Impasse entre o comando de greve da Polícia Civil e o Governo
do Estado afasta as expectativas para o fim da paralisação iniciada em
setembro. De um lado, o Executivo diz que não vai abrir negociação enquanto o
movimento continuar, principalmente porque entende que os salários já foram
reajustados com a reestruturação da carreira dos policiais, implementada em
outubro. Do outro, a categoria teme demissões e cobra outras mudanças.
De acordo com Francisco Lucas Oliveira, presidente do
Sindicato dos Policiais Civis do Ceará (Sinpol), o acordo ficou ainda mais
complicado após as críticas do delegado geral, Andrade Júnior. Em áudio vazado
nas redes sociais, ele reiterou a ilegalidade da greve e chegou a usar a
palavra “pilantra” em referência aos paredistas. “Tínhamos acabado de sair de
uma reunião no Ministério Público do Trabalho. Íamos discutir o fim da greve,
quando os policiais souberam do áudio. Foi uma revolta”, disse o líder do
movimento.
Segundo Lucas, a ameaça de demissão dos agentes é um dos
principais entraves para o fim da paralisação. “A gente precisa discutir esse
retorno. Se ninguém senta e negocia, não há avanço”, demarca.
Negociação estacionada
O chefe de gabinete do Governo do Estado, Élcio Batista, é
categórico. “Só aceitamos sentar e voltar a discutir qualquer coisa depois que
pararem esse movimento. Não o reconhecemos”, disse, em visita ao O POVO na
tarde de ontem. Élcio reiterou que o plano de cargos e salários dos policiais
estabelece 20 níveis de ascensão profissional, representando um ganho médio de
25% nos vencimentos dos servidores. A mudança passou a valer em outubro, e os
salários foram readequados ainda este mês.
Os policiais, no entanto, reivindicam que o salário inicial
também receba aumento, o que não ocorreu com o plano. Este ganho, porém,
poderia trazer repercussões nos outros níveis estabelecidos com a
reestruturação.
O Governo disse que estava aberto a manter o diálogo, mas a
greve foi deflagrada mesmo assim. “Eles (líderes do movimento) assinaram ata de
uma reunião reconhecendo que nós discutiríamos outros ganhos. Ainda assim, eles
defenderam a greve”, critica Élcio.
Para o presidente do Sinpol, a paralisação seria uma forma de
pressionar o Governo a determinar outros ganhos. “Eles nos deram sucessivos
prazos para essa discussão. Isso causou insegurança”, justifica Francisco Lucas
Oliveira.
A categoria cobra também melhores condições de trabalho e o
fim dos locais de custódia (xadrezes) nas delegacias. O Governo, por outro
lado, defende que essa pauta poderia ter sido negociada “de maneira
administrativa”, sem necessidade de paralisação. O movimento foi considerado
ilegal pela Justiça desde setembro, com multa diária para cada dirigente e
policial civil que permanecer paralisado.
Greve
Principais reivindicações dos policiais civis:
Reestruturação de nível superior - A categoria pede que os
salários dos policiais sejam maiores que os cargos de nível médio do Estado.
Retirada dos presos das delegacias - Fim dos xadrezes, o que
representaria aumento de inspetores nas ruas, segundo o sindicato.
Condições de trabalho
Denunciam uso de coletes e munições vencidas e estrutura
danificada de delegacias
Saiba mais
Princípio de tumulto
Na noite de ontem, no acampamento dos grevistas da Polícia
Civil, houve um princípio de tumulto depois que cones que bloqueavam a via
foram retirados por policiais da Casa Militar. Conforme a vice-presidente do
Sinpol, Ana Paula Cavalcante, o procurador geral de Justiça, Plácido Rios,
havia cogitado de o Batalhão de Choque intervir para retirar os acampados.
Ela destacou que “os policiais civis todos estão armados e
não vão levar bala de borracha”.
O POVO
Nenhum comentário:
Postar um comentário