O boletim epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde
(Sesa) registrou, entre os anos de 2007 e 2016, sendo considerado neste último
apenas dados parciais, 5.703 casos de sífilis em gestantes - aquele tipo que é
passado de mãe para filho durante a gestação. Este total representa o
crescimento de 184% dos casos, que passou de um índice de 2,6 para cada mil
nascidos vivos, em 2007, para 7,4, em 2016.
Em 2014, 103 dos 184 municípios cearenses, cerca de 56%,
apresentaram casos de sífilis congênita. Em 2015, esse percentual aumentou para
62,3% (113 dos 184), e em 2016, até a semana 25 deste ano, 44% (80 dos 184) já
notificaram casos da doença em crianças menores de um ano de idade. Somente em
2016, também até a 25ª semana, já foram notificados 379 casos da doença com
incidência de 1,8 por cada mil recém-nascidos.
Conforme apontam os dados da Sesa, no geral, de 2007 a 2016
foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
8.692 casos de sífilis congênita no Ceará. E foram notificados 5.703 casos de
sífilis em gestantes no período. O número de sífilis congênita aparece sempre
superior ao de sífilis em gestante porque, em média,28% dos casos da doença
durante a gestação não são notificados no Sinan.
Teste rápido
Esse aumento do número de casos observados se dá justamente
por conta de um crescimento na oferta do teste de sífilis para as gestantes,
conforme explica a técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Sesa,
Telma Martins. Ela ressalta que a Sesa tem implantado cada vez mais o teste
rápido nas unidades de saúde, e que hoje mais de 90% dos municípios já oferecem
o serviço. "Isso é muito importante para que se possa ter diagnósticos em
tempo hábil para realizar o tratamento da gestante e do parceiro",
reforçou.
Conforme a técnica, o ideal é que o exame seja feito ainda no
primeiro trimestre da gravidez, mas não é o que acontece na realidade. Muitas
gestantes deixam para realizar a avaliação nos meses finais da gestação ou até
mesmo no momento do parto. As consequências podem vir como o aborto ou sequelas
de ordem neurológicas e permanentes. "Pode ser que a criança nasça com a
doença, seja tratada e não tenha sequelas, mas o risco é alto", alerta.
Diagnóstico tardio
O boletim informa que entre os anos de 2007 e 2016,
observou-se predominância do diagnóstico entre 2º e o 3º trimestre da gravidez
em 72,3% dos casos. Em 2015, 47,5% e 52,5% dos diagnósticos ocorreram no 2º e
3º trimestres respectivamente. Em 2016, 50,5% dos diagnósticos ocorreram no 2º
trimestre e 40,4% nos últimos três meses.
Os casos de sífilis congênita se apresentam de forma
heterogênea no território cearense. Destaque para a região do Sertão Central do
Estado, onde a incidência é de 58,8 casos por mil nascidos vivos. Por sua vez,
na maioria dos municípios da região da Sertão da Ibiapaba e de Crateús, o
índice chega a ser zero, ainda conforme o documento da Sesa.
Telma Martins afirma que a Sesa vem trabalhando em parceria
com as secretarias municipais de maneira que a oferta do teste seja feita durante
o pré-natal, tanto em unidades de atenção primária como secundária.
Caso haja suspeita de contágio da doença, o Ministério da
Saúde recomenda que a primeira testagem para sífilis seja realizada ainda no 1º
trimestre da gestação. Sendo realizado o tratamento de maneira precoce, a
sífilis congênita poderá ser evitada. Além disso, através do Projeto Cegonha,
desde 2011 o Ministério disponibiliza rede de cuidados para assegurar às
mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada.
FIQUE POR DENTRO
Medicamento em falta ajudou proliferação
Um dos fatores apontados pela Secretaria de Saúde para o
crescimento da doença é a falta da penicilina no Sistema Único de Saúde (SUS)
em todo o Brasil ao longo dos últimos anos. Essa é a única substância capaz de
tratar a doença tanto na gestante como no bebê. "Atualmente, já temos a
penicilina disponível, mas existe uma resistência por parte dos médicos em
aplicar a substância por medo de reações anafiláticas", ressalta Telma
Martins. Outro fator é a baixa taxa de tratamento dos parceiros, cerca de
apenas 20%, conforme os bancos do sistema da Sesa. Como a sífilis é uma doença
infectocontagiosa, sexualmente transmissível, se ela fizer o tratamento e o
parceiro não, ela continua exposta à doença
Fonte: Diário do Nordeste
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