A frieza e a covardia dos autores da chacina
da Grande Messejana, supostamente praticada por policiais militares, estão
descritas nos laudos cadavéricos de nove adolescentes e dois adultos executados
em novembro de 2015. Há quase sete meses, pelo menos 38 assassinos invadiram
comunidades e decretaram pena de morte para 11 pessoas. Até agora, ninguém foi
preso pela Polícia ou denunciado pelo Ministério Público do Estado.
O POVO teve acesso, com exclusividade, a
documentos da investigação da CGD e narra, a seguir, a cena dos crimes pela
ótica dos exames de corpo de delito. As execuções ocorreram entre 0h20min e
3h57min, do dia 12/11. Foram três horas e 37 minutos de terror.
Uma agonia para Antonio Alisson Inácio
Cardoso, 16. Entre as onze vítimas surpreendidas pelo grupo de justiceiros, que
seria formado por policiais militares, o adolescente foi o mais atingido. No
corpo dele, os legistas encontraram sete perfurações de entrada de projétil de
arma de fogo.
Dos sete disparos, três foram pelas costas.
Provavelmente quando tentava escapar dos criminosos. Os balaços, segundo os
peritos, perfuraram os pulmões e o fizeram cair. Já deitado e agonizando, o
rapaz recebeu dois tiros na cabeça, um deles de cima para baixo no meio do
crânio e outro na região frontal. Assinatura típica de um matador contumaz.
Alisson morreu, segundo o exame de corpo de delito, por hemorragias interna e
externa. Três projéteis foram extraídos do corpo dele e encaminhados para
exames balísticos e comparação com as armas apreendidas.
O também adolescente Patrício João Pinho
Leite, 16, não teve chance de defesa. Ele e Francisco Elenildo Pereira Chagas,
41, diferente de algumas vítimas, sequer correram. Dos onze assassinados,
Patrício e Francisco foram os que levaram menos tiros. Um para cada um, mas
fatais.
A necropsia de Patrício é taxativa. O garoto
foi executado com um tiro no meio da cabeça. Pela descrição do exame, a
trajetória da bala foi “de cima para baixo em linha reta”. Provavelmente, antes
de ser morto, Patrício foi ajoelhado ou sentado pelos homicidas. A bala, de
acordo com o laudo, “fragmentou estruturas ósseas do crânio” da vítima.
Já Francisco Elenildo recebeu um disparo que
lhe perfurou o pulmão direito e o coração. Morreu na hora e em seu corpo foi
encontrado um projétil alojado no tórax.
À queima roupa
Dos onze laudos que narram parte da tragédia,
apenas um usa a expressão “a curta distância” numa referência de que
possivelmente alguns assassinos (ou um assassino) chegaram muito perto da
vítima para eliminá-la. Os outros exames não informam isso, mas dão indícios
sobre a posição do executor e do atingido no momento do crime.
Jardel Lima dos Santos, 17, foi abatido por
quatro tiros. O de misericórdia — jargão usado quando a vítima, já rendida, é
atingida à queima-roupa —, foi disparado contra o rosto e o balaço se alojou no
cérebro. O exame externo do corpo de Jardel constatou quatro “orifícios
circulares compatíveis com a entrada de projéteis de arma de fogo e com
características de tiro à distância. Exceto uma das lesões que apresenta
características de tiro a curta distância.
O matador (ou matadores) de Jardel o acertou
mais uma vez na cabeça, no lado direito do tórax e na região dorsal — nas
costas. O rapaz teve traumatismo crânio-encefálico, hemorragias e sangrou em
uma das ruas do Curió.
O POVO
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