Segundo o GCEA, a safra de milho terá uma frustração
acima de 70% e a de feijão-de-corda e a de arroz de 60% (Foto: Honório
Barbosa/Diário do Nordeste)
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Terminada a estação chuvosa e quase concluído
o levantamento no campo da safra de sequeiro de grãos, no sertão cearense, uma
triste e grave conclusão: 2016 é o segundo pior ano no atual ciclo de estiagem
que desde 2012 se abate sobre o Estado. A frustração de safra de milho e feijão
é, em média, superior a 70%. Perda elevada das culturas agrícolas e escassez de
água aumentam a crise econômica no Interior do Ceará.
O Grupo de Coordenação de Estatísticas
Agropecuárias (GCEA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
está concluindo o levantamento feito pelas Comissões Municipais de Estatística
Agropecuária até a primeira semana do próximo mês. "Os dados são parciais,
mas mostram perda média superior a 60%. Infelizmente, a tendência é o quadro
piorar e a situação é bastante crítica", disse a coordenadora do grupo,
Regina Dias.
Redução
Segundo o GCEA, a safra de milho terá uma
frustração acima de 70% e a de feijão-de-corda e a de arroz de 60%. Além da
queda da colheita, houve, neste ano, redução da área de cultivo em torno de
20%. A safra de grãos de cultivo de sequeiro (aquele que depende exclusivamente
das chuvas) está comprometida, neste ano, no Estado.
Depois de cinco anos seguidos de chuvas
abaixo da média e de frustração de safra, o quadro de esvaziamento no campo se
agrava no Interior. O aumento do preço dos insumos básicos em um índice bem
maior do que os valores dos grãos, aliado à escassez de água, está
inviabilizando a pequena e média agricultura no sertão.
Neste ano, a região do Cariri, um celeiro de
produção, apresenta um quadro grave. As chuvas foram insuficientes, em média de
350mm nos municípios, para assegurar a colheita de grãos de sequeiro. Os dois
maiores produtores de milho e feijão-de-corda do Ceará (Mauriti e Brejo Santo),
apresentam elevada perda de safra do grão, cerca de 90%.
De acordo com os dados do Escritório Regional
da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce), em Brejo Santo,
a expectativa de safra e a real colheita no campo revelam grave distorção. A
redução de área foi drástica. No município, havia uma previsão de cultivo de 6.648
hectares de milho, mas foi reduzida para 1.200 hectares. O potencial de
produção era de 23 mil toneladas do grão, mas caiu para 1.300 toneladas.
A área cultivada de feijão-de-corda era
estimada em 3.193 hectares, mas caiu para 1.224 hectares. Na região de Brejo
Santo, que reúne oito municípios (Aurora, Barro, Brejo Santo, Jati, Mauriti,
Milagres, Penaforte e Porteiras), esperava-se uma receita de R$ 66 milhões com
a safra de grãos, mas caiu para R$ 3 milhões.
Situação crítica
"A situação é crítica e quem tinha de
produzir, produziu. Não há mais o que questionar", disse o gerente
regional da Ematerce, em Brejo Santo, José Dias Ferreira. "Choveu menos de
400 milímetros de forma irregular e a produção no Cariri ficou
comprometida".
O município de Mauriti, que é o maior
produtor de milho e feijão-de-corda do Ceará, teve uma redução elevada da área
de cultivo de 26 mil hectares para apenas dois mil hectares. Em Missão Velha,
no Cariri, a safra de grãos terá queda de 85% e de mandioca, 50%.
No Sertão dos Inhamuns e de Crateús o índice
de frustração de safra de grãos é semelhante, em torno de 80%. "A situação
é péssima com redução da área plantada e perda da colheita. A agricultura de
sequeiro não é mais um bom negócio", disse o gerente da Ematerce, Raimundo
Lira Galvão.
No Sertão Central, a safra de milho terá
perda de 80% e a de milho, de 70%. "Além da perda dos grãos, os
reservatórios estão secos", observa o gerente da Ematerce de Solonópole,
Sebastião Tavares Leite. Na região Centro-Sul do Ceará, a frustração da
produção de milho é de 65% e a de feijão, de 55%, mas são dados parciais. Em
Ipaumirim e Lavras da Mangabeira a safra de milho caiu 85% e a de feijão, 75%.
"Não choveu em fevereiro e houve ataque da lagarta", observa o
gerente local da Ematerce, Marcílio Tavares.
Na região Jaguaribana, a colheita de milho e
de feijão está 80% a menos do esperado. "Em algumas áreas, pode ser ainda
maior", observa Sebastião Nunes, da Ematerce. Neste ano, haverá menor
queda na safra em parte da região Norte e nas áreas úmidas da Ibiapaba, com
queda em torno de 50% desses grãos.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, disse que a situação é preocupante.
"Poucos plantaram e quem tentou produzir enfrentou um prejuízo
elevado", disse. O presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais
Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece), Luís
Carlos Ribeiro, mostrou preocupação com a perda da reserva de água, da safra de
grãos e da diminuição da área cultivada nos últimos cinco anos. "Os
índices refletem uma situação crítica", frisou.
Mais informações:
Ematerce
Telefone: (85) 3101-2429
Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA)
Telefone: (85) 3101-8000
MISÉRIA VIA DIÁRIO DO NORDESTE
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