Orós. No sítio Aroeira, zona rural deste município, um grupo
de agricultores e de incentivadores da cultura popular de observação sobre
chuvas mantém viva a tradição a cada início de ano. Reunidos sob a sombra de um
pé de cajarana, os participantes do encontro trocam experiências, falam da vida
no sertão, dos anos secos, das dificuldades sem água, mas sempre mantêm a fé de
que "as coisas vão melhorar".
O sertanejo depende da chuva para plantar e para ter água de
beber e matar a sede dos animais. Depois de cinco anos seguidos de chuva abaixo
da média, nessa época do ano, os olhos estão voltados para o céu, para as
plantas e para a natureza. É tempo de observação e de troca de conhecimento
popular entre os agricultores.
No sítio Aroeira, o Encontro dos Guardadores de Experiências
Populares de Chuva e de Sementes no Sertão é realizado sempre no Dia de Reis. A
maioria está conante de que em 2017, o Ceará terá boas chuvas em abril e maio.
A iniciativa é do projeto Sertão Vivo e tem por objetivo manter a tradição, a
memória dos antepassados, que nos meses de dezembro e janeiro costumavam fazer
as previsões acerca do período chuvoso no Ceará, que é conhecido por inverno.
O autor do projeto é o poeta e músico Zé Vicente, que avisa:
"Não é uma reunião de profetas, mas de guardadores de experiências
populares, para manter viva a história, o costume do sertanejo, a preservação
ambiental. Aqui ninguém se preocupa se erra ou acerta".
A opinião do agricultor Antônio Alcântara, 83, é sempre
aguardada com atenção. Ele observa o comportamento do vento Aracati, que sopra do
mar para a terra, penetrando no sertão durante a noite. "Está irregular e
de pouca duração", disse. "Não estou gostando".
Vento Aracati
No ano passado, Alcântara disse que o vento Aracati não havia
falhado um dia. "Disse que choveria mais de 700mm e deu quase 800mm",
recordou. Apesar da elevada pluviometria, as chuvas foram irregulares,
concentradas em dois meses, com veranico, mas encheu pequenos açudes na
localidade, conforme o agricultor previu.
Houve relatos sobre as experiências do dia 13 de dezembro, da
barra do nascimento (formação de nuvens ao nascer do sol, no dia de Natal, e os
observadores esperam a primeira lua cheia de janeiro.
A florada da aroeira, do pau d'arco,
cumaru, do ipê e do gonçalo-alves também é observada. "A floração está boa", disse Nilson Oliveira.
Outros comentam que as experiências estão variadas, umas são
indicadoras de boas chuvas e outras, não. "Estou preocupado, pois já estamos
no quinto ano de chuvas fracas, no Ceará", diz o agricultor Ésio Barros.
Regional - Diário do nordeste Fotos: Zé Vicente (facebook)
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