Cotidiano: O possível
sexto ano de seca no Ceará pode ser um dos efeitos do aquecimento global. O
fenômeno era previsto para 2050, caso o efeito estufa continuasse a aumentar.
O aquecimento global, que já elevou em cerca de 1,5°C a
temperatura do Nordeste, tem acendido sinais de alerta. Previsões
climatológicas para décadas à frente estão virando realidade hoje. Oscilações
pluviométricas, derretimento precoce de gelo no Ártico, anos cada vez mais
quentes. A possibilidade de um sexto ano de chuvas abaixo da média no Ceará
também antecipa um cenário que só deveria chegar em 2050, quando o semiárido
teria cada vez mais anos consecutivos de seca.
“Não tem como dizer que esses seis anos de seca são o futuro
que já chegou. O que podemos informar é que, se o planeta continuar a aquecer,
esse será sim o novo clima do Nordeste. Eu, como cientista, não afirmo
categoricamente, mas (a situação) levanta suspeita”, avalia o climatologista e
membro da Academia Brasileira de Ciência, Carlos Nobre. O grupo coordenado por
ele, composto por órgãos de climatologia nacionais, prevê que há 40% de chances
de que as precipitações no Norte do Nordeste sejam, mais uma vez, abaixo da
média histórica. O prognóstico é referente apenas aos três próximos meses. “Não
há fenômenos de grande escala que ancorem um padrão de déficit ou excessos de
chuvas”, explica.
Volume acumulado de reservatórios cearenses está hoje em
6,1%. Na foto, o açude Castanhão em julho do ano passado Volume acumulado de reservatórios cearenses está hoje em
6,1%. Na foto, o açude Castanhão em julho do ano passado
A sequência de anos secos no Nordeste chama atenção. É algo
inédito. “É possível afirmar que, sim, o aquecimento já está tendo um impacto
no Nordeste. Esse 1,5°C aumenta a evaporação nos reservatórios, solos e rios.
Um grau aumenta em até 10% a evaporação”, detalha Carlos Nobre. Isso é o que
diferencia, por exemplo, o momento atual da seca de cinco anos seguidos
registrada em 1915, quando não havia efeito estufa e aquecimento global.
A mudança de vegetação, como o desmatamento da Zona da Mata,
da Caatinga, do Cerrado e até da Floresta Amazônica, também influencia na falta
de pluviosidade.
Oscilações
Assim como anos sem chover dentro da média histórica, o
aquecimento global pode causar episódios de chuvas intensas. “E mesmo no
Nordeste, se o aquecimento continuar, serão também registrados momentos de mais
chuvas. Regiões semiáridas têm alta variabilidade. Tem anos que chove como um
deserto e outros que chove como a Amazônia”, descreve o climatologista.
No Sudeste, essas oscilações foram constatadas nos últimos
anos. O cenário não previa seca; ao contrário, apontava condições chuvosas. “E
nós tivemos dois anos de seca, 2014 e 2015, que depois foram substituídos por
anos chuvosos, 2016 e 2017. Isso é realmente a nova variabilidade que se espera
no futuro”, avalia Carlos Nobre.
O especialista alerta ainda para a importância de o Nordeste
investir no que ele tem de mais abundante: sol. “É preciso que nós,
brasileiros, saibamos nos adequar e aproveitar o que temos”.
Fonte: O Povo
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