A incerteza sobre a vinda das águas do rio São Francisco para
o Ceará preocupa a cada prazo prorrogado para a entrega da obra — atualmente
prevista para janeiro de 2017. E, conforme o titular da Secretaria dos Recursos
Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, impasses financeiros com o Governo Federal
têm desacelerado o ritmo das intervenções tanto da transposição quanto do
Cinturão das Águas (CAC). A informação foi dada, na tarde de ontem, em reunião
ordinária do Fórum Cearense dos Comitês de Bacias Hidrográficas (FCCBH), onde
representantes dos 12 comitês cobravam agilidade da gestão estadual.
O envolvimento da empreiteira Mendes Júnior na operação Lava
Jato impede a conclusão da obra. Neste caso, o Ministério da Integração teria
de substituir a empresa, mas há dificuldades. “Se for feita licitação
convencional pra substituir, faltando só 10% da obra, ninguém vai ter interesse
em fazer. E essa licitação duraria mais de um ano”, explicou Teixeira.
Em relação ao CAC, conflitos burocráticos entre Ministério da
Integração e Tribunal de Contas da União (TCU) atrasaram repasses de julho e
deste mês, de acordo com o secretário. E o consórcio responsável pela
intervenção — formado pelas empresas PB Construções e Passarelli — só sustenta
as atividades, sem paralisação total, até o fim deste mês.
Se não contar com essas duas ações estruturantes, o Ceará
sente aumentar o risco de colapso em 2017, principalmente diante de previsões
ainda confusas sobre a próxima quadra chuvosa. O coordenador-geral do FCCBH,
Alcides Dutra, é taxativo: “há regiões (como Banabuiú, Curu e Crateús) que não
vão suportar outro ano de seca”.
Sobre a revisão da meta de redução de consumo da tarifa de
contingência em Fortaleza, que vai passar de 10% para 20%, o coordenador não
acredita que funcionará. “Não houve trabalho de conscientização antecipada. Se
tiver água na torneira, o cara vai usar”, reclamou.
Atualmente, os açudes cearenses se mantêm com 10,72% da
capacidade, conforme balanço da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh). De todas as bacias do Estado, as que estão em pior situação são a do
Baixo Jaguaribe (0,23%), a do Curu (2,36%) e a do Banabuiú (2,47%). As melhores
são a do Litoral (38,52%) e a do Coreaú (37,33%). O fórum continua reunido até
o meio-dia de hoje. (Luana Severo)
HÁ REGIÕES (COMO BANABUIÚ, CURU E CRATEÚS) QUE NÃO VÃO
SUPORTAR OUTRO ANO DE SECA”,
O POVO
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