domingo, 12 de fevereiro de 2017

Aquecimento Globa: Seca em anos seguidos gera alerta sobre futuro Cotidiano

Cotidiano: O possível sexto ano de seca no Ceará pode ser um dos efeitos do aquecimento global. O fenômeno era previsto para 2050, caso o efeito estufa continuasse a aumentar.


O aquecimento global, que já elevou em cerca de 1,5°C a temperatura do Nordeste, tem acendido sinais de alerta. Previsões climatológicas para décadas à frente estão virando realidade hoje. Oscilações pluviométricas, derretimento precoce de gelo no Ártico, anos cada vez mais quentes. A possibilidade de um sexto ano de chuvas abaixo da média no Ceará também antecipa um cenário que só deveria chegar em 2050, quando o semiárido teria cada vez mais anos consecutivos de seca.

“Não tem como dizer que esses seis anos de seca são o futuro que já chegou. O que podemos informar é que, se o planeta continuar a aquecer, esse será sim o novo clima do Nordeste. Eu, como cientista, não afirmo categoricamente, mas (a situação) levanta suspeita”, avalia o climatologista e membro da Academia Brasileira de Ciência, Carlos Nobre. O grupo coordenado por ele, composto por órgãos de climatologia nacionais, prevê que há 40% de chances de que as precipitações no Norte do Nordeste sejam, mais uma vez, abaixo da média histórica. O prognóstico é referente apenas aos três próximos meses. “Não há fenômenos de grande escala que ancorem um padrão de déficit ou excessos de chuvas”, explica.

Volume acumulado de reservatórios cearenses está hoje em 6,1%. Na foto, o açude Castanhão em julho do ano passado Volume acumulado de reservatórios cearenses está hoje em 6,1%. Na foto, o açude Castanhão em julho do ano passado 

A sequência de anos secos no Nordeste chama atenção. É algo inédito. “É possível afirmar que, sim, o aquecimento já está tendo um impacto no Nordeste. Esse 1,5°C aumenta a evaporação nos reservatórios, solos e rios. Um grau aumenta em até 10% a evaporação”, detalha Carlos Nobre. Isso é o que diferencia, por exemplo, o momento atual da seca de cinco anos seguidos registrada em 1915, quando não havia efeito estufa e aquecimento global.

A mudança de vegetação, como o desmatamento da Zona da Mata, da Caatinga, do Cerrado e até da Floresta Amazônica, também influencia na falta de pluviosidade.

Oscilações

Assim como anos sem chover dentro da média histórica, o aquecimento global pode causar episódios de chuvas intensas. “E mesmo no Nordeste, se o aquecimento continuar, serão também registrados momentos de mais chuvas. Regiões semiáridas têm alta variabilidade. Tem anos que chove como um deserto e outros que chove como a Amazônia”, descreve o climatologista.

No Sudeste, essas oscilações foram constatadas nos últimos anos. O cenário não previa seca; ao contrário, apontava condições chuvosas. “E nós tivemos dois anos de seca, 2014 e 2015, que depois foram substituídos por anos chuvosos, 2016 e 2017. Isso é realmente a nova variabilidade que se espera no futuro”, avalia Carlos Nobre.

O especialista alerta ainda para a importância de o Nordeste investir no que ele tem de mais abundante: sol. “É preciso que nós, brasileiros, saibamos nos adequar e aproveitar o que temos”.

Fonte: O Povo


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