No ano passado, mediante a possibilidade que se concretizou
de mais um ano de chuvas abaixo da média, o governador Camilo Santana declarou
que o Orós era uma reserva estratégica, que poderia ser usada no futuro. Agora
é presente. No passado, em 1993, o então governador Ciro Gomes construiu, em
tempo recorde, o Canal do Trabalhador que captou água do Orós no Rio Jaguaribe
para salvar a população de Fortaleza de um iminente colapso de água.
Treze anos depois, o Ceará enfrenta o mais prolongado ciclo
de seca desde 1910, segundo estudos do meteorologista David Ferran, da Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
As chuvas no Estado desde 2012 estão abaixo da média. Os
reservatórios vêm secando e estão em um ponto crítico. "A situação é
gravíssima", disse, nesta semana, em Iguatu, durante reunião extraordinária
do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe, Gianni Lima, assessor da presidência da
Cogerh.
A decisão de liberar água do Orós em maior quantidade foi definida
em uma reunião ampla de alocação dos vales do Banabuiú, Jaguaribe e
Metropolitana, realizada em julho, em Limoeiro do Norte.
"Já era uma decisão de governo", questiona Paulo
Landim, integrante do Comitê da Bacia do Alto Jaguaribe. "Essa é a
terceira vez Orós libera água para a RMF sem que o governo dê uma compensação
para os produtores (agricultores, piscicultores)", acrescentou.
O temor de Landim e dos produtores rurais é que, em
fevereiro, o volume do Orós caia para 9%, segundo estimativa da Cogerh,
inviabilizando a produção de tilápia e outras atividades. "A água ficará imprópria para o consumo humano,
sem falar nos prejuízos que os produtores vão enfrentar", disse.
Ao mesmo tempo em que libera água para o Castanhão, por meio
de válvula e de dois dutos, o Orós atende a localidade de Nova Floresta
(Jaguaribe) e a cidade de Solonópole, por meio do Açude Pedra Branca. Para a
localidade de Feiticeiro (Jaguaribe) a transferência foi suspensa porque o
açude local atende a demanda até 2018.
A liberação de água do Orós para o Castanhão já deveria ter
sido ampliada de 10 m3/s para 16 m3/s, mas problemas operacionais impedem o
aumento do volume. Os técnicos trabalham no conserto de bombas e de engrenagens
do sistema adutor.
Está em operação a transferência de água do Orós para o Lima
Campos, por galeria e túnel, na localidade de Guassussê, que atende a demanda
de distritos, da cidade de Icó e de centenas de caminhões-pipa que abastecem
cidades da Paraíba.
O assessor da presidência da Cogerh, Gianni Lima, observou
que a água do Orós já chega ao Castanhão e vem mantendo o nível do
reservatório, que permanece liberando água para a RMF. "No início há mais
dificuldades porque o leito do rio seco
retém água", explicou. A Cogerh tenta fiscalizar trechos para impedir que
irrigantes façam barramentos e retirada de água.
Em julho, houve manifestação, em Orós contra o esvaziamento
do reservatório para atender a RMF. "Só se olha o Orós da válvula para
baixo, não se vê as necessidades, o prejuízo que produtores e moradores vão
enfrentar", lamentou Landim. Por sua vez, Gianni Lima disse que o
reservatório não será esvaziado. "Ficará uma quantidade mínima para
atender o abastecimento da cidade". (H.B.)
DIÁRIO DO NORDESTE
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