontado nas investigações como autor do assassinato
do adolescente Francisco de Assis Moura de Oliveira, 16, o Neném, e de ter dado
um tiro no adulto Raimundo Cleiton Pereira da Silva.
De acordo com as provas colhidas por
investigadores da DAI, os dois crimes aconteceram após a irmã do soldado
Marcílio ter discutido com Cleiton por motivos banais. Após o bate-boca, o PM
se vestiu com as dores da irmã e foi tomar satisfação com Cleiton. Bêbado e
armado, ao tentar matar Cleiton, o soldado acabou assassinando o adolescente
Neném.
Segundo O POVO apurou, o militar teria
passado a receber ameaças de traficantes da área e de familiares do garoto que
juraram vingar a
morte de Neném. No dia 30 de outubro do ano
passado, outro assassinato. Desta vez, a vítima foi o pai de Neném.
As ameaçaas contra o soldado teriam gerado
pelo menos uma incursão de homens armados e com bala-clavas (capuzes) no Curió.
A invasão, supostamente de PMs, foi narrada por um morador da rua invadida,
segundo a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). A família
de Marcílio teria sido expulsa do território de conflito. Ele responde a
processo administrativo instaurado pela CGD que pode culminar com a expulsão
dele da PM.
A relação com a chacina
Depois dos episódios envolvendo o soldado
Marcílio, Cleiton e Neném, e “incendiados” pelo assassinato do PM Valterberg
Chaves Serpa na Lagoa Redonda na noite do dia 11 de novembro, outros policiais
militares se juntaram, invadiram a favela e executaram covardemente quem estava
pelas ruas ou teria alguma ligação com a rixa de Marcílio e seus desafetos.
Na época da prisão do soldado, a CGD negou
que a captura tivesse ligações com a chacina. Para não atrapalhar a
investigação. A irmã do militar também foi presa quando tentava esconder a arma
do irmão, segundo a CGD.
NÚMEROS
9 adolescentes e dois adultos foram mortos
por PMs durante a chacina
43 praças
da PM serão citados na denúncia do MPCE à Justiça
Saiba
mais
E agora? O governador Camilo Santana terá de
decidir se pedirá ajuda da Polícia Federal para fazer a prisão dos 44 PMs que
serão denunciados pela Chacina de Messejana.
Como a CGD teria chegado aos nomes dos
policiais militares que serão denunciados pelo Ministério Público? Imagens de
câmeras, escalas de serviços, depoimento de testemunhas oculares, exame de
balística e outros recursos.
O POVO
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