Há 15 anos, o agricultor Francisco Carlos Farias de Sousa
deixou Itapajé, onde nasceu, em busca de uma vida melhor com a família. A
experiência com o trabalho no campo o fez largar o plantio de legumes e
investir em frutas. O cultivo de bananas se destacava, naquela época, no
município de Varjota, e continuou ajudando a alimentar a família do agricultor,
até que a estiagem dos últimos anos, mudou drasticamente a realidade de quem
sobrevive do que a terra produz.
Êxodo
Sem chuvas suficientes, o nível do Açude Paulo Sarasate
(Araras), que tem capacidade máxima de 1 bi de m³, caiu para 5%, atingindo as
grandes e pequenas áreas de cultivo. No início deste ano, o Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) suspendeu por completo o fornecimento
de água para irrigação, priorizando o consumo humano, o que causou um grande
êxodo de pequenos produtores que têm abandonado as áreas de plantio, não apenas
no Perímetro Irrigado Araras Norte, mas em toda a região, em busca de
oportunidades.
Francisco Carlos é um deles. O agricultor está de partida,
nos próximos dias, para o Piauí, em busca de trabalho. "Aqui não sobrou
mais nada. Eu estou indo plantar banana e mamão em outro Estado porque o
cultivo que dependia do Araras não existe mais. Eu vou na frente e a família
vai depois, quando a situação melhorar por lá. No ano que vem, se o inverno for
bom, eu retomo o plantio", afirmou.
A maioria das áreas, que antes eram ocupadas pelas águas do
açude, hoje serve de pastagem para os animais, e o pouco volume que resta ainda
abastece algumas cidades da região. Ao todo, sete municípios dependem
diretamente do Açude. A preocupação é que, a partir deste segundo semestre, o
reservatório chegue ao seu volume morto, e o consumo humano também seja
comprometido.
Além da pouca água, o abastecimento ainda sofre com o
desperdício gerado pelos constantes vazamentos em diversos trechos da adutora
de engate rápido que leva água a Crateús. Mesmo com a precariedade, a obra,
construída em 2014, orçada em cerca de R$ 80 mi, ainda serve para aplacar a
sede das pequenas localidades, ao longo do percurso, mas não ajuda no que diz
respeito à manutenção de qualquer tipo de produção, nem mesmo de subsistência.
Na Zona Rural, a ação do carro-pipa tem sido constante, além
da escavação, com sistemas de abastecimento simplificado e dessalinizador.
"Já licitamos a construção de mais dez poços, até porque, alguns dos que
já foram construídos não renderam água de qualidade. Os prejuízos para o
Município têm sido grandes", ressaltou Raimundo Gomes Filho, secretário de
Recursos Hídricos de Varjota.
Maria Mendonça Furtado, moradora da sede, diz que vez ou
outra há a falta de água nas torneiras. A dona de casa deixou para trás um
pequeno lote na localidade de Angelim por não ter como manter a produção.
"Os carros-pipas fazem esta cobertura. O Comitê de
Bacias do Baixo Acaraú tem se reunido para deliberar ações. Pelo menos na
cidade, ainda dá para aguentar até o próximo inverno", garantiu o
secretário.
Fonte: Diário do Nordeste
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