O
tempo de vida pode ser inversamente proporcional ao tempo de espera para quem
está na fila de transplantes. Após se obter um órgão saudável, os desafios
seguintes são "como chegar" e "como receber". Por isso,
tudo que possa aumentar as chances de um procedimento ter êxito é visto com
bastante expectativa.
No Ceará, pessoas na fila esperam que o tempo
possa diminuir com a obrigatoriedade de um avião da Força Aérea Brasileira
(FAB). A determinação partiu do governo federal, neste mês, uma semana após a
Justiça Federal ordenar, em caráter liminar, que haja um avião pronto para os
transplantes de emergência. Em 2015, a FAB realizou 24 transportes de órgãos,
três a menos que no ano anterior. Rim, córnea e ossos são os órgãos mais transportados
por companhias aéreas e pelos Correios. Entre 2013 e 2015, 5.700 órgãos
chegaram às unidades transplantadoras via aérea no País, sendo o Ceará um dos
Estados tanto receptores como fornecedores. Rim e coração são os principais. O
trabalho é monitorado pela Central Nacional dos Transplantes (CNT). O primeiro
do ano no Ceará foi um rim, em 6 de fevereiro, cujo doador residia na Paraíba.
Dois dias depois, um fígado aterrissou em Fortaleza vindo de Natal (RN).
Referência
No Ceará, o aumento de transplantes, por
todas as vias de transporte, ocorre ininterruptamente desde 2012, embora tenha
havido uma guinada evolutiva de 321% desde 2006 - o ano de 2015 fechou com
1.433 transplantes, a quase totalidade com órgãos transportados por via
terrestre. Entre janeiro e abril foram sete transplantes de coração, o
suficiente para manter o Hospital de Messejana entre as três unidades de saúde
de referência nacional.
Mas a suspensão dos contratos de prestadores
de serviços pelo governo do Estado no início do ano causou apreensão em
pacientes na fila de espera. Isso porque os médicos que realizam exame de
ecocardiograma nos órgãos doados, também tiveram os contratos suspensos.
"A falta de um ecocardiografista pode
impactar no número de transplantes, gerando uma demora na fila de espera, mas a
nossa equipe está preparada", afirma o médico João Davi, coordenador da
unidade de transplante do Hospital. O diretor-clínico da unidade, José Eldon,
admite que a suspensão dos contratos temporários causou mudanças para evitar
que haja falta de atendimento emergencial quando se tem um órgão doador.
"Os ecocardiografistas precisam receber
via cooperativa, que eles não têm, mas acredito que, em até um mês, esse não
será um problema. Enquanto isso, mantemos especialistas de sobreaviso".
Indagado se já houve interrupção de transplante pela falta do exame, Eldon
disse que só responde pelos 45 dias em que a unidade está com nova gestão.
"Nesse período recente, garanto que nenhum procedimento deixou de ser
feito".
Irmãs de doação
Não é difícil encontrar pessoas que, pelos
mais diferentes motivos, necessitam da substituição de algum órgão por outro
saudável. A adolescente Celi de Melo Lopes, de Santa Quitéria, não conhecia
ninguém que precisasse de transplante até ela própria começar a hemodiálise.
Precisava de um rim. Substituiria um órgão e a rotina de, três vezes por
semana, acordar na madrugada para viajar a Sobral para horas de hemodiálise.
"Ligaram várias vezes, mas nunca dava
certo. Depois pensei: só venho agora quando for um meu". Para a mãe de
Celi, a menina falou pela boca de um anjo, pois no dia 26 de maio conseguiu
fazer o transplante. O doador, que havia morrido, também foi o autor da mesma
gentileza para Ana Ryane, de 8 anos, companheira de quarto de Celi no Lar Amigos
de Jesus, em Fortaleza. "Elas são, agora, irmãs de doação. As duas
receberam da mesma pessoa. Todo dia eu oro pelo doador", diz Birlândia da
Silva, mãe de Ryane.
FIQUE POR DENTRO
Campanha mobiliza as doações
A campanha "Doe de Coração",
realizada pela Fundação Edson Queiroz desde 2003, se tornou referência em todo
o País. É reconhecida pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
(ABTO) e vem contribuindo sobremaneira para a ampliação do número de doações
voluntárias no Estado do Ceará.
A mobilização vem sendo realizada em
hospitais, escolas, clínicas, no Sistema Verdes Mares, na Universidade de
Fortaleza (Unifor) e em entidades diversas para disseminar essa mensagem de
esperança de vida para quem precisa de um gesto tão simples para garantir qualidade
de vida ou mesmo a sobrevivência.
Fonte: Diário do Nordeste
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