Na casa do mestre de obras Francisco Gomes Moreira, de 63
anos, a frequência com que a roupa é lavada diminuiu. E a água usada na máquina
de lavar é reaproveitada desde que ele levou para casa um grande recipiente de
uma das obras em que trabalhou. “Nosso consumo per capita é muito pouco, e
fazemos o máximo possível de economia”, diz Gomes, que mora com a mulher em
Fortaleza.
A família é uma das que conseguiram se encaixar na meta de
10% de redução de consumo de água, definida pela Companhia de Água e Esgoto do
Ceará (Cagece) no fim do ano passado para enfrentar os efeitos da seca que
atinge o estado há cinco anos. A partir deste domingo (18), porém, a meta vai
dobrar: 20%.
Por causa da situação crítica dos reservatórios que abastecem
Fortaleza e 17 municípios da região metropolitana, a Cagece foi autorizada a
aplicar tarifa de contingência de 20% sobre a média do consumo de água da
população – ou seja, os consumidores podem gastar até 80% dessa média, calculada com base no período de outubro de
2014 a setembro de 2015. Quem passar disso fica sujeito a pagar multa de 120%
sobre as tarifas.
“Na nossa casa, está tudo dentro do padrão, da meta de 10%.
Agora, com 20%, vai complicar um pouco. Vamos esperar chegar a próxima conta
d´água para ver como podemos diminuir ainda mais o consumo”, planeja Gomes. A
região metropolitana de Fortaleza concentra 3,7 milhões dos 8,9 milhões de habitantes
do Ceará.
A nova meta de redução de consumo faz parte do Plano de
Segurança Hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza, lançado em agosto, e
reflete a diminuição do volume de água que chega para a população e para o
comércio e a indústria.
Reservatórios: situação preocupante
A situação do Açude Castanhão, um dos principais
reservatórios de abastecimento da região, é preocupante. Considerado o maior
açude de usos múltiplos do Brasil, o Castanhão está com apenas 6,6% da
capacidade útil, que é de 6,7 bilhões de metros cúbicos (m³). Com o uso, a
falta de chuvas e a evaporação, a cada dia, o volume cai.
Há outas ações em curso para enfrentar os efeitos da seca na
região metropolitana, como o reaproveitamento da água da lavagem dos filtros da
Estação de Tratamento de Água Gavião ETA Gavião) e a perfuração de poços na
região do Porto do Pecém, a cerca de 60 quilômetros de Fortaleza, além de
fiscalizações para evitar a perda de água por vazamentos e ligações
clandestinas.
O objetivo dos órgãos responsáveis pelos recursos hídricos no
estado é evitar o racionamento. “O racionamento seria uma medida extrema, em
que não conseguiríamos ofertar água e a população carente seria a mais afetada.
Estamos nos esforçando para evitar isso”, afirma o superintendente comercial da
Cagece, Agostinho Moreira.
Desde a implantação da tarifa de contingência de 10%, apenas
metade da meta foi alcançada. Em julho e agosto (ainda com dados preliminares),
a redução de consumo de água ficou em 6%. Agora, mesmo com a meta dobrada,
Moreira diz que o dado, antes de ser preocupante, reflete a adesão da população
à medida. “O aumento da tarifa de contingência é uma das ações do Plano de
Segurança Hídrica. As ações se somam e uma ajuda a outra para a redução do
consumo.”
O reúso da água da lavagem dos filtros da ETA Gavião começou
no dia 6 deste mês. Segundo Moreira, o sistema que trata essa água e a faz
retornar para a população fornece cerca de 300 litros por segundo, o suficiente
para abastecer uma cidade com população de 150 mil pessoas.
Fonte: Diário do Nordeste
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