quarta-feira, 3 de agosto de 2016

SÍFILIS CONGÊNITA CRESCE 184% EM UMA DÉCADA NO CE

O boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) registrou, entre os anos de 2007 e 2016, sendo considerado neste último apenas dados parciais, 5.703 casos de sífilis em gestantes - aquele tipo que é passado de mãe para filho durante a gestação. Este total representa o crescimento de 184% dos casos, que passou de um índice de 2,6 para cada mil nascidos vivos, em 2007, para 7,4, em 2016.

Em 2014, 103 dos 184 municípios cearenses, cerca de 56%, apresentaram casos de sífilis congênita. Em 2015, esse percentual aumentou para 62,3% (113 dos 184), e em 2016, até a semana 25 deste ano, 44% (80 dos 184) já notificaram casos da doença em crianças menores de um ano de idade. Somente em 2016, também até a 25ª semana, já foram notificados 379 casos da doença com incidência de 1,8 por cada mil recém-nascidos.

Conforme apontam os dados da Sesa, no geral, de 2007 a 2016 foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 8.692 casos de sífilis congênita no Ceará. E foram notificados 5.703 casos de sífilis em gestantes no período. O número de sífilis congênita aparece sempre superior ao de sífilis em gestante porque, em média,28% dos casos da doença durante a gestação não são notificados no Sinan.

Teste rápido

Esse aumento do número de casos observados se dá justamente por conta de um crescimento na oferta do teste de sífilis para as gestantes, conforme explica a técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Sesa, Telma Martins. Ela ressalta que a Sesa tem implantado cada vez mais o teste rápido nas unidades de saúde, e que hoje mais de 90% dos municípios já oferecem o serviço. "Isso é muito importante para que se possa ter diagnósticos em tempo hábil para realizar o tratamento da gestante e do parceiro", reforçou.

Conforme a técnica, o ideal é que o exame seja feito ainda no primeiro trimestre da gravidez, mas não é o que acontece na realidade. Muitas gestantes deixam para realizar a avaliação nos meses finais da gestação ou até mesmo no momento do parto. As consequências podem vir como o aborto ou sequelas de ordem neurológicas e permanentes. "Pode ser que a criança nasça com a doença, seja tratada e não tenha sequelas, mas o risco é alto", alerta.

Diagnóstico tardio

O boletim informa que entre os anos de 2007 e 2016, observou-se predominância do diagnóstico entre 2º e o 3º trimestre da gravidez em 72,3% dos casos. Em 2015, 47,5% e 52,5% dos diagnósticos ocorreram no 2º e 3º trimestres respectivamente. Em 2016, 50,5% dos diagnósticos ocorreram no 2º trimestre e 40,4% nos últimos três meses.

Os casos de sífilis congênita se apresentam de forma heterogênea no território cearense. Destaque para a região do Sertão Central do Estado, onde a incidência é de 58,8 casos por mil nascidos vivos. Por sua vez, na maioria dos municípios da região da Sertão da Ibiapaba e de Crateús, o índice chega a ser zero, ainda conforme o documento da Sesa.

Telma Martins afirma que a Sesa vem trabalhando em parceria com as secretarias municipais de maneira que a oferta do teste seja feita durante o pré-natal, tanto em unidades de atenção primária como secundária.

Caso haja suspeita de contágio da doença, o Ministério da Saúde recomenda que a primeira testagem para sífilis seja realizada ainda no 1º trimestre da gestação. Sendo realizado o tratamento de maneira precoce, a sífilis congênita poderá ser evitada. Além disso, através do Projeto Cegonha, desde 2011 o Ministério disponibiliza rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada.

FIQUE POR DENTRO

Medicamento em falta ajudou proliferação

Um dos fatores apontados pela Secretaria de Saúde para o crescimento da doença é a falta da penicilina no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil ao longo dos últimos anos. Essa é a única substância capaz de tratar a doença tanto na gestante como no bebê. "Atualmente, já temos a penicilina disponível, mas existe uma resistência por parte dos médicos em aplicar a substância por medo de reações anafiláticas", ressalta Telma Martins. Outro fator é a baixa taxa de tratamento dos parceiros, cerca de apenas 20%, conforme os bancos do sistema da Sesa. Como a sífilis é uma doença infectocontagiosa, sexualmente transmissível, se ela fizer o tratamento e o parceiro não, ela continua exposta à doença

Fonte: Diário do Nordeste

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