Com 193 casos registrados no Ceará, a leishmaniose visceral,
popularmente conhecida como calazar, foi responsável por 10 óbitos em 2016.
Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), nas primeiras 36 semanas
do ano, a maior incidência ocorreu em Fortaleza, com 48 casos e duas mortes. Os
outros óbitos foram registrados nos municípios de Caucaia, Umirim, Choró,
Independência, Umari, Acopiara, Brejo Santo e Tarrafas, com uma ocorrência
cada.
Em 2014, segundo o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação do Ministério da Saúde (Sinam), foram 466 notificações e 42 mortes
no Estado. O Ceará ficou naquele ano em segundo em número de casos, atrás
apenas do Maranhão (530). Desde 2000, o pior ano para o Ceará foi em 2009,
quando foram constatados 629 casos.
Transmitida ao homem pela picada do mosquito palha
contaminado pela doença ao picar, principalmente, cães, roedores e animais
silvestres, a constatação da leishmaniose visceral pode levar à eutanásia dos
animais. Como forma de controle, o Ministério da Saúde recomenda o sacrifício
obrigatório dos cães positivos no exame sorológico.
Entretanto, os Ministérios da Agricultura e da Saúde já
liberaram o uso do medicamento Milteforan (Virbac) no tratamento dos cães
acometidos pela leishmaniose visceral canina (LVC). A Nota Técnica Conjunta n°
001/2016 foi a que permitiu que o Ministério da Agricultura emitisse a
liberação produto.
"Já sabemos que não adianta matar os cães para combater
a doença. O cão é um dos vetores, é o principal, mas outros animais como
coelhos, gatos e lebres também são", defende o médico veterinário, PhD em
parasitologia e especialista em Leishmaniose, Vitor Márcio Ribeiro, durante o
ciclo de palestras "A liberação do tratamento da Leishmaniose Visceral
Canina, quais os próximos passos?", realizado no último domingo (18) na
Assembleia Legislativa. Entretanto, o especialista reconhece que a eutanásia
acabou sendo uma das poucas opções do poder público para enfrentar a zoonose.
Com a liberação do medicamento, aumentam as chances de o
animal ficar protegido contra a leishmaniose, ajudando no combate à doença e
mantendo o animal soronegativo após a vacinação. Ribeiro reforça que é
importante também focar no combate ao vetor, o mosquito palha.
Alerta
O diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais para
reduzir os índices de mortalidade em humanos, que vêm crescendo e deve se
manter pelos próximos anos. "A leishmaniose visceral mata mais de 7% das
pessoas contaminadas. Dos 3.613 casos novos registrados na América Latina em
2014, 3.453 foram no Brasil, cerca de 96%", explica.
O pesquisador diz ainda que o País tem 1,7 caso por cada 100
mil habitantes, e que 42,6% são em crianças. "Tivemos, em 2014, 2.511
internações, com uma média de permanência de 14 dias. E isso traz um custo
muito alto para o País".
Sintomas
Quando detectado precocemente, o calazar pode ser tratado com
grande chances de recuperação. Alguns dos principais sintomas são febres que
reaparecem constantemente durante semanas, palidez, fraqueza, perda de apetite,
emagrecimento, problemas respiratórios, diarreia e sangramentos. O período de
incubação em humanos varia de dois a seis meses. Em cães, os sintomas são
lesões na pele, emagrecimento, atrofia muscular e hemorragias.
Medicamento
O Grupo de Estudos sobre Leishmaniose Animal (Brasileish)
esteve à frente dos trabalhos para liberação do medicamento no Brasil e após
décadas de discussão, o grupo de pesquisas anunciou no último dia 28 de agosto
que conseguiu a aprovação do Ministério da Saúde e da Agricultura para a
comercialização do Milteforan, que é uma das drogas mais utilizadas na Europa
para o tratamento da leishmaniose em cães.
O remédio foi testado no Hospital Veterinário Mundo Animal,
em Andradina (SP), com resultados eficazes. Poderá, ser Será comercializado a
partir de janeiro de 2017
Fonte: Diário do Nordeste
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